Por que o PSG gastou R$ 300 milhões em Désiré Doué como parte da reconstrução pós-Kylian Mbappé

Doué cresceu em Angers, em uma família ligada ao futebol. Seus primos Yann Ghobo e Marc-Olivier Doué jogam no Toulouse e no CD Eldense, e seu irmão Guela também joga no Rennes.

Foi através de Guela que Désiré teve sua grande chance. Durante testes, ele chamou a atenção do clube. "O mais velho já estava certo, e os pais nos contaram que o mais novo era três anos mais jovem. Isso não foi problema, e ele se juntou a nós assim que pôde", lembrou Matthieu Le Scornet, treinador das categorias de base do Rennes.

Doué mostrou tanto talento que o Rennes quebrou sua regra de não contratar jogadores com menos de nove anos. "Ele sempre tinha a bola nos pés e já se destacava nas habilidades motoras," comentou seu treinador Florent Bourcie.

Após mostrar grande potencial, Doué subiu rapidamente nas categorias de base do Rennes e começou a treinar com o time principal em janeiro de 2022. No entanto, ganhou destaque na Euro Sub-17 daquele ano.

Como parte da França campeã, Doué marcou o primeiro gol do país na competição com um pênalti contra a Polônia e, logo depois, fez outro gol com uma cobrança de falta precisa, ajudando a equipe a vencer por 6 a 1.

Doué foi titular em quase todos os jogos até a final, onde a França venceu a Holanda por 2 a 1. Após a vitória, ele disse: "Ouvir o apito final e saber que somos campeões da Europa é incrível. Toda a pressão desaparece e é só alegria."

O treinador da seleção, José Alcocer, elogiou Doué: "Désiré lê o jogo bem, é calmo e tem uma personalidade forte. Ele busca conselhos para melhorar e tem uma mentalidade profissional."

Com o torneio aumentando sua visibilidade, o técnico do Rennes, Bruno Genesio, decidiu promover Doué ao time principal. Na primeira partida da temporada 2022/23 da Ligue 1, o Campeonato Francês, o jovem de 17 anos entrou como substituto na metade do segundo tempo.

Pouco depois, teve sua primeira titularidade em uma derrota por 2 a 1 para o Lens, mas se destacou ao marcar seu primeiro gol profissional na semana seguinte, em uma vitória sobre o Brest. Na sua temporada de estreia, fez 34 partidas em sete posições diferentes e marcou quatro gols.

Na temporada passada, Doué se firmou como titular no ataque pela esquerda, embora também jogasse em outras funções quando necessário. Fez mais de 40 partidas, com quatro gols e seis assistências.

Doué também ajudou a França a conquistar a medalha de prata nas Olimpíadas, marcando em sua única partida entre os 11 iniciais, uma vitória por 3 a 0 sobre a Nova Zelândia na fase de grupos.

Pode parecer exagero, mas é só assistir a vídeos de Doué em ação que dá para notar sua impressionante habilidade para driblar. Ele passa pelos defensores da liga francesa com facilidade e tem um controle incrível da bola. Na última temporada, teve uma média de 3,54 dribles concluidos a cada 90 minutos. Mais do que Mbappé!

Doué também é ótimo em manter a posse da bola e criar oportunidades de gol. Ele fez uma média de 4,87 ações que levam a chutes ao gol a cada 90 minutos, superando Mbappé, Phil Foden, Eberechi Eze e Rafael Leão.

Além disso, Doué se destaca no um contra um e é excelente em passes precisos. Sem a bola, ele tem muita energia, algo essencial para um atacante de alto nível.

Doué ainda está se desenvolvendo, então é preciso analisar com cautela o seu jogo. Porém, é difícil não se sentir um pouco decepcionado com seu desempenho em relação a gols até agora. Ele marcou apenas quatro na Ligue 1 na última temporada, provavelmente porque não é um jogador que arrisca muito.

A média de menos de dois chutes a cada 90 minutos indica a necessidade de ter mais confiança na hora de finalizar. Doué tem bom chute e já marcou gols de longa distância com ambos os pés, mas precisa aumentar sua produtividade para mostrar todo o seu potencial.

Fisicamente, Doué tem limitações. O jovem não é muito rápido para ir de uma área a outra, embora sua habilidade de driblar o ajude a compensar isso.

Ser comparado a Zinedine Zidane é um grande elogio, especialmente para um francês. Embora Doué ainda tenha um longo caminho para ser colocado na mesma prateleira do maior craque da França, as semelhanças entre eles são promissoras.

Assim como Zidane, Doué joga com elegância marcante e é habilidoso com ambos os pés, o que lembra a forma como Zizou atuava no auge.

Alguns também comparam Doué a um jovem Wayne Rooney. Tem explicação. A criatividade, a força de vontade e a ousadia de Doué lembram Rooney. No entanto, ele ainda não é tão letal na frente do gol como o inglês foi em seus anos áureos.

Era esperado que, com o interesse de grandes clubes europeus, Doué deixasse o Rennes. A transferência para o PSG oferece a chance de ganhar troféus e jogar na Champions League, mas também traz uma preocupação: ele precisa de minutos em campo.

A saída de Mbappé abre uma vaga no ataque, mas a competição continua forte. Na vitória de 4 a 1 na estreia contra o Le Havre, Luis Enrique escalou Kang-in Lee, Gonçalo Ramos e o jovem Ibrahim Mbaye no ataque. Outros jogadores como Ousmane Dembélé, Bradley Barcola e Randal Kolo Muani, que começaram no banco, tornam o caminho para o time titular mais penoso.

No entanto, sua versatilidade permite que ele jogue no meio-campo, o que deve garantir minutos necessários para se desenvolver em sua primeira temporada em Paris. Com seu talento promissor, é difícil imaginar que ele fique no banco por muito tempo.