Phil Foden mostrou que está com "fome", e Pep Guardiola precisa usar o Mundial de Clubes para fazer seu astro voltar a brilhar

Uma temporada que já era para ser esquecida ficou ainda pior quando Foden sofreu uma lesão no tornozelo durante o clássico contra o Manchester United e teve que ouvir cantos ofensivos sobre sua mãe enquanto deixava o campo com uma expressão sombria. Ele ficou afastado por três semanas, mas mais tarde admitiu que retornou antes do tempo ideal. Nos jogos restantes do City, teve participações limitadas: foi titular apenas uma vez e entrou nos minutos finais das semifinais e da final da Copa da Inglaterra.

Após não ser utilizado na última partida em casa da temporada, contra o Bournemouth, Foden tomou a rara iniciativa de conversar com a imprensa. Disse aos repórteres que pediria para não ser convocado para os compromissos de junho da seleção inglesa. Também compartilhou: "Tive muitas coisas acontecendo fora de campo, mentalmente. Às vezes, há coisas na vida que são maiores do que o futebol. Nesta temporada, passei por dificuldades. Se estivesse tudo bem, eu certamente teria jogado melhor. Espero que no próximo ano eu consiga organizar minha mente, voltar ao nível da temporada anterior, porque sei do que sou capaz e da qualidade que tenho."

É sempre arriscado tirar grandes conclusões a partir de um jogo de Mundial de Clubes contra uma equipe de outro continente, mas, em sua primeira partida após cinco semanas e meia, disputada na Filadélfia, Foden parecia renovado. Mostrou sinais claros de que o descanso e o afastamento após a pior temporada de sua, até então, brilhante carreira haviam surtido efeito. Ele próprio confirmou essa sensação: "Tive um tempo para descansar. Nova temporada, eu renovado", disse aos repórteres após o jogo.

Se a melhor temporada de Foden foi impulsionada por ter um papel reduzido no ano anterior, talvez não seja surpreendente que tenha havido uma queda depois. Foden não esteve diretamente envolvido no centro da campanha do City para conquistar a tríplice coroa em 2023, após sofrer uma lesão e enfrentar uma apendicite na reta final da temporada.

A lesão de Kevin De Bruyne no início da final da Champions League fez com que Foden jogasse a maior parte daquele jogo histórico em Istambul e, assim, ainda se sentisse parte daquela conquista marcante. No entanto, ele não jogou nem de perto tantos minutos quanto a maioria de seus companheiros. Por isso, não sofreu com o desgaste físico que afetou outros jogadores do time, especialmente Jack Grealish e John Stones. Ele também se beneficiou do fato de não haver torneios de seleções ou de clubes no meio do ano seguinte.

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Foden teve a melhor temporada de sua carreira, mas pagou um preço alto por isso. Em 2023/24, disputou 53 partidas pelo Manchester City, além de ter atuado em todos os sete jogos da Inglaterra na Euro 2024. Ao todo, foram 5.000 minutos de futebol, a grande maioria em partidas de altíssimo nível e com enorme pressão envolvida. Não é de se admirar que ele tenha terminado exausto. Ele mesmo explicou: “Hoje em dia, não são muitos os jogadores que têm tempo de folga, então isso é muito importante. Tive dificuldade para desligar completamente. Apenas descansei com a família, fiz minhas próprias coisas. Eu precisava disso."

E depois de finalmente ter o tempo de descanso que tanto precisava e dar um passo rumo à sua melhor forma, Foden mandou um recado aos adversários do Manchester City no Mundial de Clubes e aos rivais da Premier League antes da próxima temporada: “A fome dentro de mim voltou e quero provar que estão errados sobre mim.”

Guardiola ficou satisfeito ao ver sinais de que Foden está voltando ao seu melhor nível, e afirmou com convicção: “Ele será importante. Claro que será.” O treinador havia demonstrado preocupação com o estado mental e o desempenho do jogador na última temporada. E, após Foden ter revelado publicamente suas dificuldades emocionais no fim da campanha, Guardiola comentou: “Ele é um menino, menino, menino da base, que se tornou uma das estrelas do nosso time, e tudo o que eu quero — tudo o que nós queremos — é ajudá-lo."

“Isso é o mais importante. Ele precisa de descanso, e isso vai acontecer agora, depois de domingo. Aos poucos, ele vai voltar. É isso que queremos. Eu só quero, quero, quero ajudá-lo. É isso que queremos para ele. Não me importo com seu desempenho em campo, quero que ele se sinta bem. Sentindo-se bem, o resto virá naturalmente.”

O descanso, porém, não é o único fator para que Foden retome sua melhor versão. Ele precisa de um papel claro em um time que está em transição, com a chegada de dois novos nomes no meio-campo e ataque: Cherki e Reijnders. Contra o Wydad, Guardiola escalou uma formação extremamente ofensiva que, na prática, funcionou como um 2-3-5.

Foden se encontrou em um ataque congestionado, disputando espaço com Reijnders, Cherki e Marmoush. Isso fez com que, sem a bola, ele recuasse frequentemente para atuar como volante ao lado de Reijnders. O jogador foi diplomático ao comentar sua posição em campo, mas deixou claro que não gostaria de atuar assim com frequência.

Ele explicou: “É diferente do que estou acostumado. Obviamente, quando eles tinham a bola, eu jogava como um volante em uma dupla. Então, é algo que não é natural para mim, mas gostei da experiência. Quero estar no meio o máximo possível. Talvez não tão recuado, mas um pouco mais avançado. Contanto que eu esteja centralizado, me sinto eu mesmo e confortável.”

Foden provavelmente não precisará mais atuar tão recuado quando Rodri estiver apto para voltar à titularidade de forma regular. Com o espanhol devendo formar dupla com Reijnders, Foden deverá assumir sua posição ideal: mais adiantado, como um meia ofensivo. Há um caminho natural para ele nesse papel — como herdeiro de De Bruyne na função de camisa 10.

Vale lembrar que De Bruyne ficou fora de metade da temporada 2023/24, e Foden assumiu a responsabilidade criativa do time com autoridade. Além de marcar vários gols, também passou a comandar o ritmo do jogo. Uma de suas melhores atuações foi contra o Newcastle — uma partida em que não balançou as redes, mas dominou completamente o jogo. Ele ainda se movimentava para as pontas, mas principalmente para cortar para dentro com o pé esquerdo e buscar o chute em direção ao canto oposto.

Cherki atuou como camisa 10 contra o Wydad, mas sua estreia esteve longe de ser um sonho. A tendência do francês de arriscar jogadas de efeito levou à perda da posse de bola em algumas ocasiões e quase custou caro quando um passe errado permitiu ao adversário arriscar um chute do meio de campo. É claro que se trata apenas de um jogo, mas seu estilo imprevisível pode tornar a posição de armador central arriscada demais para ele.

Felizmente, Cherki se sente muito à vontade jogando pelas pontas e pode disputar com Savinho a vaga de ponta-direita — o que abriria espaço para Foden assumir a função de camisa 10, jogando atrás de Erling Haaland ou Marmoush.

Essa configuração permitiria ao jogador que Guardiola certa vez colocou acima de Lionel Messi como o talento mais puro que já treinou voltar a se aproximar do nível que atingiu há duas temporadas.

Embora Foden tenha incorporado outros aspectos ao seu futebol, ele é, acima de tudo, mais perigoso quando se sente confiante para atacar. Como ele mesmo explicou: “Estou trabalhando em pontos que posso melhorar, mas fico feliz em voltar a marcar gols e criar chances também. É isso que quero fazer.”

No ano passado, ele teve dificuldades para desempenhar esse papel devido ao Manchester City estar bastante desorganizado sem Rodri e com falta de energia em todas as áreas do campo. Com o retorno do espanhol e a intensidade extra trazida por Reijnders, Foden deve conseguir brilhar novamente.

Se Guardiola conseguir explorar os pontos fortes de Foden e garantir que ele se sinta bem dentro e fora de campo, será como se o clube tivesse feito uma contratação nova — aquele garoto incrivelmente talentoso que o treinador avistou ao chegar e soube que poderia desenvolver até transformá-lo em um dos melhores jogadores do mundo.