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Pep Guardiola precisa ser tão duro com Ilkay Gundogan quanto foi com Kevin de Bruyne no Manchester City

A escolha mais fácil que um treinador pode fazer é decidir dispensar um jogador do qual ele não gosta - e Pep Guardiola já fez isso em várias ocasiões. Houve jogadores que ele rapidamente percebeu que não eram bons o suficiente para o seu time, como Kalvin Phillips e Ferrán Torres, que duraram menos de 18 meses no Manchester City. Houve também jogadores cujo talento e qualidade eram inquestionáveis, mas com comportamento aquém do esperado, como Zlatan Ibrahimovic, quando o catalão ainda treinava o Barcelona, ou João Cancelo, já no City.

A coisa mais difícil para um treinador é saber quando largar mão de um ídolo. Sir Alex Ferguson, por exemplo, sempre foi um mestre nisso.

"Eu tinha que me lembrar de que era o treinador do Manchester United, não o pai deles, e eu tinha que ir e dizer a eles que eles iam embora," afirmou Ferguson, no World Business Forum, em 2016. "Algumas pessoas podem dizer que é muita impiedade, mas é sobre ser leal ao clube. Eu sou o treinador deles, empregado por eles, e cabe a mim garantir que o Manchester United continue sendo o melhor time".

Guardiola já é menos habilidoso nisso, tanto que até admitiu que essa 'fraqueza' é um dos motivos pela temporada abaixo do esperado do City em 2024/25. O treinador revelou em janeiro que ele optou por não reforçar seu elenco no último meio de ano por lealdade aos jogadores principais que haviam conquistado um histórico tetracampeonato da Premier League. O tiro, claro, eventualmente saiu pela culatra, principalmente pela crise de lesões que afetou a equipe.

"No meio do ano, o clube pensou nisso e eu disse 'não, eu não quero fazer contratações," ele contou. "Confiei muito nesses caras e pensei que poderia fazer de novo. Mas depois das lesões – uau - talvez devêssemos ter feito [novas contratações]".

Guardiola mostrou seu lado 'implacável' quando disse a Kevin De Bruyne que não queria que ele permanecesse no clube após o final de seu contrato. E agora ele tem uma decisão semelhante a tomar com outro ícone do clube que já passou do seu auge: Ilkay Gundogan.

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  • Ilkay Gundogan Man City 2024-25Getty

    Renovação de contrato constrangedora

    De Bruyne foi o grande destaque da vitória de virada do Manchester City sobre o Crystal Palace, por 5 a 2. Depois de uma atuação apagada contra o Manchester United — a primeira após anunciar sua saída do clube —, o belga brilhou novamente e recebeu elogios de Guardiola. Outro que também se destacou foi Gundogan, que também foi elogiado pelo catalão, e, acima de tudo, teve sua renovação de contrato automática confirmada, já que alcançou o número de minutos exigido em contrato para acionar a cláusula de extensão por mais um ano.

    No entanto, mais um ano de Gundogan complica os planos de Guardiola para a próxima temporada. No caso de De Bruyne, o fim de contrato facilitava a tomada de decisão. Com o alemão, contudo, a situação é diferente. Ele voltou ao City no início do ano, um ano após sair para o Barcelona, e agora tem nas mãos o poder de decidir se fica até 2026.

    Quando o City o recontratou, o negócio foi visto como uma oportunidade de mercado, uma possibilidade de contar com um dos pilares do time que conquistou a tríplice coroa. Mas, agora, o cenário mudou: Gundogan já não é aquele jogador.

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  • Ilkay Gundogan Pep GuardiolaGetty

    Não é mais o mesmo

    Gundogan participou de 43 dos 48 jogos do City na temporada, em todas as competições, e é o sétimo jogador com mais minutos em campo na Premier League e o décimo na Champions League. Muito mais do que o clube esperava quando o contratou de volta, principalmente por conta da sequência de lesões que afetou o elenco. Em vários momentos, ele teve que atuar como primeiro volante — função que nunca foi sua especialidade nem mesmo nos tempos áureos, muito menos agora, aos 34 anos.

    O veterano sofreu bastante nesta temporada e foi um dos piores em campo durante a fase mais crítica da equipe, entre novembro e dezembro, quando o City perdeu nove de 12 partidas e venceu apenas uma. Gundogan foi titular em quase todos esses jogos e teve dificuldades claras para acompanhar o ritmo. Guardiola, inclusive, reconheceu indiretamente que estava vendo pouco do "Gundogan de alto nível" à época, citando como seus melhores jogos apenas duelos contra equipes fora do Big Six:

    "O Gundo contra o Leicester, o Gundo contra o Bournemouth, o Gundo contra o [Crystal Palace] — esse é o Gundo que eu lembro", disse Pep. "Na tríplice coroa, ele foi essencial. A movimentação, o senso de espaço, a leitura defensiva, as chegadas na área... O Gundo sempre foi muito importante. Mas, como time, não conseguimos ajudá-lo. Não é culpa de um ou outro. Todo mundo caiu de produção. Quando o time vai mal, é difícil alguém se destacar. E no futebol moderno, se o coletivo não funciona, o individual também não aparece".

  • Ilkay Gundogan John StonesGetty

    Procura-se: jogadores confiáveis

    Guardiola pode até não ter culpado Gundogan diretamente pela queda de rendimento do City, mas também não fez questão de colocá-lo como parte da solução. E foi justamente por isso que o técnico catalão lançou dúvidas sobre o futuro do alemão, mesmo confirmando a renovação automática de contrato: “Ele tem mais um ano de contrato, com certeza. O que vai acontecer no meio do ano eu não sei, mas agora ele tem mais um ano".

    Na resposta seguinte, embora não tenha citado o alemão, Guardiola deu a entender que, do ponto de vista do clube, talvez seja melhor que o camisa 19 não permaneça. Questionado se o City precisava contratar um lateral-esquerdo, o treinador aproveitou para 'cutucar' jogadores que têm convivido com lesões recorrentes nesta temporada, como Nathan Aké e John Stones.

    “O mais importante, na minha visão, como eu disse ao clube, é: quais jogadores são confiáveis para o futuro?”, disse. “Você não pode render se não for confiável e estiver sempre machucado. Os jogadores que temos precisam estar aptos para jogar a cada três dias — ou então não servem. Precisamos montar um elenco pensando nisso para a próxima temporada".

  • Ilkay Gundogan Manchester City 2022-23Getty

    Mostrando serviço quando necessário

    Gundogan não pode ser criticado por um histórico de lesões — na verdade, tem sido um dos poucos jogadores do elenco do City a mostrar consistência física. No entanto, está claro que ele já não consegue acompanhar o ritmo acelerado da Premier League atual e não pode mais ser utilizado duas vezes por semana na próxima temporada, especialmente se considerar o fato de que fará 35 anos em outubro.

    O City, desde que começou a receber o investimento de Abu Dhabi, não está acostumado a passar pelo que passou nesta temporada — e o mesmo vale para Guardiola. Nem o clube nem o treinador aceitarão algo parecido na próxima temporada, e é bem provável que a reformulação do elenco, que já começou em janeiro com quatro contratações, se intensifique no meio do ano. Nesse contexto, fica difícil imaginar Gundogan se encaixando no perfil que o clube busca.

    É verdade que a contribuição do alemão para os sucessos do City na última década talvez não tenha atingido o mesmo nível simbólico que a de De Bruyne, mas ele também brilhou nos momentos decisivos. Vale lembrar que foi o artilheiro do time em 2020/21 e que, na última rodada da temporada seguinte, foi ele quem salvou o título, marcando dois gols em sequência naquela marcante vitória de virada por 3 a 2 contra o Aston Villa

  • Ilkay GundoganGetty

    0 (zero) gols

    Gundogan ainda teve outros momentos decisivos na campanha da tríplice coroa, marcando duas vezes contra Everton e Leeds United na reta final da Premier League e, depois, anotando mais dois gols na final da Copa da Inglaterra, diante do Manchester United. Quando retornou ao City, trazia no currículo 29 gol nas três temporadas anteriores de do Inglês — mas, nesta temporada, ainda não balançou as redes no campeonato. Foram apenas quatro assistências, ademais.

    Na verdade, alguns dos momentos mais marcantes de Gundogan nesta temporada vieram fora das quatro linhas, em entrevistas pós-jogo nas quais ele foi muito sincero. Após a derrota para a Juventus na Champions League, ele criticou os companheiros por "complicar demais" e serem "descuidosos nos duelos". Guardiola não pareceu nada satisfeito com as falas, na coletiva pós-jogo.

    O alemão também fez críticas após o empate em casa contra o Brighton, em março, dizendo que o time havia perdido a confiança. Em tempos em que jogadores são treinados para não dizer nada, as falas de Gundogan foram um sopro de honestidade — mas nem sempre isso contribui dentro do vestiário. Isso também ocorreu no Barcelona, no ano passado, quando ele expôs Ronald Araújo após a eliminação para o PSG na Champions.

  • Pep GuardiolaGetty

    Conversa dura

    Gundogan voltou a falar com franqueza em entrevista à ESPN na semana passada, dizendo que o City estava obcecado demais com a parte tática e demonstrando pouca vontade no gramado: “Falta determinação, vontade, agressividade. Coisas simples que fazem parte do jogo, mas que às vezes você esquece porque está pensando demais em posicionamento, por exemplo. E aí deixa de lado o que deveria ser o básico".

    A ironia é que o próprio Gundogan tem sido o reflexo dessa falta de agressividade — não por fugir de divididas, mas porque a idade já, naturalmente, começa a pesar. Ele foi um jogador exemplar e um profissional irrepreensível. Por isso mesmo Guardiola insistiu para que renovassem com ele antes de sua saída para o Barcelona, e por isso também não hesitou em trazê-lo de volta um ano depois.

    Mas o técnico já percebeu que, por mais que a a técnica permaneça, o vigor físico não. Assim como entendeu que era hora de se despedir de De Bruyne, Guardiola talvez precise deixar aflorar, mais uma vez, seu lado mais “Ferguson” e ter aquela conversa dura com Gundogan...