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Club World Cup overviewGetty Images

Patrocinadores? Direitos de transmissão? Jogadores descontentes? A um ano de começar, Super Mundial de Clubes de 2025 é cheio de dúvidas

A nova edição do Super Mundial de Clubes está apenas a poucos meses de distância, mas ninguém parece saber exatamente como acontecerá. O torneio anual da Fifa, que reúne os melhores clubes do mundo, foi reformulado, expandido e renovado, mas, até o momento, há mais perguntas do que respostas.

Os estádios nos Estados Unidos, que sediarão o evento, foram anunciados no sábado, em um evento em Nova York. No entanto, além disso, a entidade tem enfrentado dificuldades para garantir um acordo de direitos de transmissão e patrocínio para este torneio de cara nova, que tem sido uma prioridade para a organização.

Enquanto preocupações dos jogadores sobre o bem-estar e o número excessivo de jogos vão de encontro ao inevitável interesse que os maiores clubes do mundo atraem em um continente onde o futebol continua a crescer, esse evento de destaque já enfrenta um futuro incerto, mesmo faltando bastante tempo para o apito inicial.

  • fifa club world cup trophyGOAL

    Como funciona o novo torneio

    Embora a Fifa detenha os direitos do maior torneio de futebol do mundo, a Copa do Mundo, existe um certo ressentimento nos escritórios da Suíça em relação ao sucesso da Champions League, organizada pela Uefa, que supera o Mundial de Clubes da Fifa em termos de popularidade.

    O interesse no Mundial de Clubes diminuiu consideravelmente na última década, especialmente entre os torcedores europeus, que mostram pouco entusiasmo, mesmo quando seus próprios clubes estão envolvidos. O calendário do torneio – geralmente em dezembro – faz com que ele seja ofuscado pelos campeonatos nacionais, e os torcedores dos clubes europeus tendem a viajar em menor número do que seus equivalentes da América do Sul, Ásia e outras regiões.

    Diante disso, foi elaborado um novo formato para o Mundial de Clubes. Em vez da competição de sete equipes, um tanto confusa, que vinha ocorrendo nos últimos anos, o novo formato conta com 32 times divididos em oito grupos de quatro, algo muito mais familiar para os fãs ao redor do mundo. Assim como a Copa do Mundo, o torneio ocorrerá a cada quatro anos e incluirá os campeões continentais desse período. Além disso, será realizado no verão europeu, evitando competir por atenção com os campeonatos domésticos.

    Entre os participantes de 2025, 12 equipes serão da Europa, com Real Madrid e Manchester City – além de estrelas globais como Kylian Mbappé e Erling Haaland – sendo os grandes destaques. Chelsea, Bayern de Munique, Barcelona e Paris Saint-Germain também estarão presentes. No país anfitrião, os torcedores poderão apoiar o Seattle Sounders, e é provável que Lionel Messi e o Inter Miami sejam incluídos. Não faltarão fãs para os times do Camepeonato Mexicano, como Monterrey, León e Pachuca, e também haverá grande interesse em ver como o Al Hilal, campeão da Saudi Pro League, se sairá contra a elite mundial.

    O ex-técnico do Arsenal, Arsène Wenger, que atualmente ocupa um cargo na Fifa, talvez tenha resumido da melhor forma o objetivo do torneio: "Na Europa, somos privilegiados", disse ele no ano passado. "Mas é importante globalizarmos o futebol de verdade, e isso cria uma oportunidade para outros clubes progredirem. Esse é o verdadeiro objetivo."

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  • Real Sociedad v Real Madrid CF  - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    'Clubes vão recusar convite'

    Dentro de campo, talvez a maior incógnita em torno do torneio seja se os maiores clubes da Europa levarão suas equipes completas para os Estados Unidos, já que estarão saindo de uma temporada com mais jogos europeus do que nunca, e muitos jogadores terão participado de competições internacionais no verão anterior.

    O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, expressou dúvidas sobre o quanto os 15 vezes campeões europeus levariam a sério o torneio quando questionado durante o verão. Ele afirmou ao Il Giornale: "A Fida se esquece de que jogadores e times não participarão do novo Mundial de Clubes. Uma única partida do Real Madrid vale €20 milhões de euros, e a Fifa quer nos dar essa quantia pelo torneio inteiro. Negativo. Assim como nós, outros clubes recusarão o convite."

    O Real Madrid rapidamente desmentiu os comentários de Ancelotti e confirmou que participará do torneio, mas a admissão do técnico italiano deixou claro o descontentamento dos melhores treinadores e jogadores do mundo com um calendário que está sendo ainda mais sobrecarregado por este novo formato do Mundial de Clubes.

  • Manchester City FC v Arsenal FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Preocupações com o bem-estar dos jogadores

    Em uma cruel ironia, Rodri se tornou porta-voz dos jogadores ao redor do mundo na luta contra o atual calendário apertado, apenas para sofrer uma ruptura de ligamento cruzado anterior (LCA) poucos dias depois, encerrando sua temporada. O craque do Manchester City, campeão da Euro 2024 pela Espanha, chegou a especular que os jogadores poderiam até fazer greve devido ao excesso de jogos, o que não é um bom sinal para um Mundial de Clubes que continua sendo uma prioridade inferior em relação às competições de ligas e torneios continentais.

    "Eu acho que estamos próximos disso [uma greve de jogadores], é fácil de entender", disse Rodri em uma coletiva de imprensa. "Acho que é algo geral. Se você perguntar a qualquer jogador, ele dirá o mesmo. Não é a opinião do Rodri, ou algo assim. É a opinião geral dos jogadores. E, se continuar desse jeito, vai chegar um momento em que não teremos outra opção, acredito de verdade. Vamos ver. Não sei o que vai acontecer, mas isso nos preocupa porque somos nós que sofremos."

    Ele e outros jogadores que compartilham desse sentimento têm um ponto válido. Esta será a temporada mais agitada já registrada para aqueles que jogam no Mundial de Clubes. Se o Manchester City chegar à final da Liga dos Campeões, das competições domésticas e do Mundial de Clubes – algo completamente possível – a equipe pode jogar mais de 80 partidas.

    Embora a rotação de elenco exista, Rodri admitiu que "40-50" jogos é provavelmente o número ideal para que um profissional mantenha um alto nível de desempenho ao longo de toda a temporada.

    Esse não é apenas um problema europeu. A MLS, com a adição da expandida Leagues Cup em 2023, também está vendo seu calendário ficar mais lotado. Enquanto isso, competições adicionais na América do Sul também aumentaram a demanda sobre os jogadores.

    Os sindicatos de jogadores também já se manifestaram. As federações de futebol da Inglaterra, França e Itália apresentaram uma queixa conjunta contra a Fifa, expressando suas preocupações sobre a exaustão dos jogadores. Enquanto isso, o sindicato global dos jogadores, a FIFPro, está ameaçando tomar medidas legais.

  • Infantino Copa America drawGetty

    Direitos de TV permanecem não vendidos

    Fora de campo, as preocupações são ainda maiores do ponto de vista da Fifa. A entidade que governa o futebol mundial vem tentando, há meses, garantir um acordo global de direitos de transmissão para o torneio, mas até agora não conseguiu chegar a um acordo que atendesse suas expectativas financeiras. A Apple teria oferecido US$ 1 bilhão de dólares por um contrato global de direitos, mas esse valor ficou muito abaixo dos US$ 4 bilhões de dólares que a Fifa estava buscando.

    Em 19 de setembro, o presidente daentidade, Gianni Infantino, que até então teria evitado se envolver diretamente nas negociações, foi obrigado a convocar uma série de pessoas influentes dos mundos do futebol e da mídia para tentar fechar um acordo. No entanto, mais de uma semana depois, nenhum acordo foi anunciado, e não há informações oficiais sobre o andamento das negociações ou a proximidade de um acerto para os direitos de transmissão e streaming.

    As preocupações vão além das avaliações financeiras. Segundo o The Athletic, os canais europeus têm hesitado devido a uma sobreposição de calendário com Wimbledon e a Euro Feminino. Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais nebulosa. Foi relatado que "uma grande empresa de mídia americana com um portfólio significativo de esportes estava tão descrente no valor da competição que estimou os direitos para a América do Norte em cerca de US$ 30 milhões de dólares."

    Os direitos de transmissão e streaming no futebol costumam ser distribuídos entre vários provedores globalmente – por exemplo, a Premier League vendeu seus direitos para 40 veículos de mídia em 97 países diferentes entre 2022 e 2025. Por outro lado, a Apple comprometeu-se a pagar um mínimo de US$ 2,5 bilhões de dólares por 10 anos pelos direitos globais da MLS.

    De qualquer forma, parece que a receita que a entidade esperava obter com os direitos de transmissão pode não ser tão significativa quanto o previsto.

  • Infantino Benzema FIFA Club World CupGetty

    Problemas de patrocínio a resolver

    E ainda há a questão dos patrocínios, que estão intrinsecamente ligados aos acordos de transmissão e streaming. Parte do problema, segundo vários relatos, é a falta de clareza sobre os locais das partidas — em alguns casos, potenciais patrocinadores teriam mais facilidade em direcionar seus mercados se soubessem onde os jogos serão realizados.

    A ausência de um acordo global de transmissão também pode preocupar potenciais parceiros, e embora se espere que haja muitos patrocinadores locais, o preço pedido de US$ 100 milhões dólares por patrocinador é significativamente mais alto do que o cobrado por ligas como a NFL e a NBA, que rotineiramente alcançam grandes mercados nos EUA.

    De acordo com o The Athletic, oficiais da Fifa sugeriram que o novo formato do Mundial de Clubes tem tanto potencial que justifica um conjunto renovado de acordos de patrocínio, enquanto parceiros de longa data da entidade, como Coca-Cola e adidas, estão argumentando que já possuem esses direitos.

    Essas receitas de transmissão e comerciais são necessárias para apaziguar os grandes clubes, que terão um mês extra adicionado às suas temporadas para competir no torneio. A Fifa esperava que seus parceiros existentes estivessem dispostos a renovar seus acordos atuais, mas, até o momento, tudo isso continua sem resposta.

  • Aurelio De Laurentiis Napoli chairman 2024Getty Images

    Algum ponto positivo?

    Pressupondo que essas questões sejam resolvidas, haverá um incentivo claro para os clubes participarem — e vencerem.

    Por algum tempo, havia a percepção de que esta competição era apenas uma série de amistosos de luxo. Em 2019, o então técnico do Liverpool, Jurgen Klopp, deixou clara sua opinião sobre o torneio pouco antes da semifinal: "Você não pode simplesmente adicionar mais torneios. Não funciona. A Fifa não gosta quando eu digo isso — desculpa — mas essa é minha opinião, e minha opinião tem que estar certa às vezes, porque eu penso em futebol o dia todo.”

    No entanto, há incentivos financeiros inegáveis para os envolvidos. O Manchester City teria faturado US$ 5 milhões de dólares com sua vitória em 2023, e com mais equipes, espera-se que as receitas cresçam ainda mais.

    O presidente do Napoli, Aurelio De Laurentiis, expressou sua frustração após a derrota na Liga dos Campeões para o Barcelona na temporada passada — não pela eliminação da principal competição europeia, mas porque seu time perderia os ganhos potenciais de uma campanha no Mundial de Clubes. Ele chegou a especular que a Juventus — que se classificou em seu lugar — deveria ser removida da competição devido às violações financeiras que a baniram das competições europeias em 2023/24.

    "Eu também acho que o Napoli deveria ir de qualquer maneira, precisamente porque se a Juventus foi punida pela Uefa com a eliminação dos torneios europeus, não deveria nem ser admitida no Mundial de Clubes, embora tal evento crie mil problemas para nós no próximo campeonato nacional", disse De Laurentiis.

  • 20240530 Gianni Infantino Club World Cup trophy(C)Getty Images

    A incerteza abunda

    Em algum momento, tudo isso vai se resolver. Apesar de todas as discussões sobre patrocínios, direitos de TV e o descontentamento dos jogadores, seria inimaginável que a Fifa não encontrasse as respostas e realizasse o torneio conforme o planejado.

    Mesmo com as incertezas, a ausência de um acordo de TV ou grandes patrocinadores, ainda se trata de um evento global de futebol. Alguns podem não gostar, mas ele está chegando aos Estados Unidos, e os fãs comparecerão aos jogos. Sim, há questões que precisam de respostas, mas, goste-se ou não, a Fifa sempre encontra um jeito de fazer as coisas acontecerem.

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