O que falta a Rodrygo para ser reconhecido como um dos melhores do mundo na Bola de Ouro

Parte do problema aqui vem da concepção equivocada sobre o que, exatamente, um jogador precisa fazer para ganhar o prêmio individual mais cobiçado no futebol. As regras mudaram após a temporada 2021/22, mas, de forma geral, os jogadores são indicados - e depois votados - com base em uma série de fatores. Mais do que qualquer coisa, os eleitores deveriam considerar o desempenho individual para só depois olhar para o sucesso da equipe - apesar de os dois estarem, em teoria, relacionados.

No passado, a carreira geral de um jogador também era levada em consideração pelos eleitores. Isso explicaria, por exemplo, por que Cristiano Ronaldo esteve entre os 30 indicados em 2021/22, apesar de ter marcado apenas 18 gols na Premier League por um Manchester United bastante medíocre.

Isso caiu, porém. Agora, teoricamente, tudo se baseia na temporada em questão.

Para Rodrygo, isso torna as coisas mais difíceis. Uma primeira análise certamente sugeriria que ele merece de fato um lugar entre os 30 melhores, mas a maioria dos eleitores, naturalmente, não consegue assistir aos 30 principais jogadores todas as semanas. Os números talvez sejam injustos, mas são a métrica mais precisa para medir o desempenho.

Sua produção ofensiva foi aceitável em 2023/24, mas não espetacular. Seus números - dez gols e cinco assistências em La Liga, cinco tentos e dois passes para gol na Champions League - não chamam tanto a atenção. Ele terminou empatado em 16º lugar entre os artilheiros do Espanhol e em 30º dentre os garçons. Seis colegas de Real Madrid tiveram mais assistências, sendo que três ainda marcaram gols com mais regularidade. Joselu, de 34 anos, por exemplo, igualou seu número de gols.

Claro, isso não é motivo de desprezo, mas os dados não sugerem exatamente que Rodrygo seja mais prolífico ou criativo.

O principal problema para Rodrygo é que muitos dos principais jogadores do Real Madrid nos últimos 12 meses atuavam em posições claramente definidas. Jude Bellingham brilhou como meia-atacante, enquanto Vinicius Júnior provavelmente ganhará a Bola de Ouro por suas atuações como um ponta-esquerda que atua como atacante por dentro.

Rodrygo, por sua vez, não tem uma posição claramente definida - ou mesmo uma melhor posição. Esse problema vem sendo discutido há alguns anos. Se levarmos suas palavras ao pé da letra, ele é melhor utilizado como um meia.

"No 4-2-3-1, é atrás [Karim Benzema] a posição que mais gosto. Todo mundo sabe disso. Sempre falo sobre isso com o treinador. Claro, posso jogar em todas as posições, mas é ali que me sinto mais confortável", disse o brasileiro à GOAL, no ano passado.

Uma olhada na lista atual de indicados mostra vários talentos do Real. Dos mais óbvios - Vinícius, Bellingham e Kylian Mbappé - a alguns um pouco mais fora da curva - Toni Kroos, Antonio Rüdiger e Fede Valverde. Dani Carvajal também está lá, aliás - provavelmente por suas várias conquistas na última campanha, como a Champions e a Eurocopa.

Rodrygo não pode reclamar de ver Bellingham, Mbappé e Vini à sua frente. Dado o impacto geral de Kroos na temporada - e o fato de que o alemão se despediu recentemente dos gramados -, também é difícil argumentar contra sua inclusão.

E aí está outro problema. Rodrygo não é o melhor jogador deste time do Real Madrid. Nem o segundo ou terceiro. Talvez nem o quarto. Ele pode ser um excelente jogador, mas provavelmente é o quinto melhor do time - e também não tem tido sucesso com a camisa amarelinha do Brasil, outra coisa que poderia impulsioná-lo à lista de finalistas.

Ainda assim, apesar de tudo isso, Rodrygo realmente tem um ponto. Critérios existem e, sem dúvida, há política e interesses em jogo. É surpreendente, por exemplo, que Vitinha - com sete gols e quatro assistências pelo Paris Saint-Germain - esteja nessa lista. Ademola Lookman também só entrou devido ao hat-trick na final da Europa League, contra o Bayer Leverkusen.

Neymar foi outro que se incomodou com a ausência do colega de seleção na lista de nomeados, afirmando que o camisa 11 é "um dos cinco melhores do mundo, no mínimo". Carlo Ancelotti também criticou a decisão, em entrevista coletiva recente.

Frequentemente dizem que atletas nunca deveriam reclamar, que têm sorte de ganhar a grana que ganham, que conquistas individuais não importam em um esporte coletivo. Mas eles também são seres humanos que desejam reconhecimento.

Contrariando essa ideia popular, dá para entender perfeitamente o porquê de Rodrygo estar incomodado. No geral, é difícil afirmar que há 29 jogadores no mundo melhores do que ele.

Então, como Rodrygo pode garantir que isso não aconteça novamente? A resposta mais óbvia é continuar rendendo em campo, mas ele é, talvez, o maior prejudicado com a chegada de Mbappé. Se já tinha menos oportunidades antes, agora pode acabar recebendo ainda menos. As apenas duas participações diretas em gols nos últimos cinco jogos por LaLiga - sim, voltamos a falar dos números - corroboram essa tese.

A saída seria protagonizar um ou dois momentos mais marcantes. Já provou ser capaz disso, marcando gols importantes na Champions 2021/22, mesmo saindo do banco. Mais atuações certamente o ajudariam nesse sentido.

Mas a resposta mais simples - e talvez a mais eficaz - seria trocar de clube. Rodrygo tem o talento e a inteligência para ser o principal jogador de uma equipe que disputa a Champions League, para ser o astro de um time que está sempre na briga por títulos. O Real Madrid não costuma vender jogadores - não é muito o perfil do clube -, mas Ancelotti já deixou claro que não dificultará a saída de quem quiser respirar novos ares.

Rodrygo pode não querer isso, mas se as conquistas individuais realmente importam tanto, ele teria muitos interessados. No final, a decisão será dele: continuar satisfeito fora dos holofotes ou lutar para provar que é um dos melhores do mundo.