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Liverpool spending spree GFXGetty/GOAL

Como o Liverpool consegue gastar R$ 2 bilhões e ainda ter a possiblidade de comprar Alexander Isak e outros reforços antes do fim da janela

A torcida do Liverpool adora cantar “The Reds have got no money but we’ll still win the league” (“Os Reds não têm dinheiro, mas ainda assim vamos ganhar o campeonato”), e o título da última Premier League só reforçou esse espírito: foi conquistado com apenas uma contratação na janela do meio do ano — Federico Chiesa, por modestos £10 milhões (R$ 75 milhões), que ainda por cima jogou pouco.

Mas a ideia de que o clube vive no aperto financeiro nunca passou de um mito. O Fenway Sports Group (FSG), grupo dono do Liverpool, não é mão de vaca. É, sim, cauteloso. Sempre que surgiu uma necessidade real, ou até uma oportunidade de mercado para trazer um nome de peso, os americanos não hesitaram em abrir os cofres.

Vale lembrar: foi com cifras recordes que o Liverpool contratou Virgil van Dijk e Alisson Becker em 2018. Aqueles investimentos foram a base do sucesso duradouro sob o comando de Jurgen Klopp. Da mesma forma, a reformulação no meio-campo feita na janela de 2023 foi decisiva para o time sobrar na disputa pelo título da temporada passada.

Ainda assim, nenhuma dessas investidas se compara à gastança da atual janela, que, vale lembrar, nem terminou. Com mais de cinco semanas restantes até o fim do mercado, os Reds já desembolsaram impressionantes £265 milhões (cerca de R$ 2 bilhões), sem contar bônus ou metas por desempenho.

Então, como o Liverpool está bancando essa reformulação de elenco? Vai precisar vender para equilibrar as contas? E será que ainda pode vir mais gente até o dia 1º de setembro?

  • Liverpool FC v Tottenham Hotspur FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Remando na mesma direção

    O investimento recorde do Liverpool em uma única janela surpreendeu boa parte da torcida, especialmente aqueles que viviam criticando o Fenway Sports Group (FSG) por não abrir os cofres. Muita gente acreditava que Jurgen Klopp poderia ter conquistado ainda mais títulos se tivesse recebido o mesmo apoio financeiro que Pep Guardiola, comandante do rival Manchester City.

    Mas Kieran Maguire, autor do livro The Price of Football e apresentador do podcast de mesmo nome, diz que a maioria dos torcedores entende e valoriza a forma como o clube é gerido: “Quando vou a Anfield e converso com os torcedores, sempre me parece que são dos mais bem informados sobre futebol”, afirmou o escritor à GOAL. “Mas estou falando de quem vai ao estádio toda semana. O problema são os ‘idiotas’ das redes sociais. Eles acham que a solução de tudo é gastar 200 milhões de libras a cada janela em qualquer jogador. São barulhentos, mas não entendem nada do que é gerir um clube de futebol.”

    “É como assistir a um episódio de Plantão Médico e sair achando que é médico. Tem cara que ganhou cinco ligas seguidas com o Liverpool no FIFA e acha que sabe tanto quanto os profissionais que tomam decisões de verdade em Anfield. É uma loucura.”

    Maguire sugere aos críticos que leiam o livro de Ian Graham, How to Win the Premier League: “A abordagem do Liverpool é brilhante. A regra é simples: só contratamos se o jogador for, de fato, um ganho para o clube. E ponto. O mais importante: o técnico está alinhado com isso, os diretores também e o setor financeiro idem. Em resumo, todo mundo no clube rema para o mesmo lado.”

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  • Liverpool v Sevilla - Pre-Season FriendlyGetty Images Sport

    Arne Slot solucionando problemas

    Essa mentalidade explica por que não houve desespero em Anfield na última janela, mesmo quando muitos de fora criticaram a falta de um volante marcador.

    O diretor esportivo Richard Hughes, recém-chegado do Bournemouth, acreditava ter fechado com Martin Zubimendi. Até o espanhol mudar de ideia no último instante e decidir permanecer na Real Sociedad. O Liverpool sequer tinha um plano B. Não havia alternativa pronta, o que à primeira vista pareceu estranho. Mas Hughes e sua equipe simplesmente não viam outro volante no mercado que valesse a pena, e estavam certos.

    No fim das contas, a solução já estava no elenco. Arne Slot apostou no conterrâneo Ryan Gravenberch como primeiro homem à frente da zaga e a decisão se mostrou um acerto absoluto. O ex-Bayern, que havia chegado desacreditado, foi eleito o Jovem Jogador da Temporada na Premier League pelo papel crucial na conquista do título.

    Outro técnico talvez reclamasse por só ter recebido um reforço em um clube novo (Antonio Conte, por exemplo, é famoso por isso), mas Slot não. Assumiu o trabalho sem alarde, como já fazia no Feyenoord, onde superou rivais mais ricos como Ajax e PSV. A capacidade de fazer muito com pouco foi, aliás, uma das principais razões para o Liverpool tê-lo escolhido. Portanto, sua habilidade para resolver problemas internamente não foi nenhuma surpresa para Michael Edwards e companhia.

  • فريمبونجGetty Images Sport

    Por que agora?

    Também pesa o fato de que Klopp deixou o clube em excelente forma, algo reconhecido pelo próprio Slot em várias coletivas. Como o treinador frisou algumas vezes, não é fácil melhorar um elenco que já é muito forte.

    Mas o planejamento do Liverpool já previa novas contratações ao fim da temporada 2024/25, independentemente dos resultados. Como explicou o jornalista Ben Jacobs, especialista em mercado de transferências: “O FSG sempre esteve disposto a investir quando considera necessário, e agora o clube entende que chegou o momento de reformular. São vários os motivos, mas o principal é que Richard Hughes já está ambientado ao cargo e Slot teve tempo para avaliar o elenco e definir o que precisa.”

    “O primeiro passo era segurar Salah e Van Dijk. O segundo, reforçar o grupo. E o Liverpool quis fazer isso agora, para que os novos jogadores cheguem enquanto os atuais ainda estão lá. Isso cria uma transição natural. Trouxeram o goleiro Mamardashvili com Alisson ainda no clube, e o lateral-esquerdo Kerkez chegou enquanto Robertson continua na equipe, e isso é bem o estilo do Liverpool.”

    “A ideia é fazer a reformulação antes que ela vire uma urgência. Isso tira a pressão dos reforços, que não são jogados direto aos leões. E o clube também sabe que, se não se mexer agora, enquanto os rivais da Premier League estão gastando pesado, corre o risco de perder o posto de melhor time da Inglaterra.”

    “Há, sim, um senso de urgência, mas, no Liverpool, urgência sempre vem com calma e planejamento. O clube trabalha quieto no mercado, sem dar ouvidos ao barulho.”

  • Florian Wirtz Liverpool 2025-26Getty Images

    O dinheiro sempre esteve lá

    Como explica Ben Jacobs, o Liverpool sempre foi elogiado pela forma ágil e silenciosa com que atua no mercado. A contratação de Alexis Mac Allister, por exemplo, já estava fechada antes mesmo de a janela de transferências de 2023 ser oficialmente aberta.

    Mas o clube superou todas as expectativas neste ano. O acerto com o goleiro Giorgi Mamardashvili, do Valencia, foi concluído ainda em 2023, e até o dia 23 de junho já haviam chegado dois laterais. Jeremie Frimpong, inclusive, foi anunciado no mesmo dia em que Trent Alexander-Arnold teve sua saída para o Real Madrid confirmada. Já a chegada de Milos Kerkez, do Bournemouth, era tratada como favas contadas há semanas.

    Se essas negociações não causaram tanto espanto, a contratação de Florian Wirtz, em 20 de junho, abalou o mercado. Até o mês anterior, ninguém imaginava que o Liverpool tivesse qualquer chance de tirar o craque alemão do Bayer Leverkusen, que era cotado para reforçar Bayern de Munique ou Manchester City. Isso se o Leverkusen topasse vendê-lo.

    Mais do que convencer Wirtz a se mudar para Anfield, o que realmente chamou atenção foi o fato de o FSG ter bancado uma transferência que pode chegar a £116 milhões (R$ 877 milhões), valor que pode se tornar o novo recorde britânico. Mas, como lembra Jacobs, esse dinheiro já estava reservado.

    “Já sabíamos que o clube estava disposto a pagar mais de £100 milhões por um jogador”, disse. “Eles tentaram o Moisés Caicedo há dois anos e também fizeram proposta alta por Romeo Lavia naquela mesma janela. Como ambos acabaram indo para o Chelsea, o dinheiro ficou guardado, com a ideia de ser usado depois caso aparecesse o nome certo.”

    Outro fator que ajudou o Liverpool a agir rápido foi o cumprimento das regras de sustentabilidade financeira (PSR) da Premier League. Enquanto a maioria dos clubes fecha o ano fiscal em junho, os Reds finalizaram o deles em maio. Isso indica que estavam com as contas equilibradas e puderam jogar os novos custos para o próximo ciclo, liberando espaço para agir em junho, enquanto rivais como Manchester United e até o Arsenal ainda aguardavam margem para negociar.

  • Hugo Ekitike Liverpool HICGetty Images

    Ainda há bala na agulha para mais R$ 1 bilhão?

    O assunto ganhou ainda mais força nos últimos dias, já que o clube não parou de investir. Nesta quarta-feira (23), o Liverpool pagou £69 milhões (R$ 522 milhões) ao Eintracht Frankfurt pelo atacante francês Hugo Ekitike, e há expectativa de mais reforços até o fechamento da janela.

    Isso levantou a dúvida: será que o clube vai precisar vender nomes como Harvey Elliott ou Luis Díaz para manter as finanças em ordem?

    “Se alguém sair até o fim da janela, será por motivos técnicos, e não financeiros”, garante Kieran Maguire. “Eles só vão negociar jogadores que não fazem mais parte dos planos. É assim de boa a situação do clube hoje.”

    Pelas regras do PSR, os clubes da Premier League podem acumular até £105 milhões (R$ 796 milhões) em prejuízo num período de três anos. O Liverpool teve um déficit de cerca de £75 milhões (R$ 569 milhões) no período, mas quando se somam os gastos com a base, estrutura e futebol feminino, o balanço final fica até positivo.

    Além disso, o clube não gastou praticamente nada na temporada passada, e ainda foi campeão da liga. Isso gerou bônus de patrocinadores como o Standard Chartered, premiações da Premier League e ainda trará receitas extras da Champions League nesta temporada. Estima-se que isso represente mais £5 milhões ou £10 milhões extras (até R$ 75 milhões) vindo de várias fontes diferentes.

    A saída de Alexander-Arnold também representa economia na folha: eram cerca de £200 mil por semana (R$ 1,5 milhão). Sem contar que o clube já vendeu o goleiro reserva Caoimhin Kelleher e o zagueiro Jarell Quansah por £42,5 milhões (R$ 321 milhões) — e como ambos vieram da base, esse valor entra como lucro puro. Com tudo isso em jogo, Maguire afirma: “O Liverpool poderia gastar mais £150 milhões (R$ 1,1 bilhão) sem estourar as regras do PSR.”

  • FBL-ENG-PR-NEWCASTLE-MAN UNITEDAFP

    Sonho que pode se tornar realidade

    Dito isso, a janela de transferências mais ousada da história recente do Liverpool ainda pode ficar melhor. O clube ainda tem margem para contratar um zagueiro e, quem sabe, realizar um velho sonho: Alexander Isak.

    O interesse no sueco é antigo e o clube chegou a fazer sondagens antes de dar o chapéu no Newcastle por Ekitike. A chegada do francês indicava que Isak estava fora dos planos, mas a novela ganhou novo capítulo quando o atacante foi deixado fora do primeiro amistoso da pré-temporada e, depois, cortado da viagem da equipe para a Ásia por conta de um incômodo na coxa.

    Na sequência, veio a bomba: Isak teria pedido para deixar o clube. E, mesmo que o Newcastle aceite negociar, é certo que pediria algo acima de £120 milhões (R$ 912 milhões), o que seria outra pedrada no mercado. Mas, segundo Maguire, o valor não seria um empecilho.

    “Muita gente não entende que, ao contratar um jogador, você pode dividir o custo ao longo de cinco anos. Se o Wirtz custou £100 milhões, por exemplo, isso entra como £20 milhões por ano no PSR”, explicou. “E o Liverpool já vendeu o Quansah por £30 milhões, então, financeiramente, ainda sai no lucro só com esses dois movimentos.”

    Maguire ainda destacou um ponto importante: “Michael Edwards não é bobo. Pelo contrário, é um cara muito inteligente, e o Liverpool é extremamente bem organizado. Se quiserem contratar o Isak, o dinheiro não será problema. A única dúvida é se o Newcastle vai topar vender.”

    Resumindo: o Liverpool tem caixa, e, com um elenco consolidado, reforços importantes e um sonho possível pelo sueco, pode muito bem ganhar a Premier League de novo.