Kylian Mbappé voltou e joga como melhor centroavante do mundo: o Real Madrid resolveu seus problemas no ataque?

Os desafios iniciais foram complicados. Embora a estreia de Mbappé tenha resultado em uma vitória na Supercopa da Europa contra o Atalanta — coroada com um gol impressionante do capitão da França —, o confronto parecia mais um amistoso do que uma competição de verdade. No entanto, assim que os jogos oficiais começaram, tudo parecia um pouco desajustado.

Mbappé não conseguiu marcar em seus três primeiros jogos pelo Real Madrid, tampouco deu assistências. Os atuais campeões espanhóis empataram duas dessas partidas, enquanto sua contratação da temporada lutava para se encontrar em campo, parecendo um tanto perdido quanto à sua posição exata no gramado.

As preocupações durante a pré-temporada giravam em torno de como o novo ataque do Madrid funcionaria. Vinícius Jr. e Mbappé, naturalmente, são mais confortáveis atuando pela esquerda, enquanto Jude Bellingham prefere operar como um meia avançado pelo lado esquerdo do meio de campo. Até Rodrygo, o ponta direita projetado do time, gosta de se deslocar para o centro. O congestionamento era previsível à distância.

E foi exatamente o que aconteceu. A linha de frente do Real mostrou-se sobrecarregada, dependendo mais de momentos individuais de brilho do que de um funcionamento coletivo harmonioso. Apesar de ainda conquistarem algumas vitórias, as derrotas para Lille, Barcelona e Milan expuseram a falta de fluidez da equipe.

Carlo Ancelotti, por sua vez, minimizou as preocupações sobre Mbappé, afirmando: "Ele está progredindo. Está trabalhando com humildade e indo bem. Sua adaptação está ocorrendo de forma positiva."

De maneira característica, o italiano estava certo: os gols começaram a chegar para Mbappé. Um confronto tranquilo contra o Real Bétis, no dia 1º de setembro, marcou o início dessa fase, e ele anotou quatro gols em quatro jogos após a pausa internacional. Dois desses gols vieram de pênaltis, mas os números subjacentes de Mbappé revelaram a verdadeira história.

Durante essas partidas, ele tocou na bola significativamente menos do que em seus primeiros dias vestindo a camisa merengue. No entanto, mostrou-se direto, agressivo e implacável. Seus números de gols esperados dispararam — um total de 3,7 nesses quatro jogos, em comparação com 3,6 nos seis anteriores, segundo o FBRef —, enquanto seus passes e tentativas de drible diminuíram. Era um Mbappé mais objetivo, e parecia estar funcionando.

Mas também havia preocupações. A principal delas era que Mbappé nunca foi de se dedicar à defesa — algo que sempre marcou sua carreira, e que não mudou na Espanha. Ele não pressionava os adversários nem recuava para se posicionar defensivamente quando a posse era perdida, muitas vezes ficando no meio do caminho. Isso deixava os corredores de passe totalmente desprotegidos, permitindo que o Real fosse facilmente exposto.

Ancelotti buscou uma solução para o dilema. A formação 4-3-3, utilizada no início da temporada, foi abandonada, e Mbappé passou a ser escalado como centroavante ou ponta direita. Quando ele se deslocava para a direita, Bellingham avançava para ocupar uma função central; já nas ocasiões em que ele ia para a esquerda, Vinícius assumia a posição pelo meio.

As mudanças tiveram repercussões em outras áreas do time. Isso exigiu mais do lateral substituto Lucas Vázquez, que precisou cobrir o lado direito praticamente sozinho. Rodrygo, por sua vez, acabou no banco em algumas partidas, por questões táticas. Mais uma vez na carreira do agora camisa 9, todo tipo de concessão foi feito para acomodá-lo, o que gerou visível frustração geral. Bellingham frequentemente gesticulava com irritação para o companheiro, enquanto até o geralmente tranquilo Ancelotti perdeu a calma em algumas ocasiões.

Mbappé, por outro lado, nem sempre justificou suas deficiências defensivas com seu desempenho ofensivo. Ele ficou sem marcar e foi praticamente irrelevante — além de desperdiçar um pênalti — na derrota para o Liverpool na Champions League. Uma semana depois, falhou novamente diante do Athletic Bilbao. Contudo, esse jogo acabou se tornando um ponto de virada para o francês, como ele admitiu na terça-feira (21).

"Foi uma questão mental. Bater no peito e dizer: ‘Preciso fazer mais.’ Eu estava bem fisicamente, feliz com o grupo, mas sabia que precisava dar mais. E Bilbao foi um... bam. Foi o momento de me dizer: ‘Agora é hora de mudar isso; você não veio para o Real Madrid para jogar mal.’ E eu mudei, mas precisamos continuar. Porque jogar bem por um mês é fácil. O que importa é jogar bem sempre. E estou pronto para ajudar meu time.”

Mbappé marcou em cada um dos três jogos seguintes após a dolorosa noite em San Mamés. Embora tenha enfrentado outra sequência de três partidas sem gols mais tarde, ele claramente encontrou um bom ritmo, apresentando atuações impressionantes.

"Pensei muito. Demais. Como fazer isso, como me movimentar... E, quando você pensa tanto, não joga bem", explicou ele antes da vitória por 5 a 1 na Champions contra o Red Bull Salzburg, nesta quarta-feira (22).

Ainda assim, apesar dos ajustes, persistem preocupações sobre como ele e Vinícius podem se encaixar na mesma equipe. Algumas das melhores atuações de Mbappé ocorreram quando o brasileiro esteve ausente por lesão ou suspensão. Nesta semana, o francês destacou a liberdade de seu novo papel, argumentando que, quando pode flutuar e jogar por instinto, ele e Vinícius conseguem trabalhar juntos de forma eficiente. Até certo ponto, isso é verdade. No entanto, nos primeiros 19 jogos que disputaram juntos, a dupla só combinou para gols cinco vezes. Houve relatos esporádicos de desentendimentos sobre quem deveria cobrar pênaltis, e, mesmo agora, eles ainda fazem corridas similares sem a bola durante os ataques do time.

Os números em LaLiga mostram desempenhos semelhantes. Mbappé marcou 12 gols e deu duas assistências, estando diretamente envolvido em 0,81 gols a cada 90 minutos. Vinícius, por sua vez, tem oito gols e cinco assistências em menos jogos, com uma média de 1,0 gol ou assistência por jogo. Estatisticamente, não há evidências claras de que os dois estejam em conflito, embora a observação em campo, por vezes, sugira o contrário.

Enquanto Mbappé garantiu que seu período de adaptação já ficou para trás, ainda há questões a serem resolvidas. No entanto, uma sequência de sete gols em 10 jogos desde o início de dezembro, aliada a atuações extraordinárias, indica que as coisas estão tomando um rumo positivo.

"Ele é o melhor centroavante do mundo", afirmou Ancelotti após a goleada liderada por Mbappé sobre o Las Palmas. "Havia dúvidas sobre se ele poderia jogar nessa posição ou se seria mais eficaz na esquerda. Ele é um grande artilheiro, muito mais eficiente no centro do que na ponta. Sua movimentação é única, e ele pode explorá-la melhor no meio."

Embora muitos possam discordar da visão do técnico italiano, o fato é que, enquanto os problemas na defesa e no meio-campo persistem, o camisa 9 do Real parece, enfim, ter encontrado seu caminho. Mostrando algo próximo de sua melhor forma, Mbappé se consolida como peça fundamental. Se ele conseguir manter esse nível, o time de Ancelotti não pode ser descartado como candidato sério a conquistar os principais troféus em 2025.