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Como Jude Bellingham encarnou Michael Jordan para deixar a Inglaterra viva na Eurocopa 2024

Com seu incrível gol para salvar a Inglaterra da humilhação contra a Eslováquia, aos 50 minutos do segundo tempo das oitavas de final da Eurocopa, Jude Bellingham entrou para o hall da fama dos gols de bicicleta do futebol, ao lado de Zlatan Ibrahimovic, Wayne Rooney, Zinedine Zidane, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Mas, em sua coletiva de imprensa após a vitória por 2 a 1na prorrogação, que ainda contou com um gol de Harry Kane, ele mais parecia Michael Jordan.

Jordan foi o atleta mais cativante de sua geração e, 17 anos após sua aposentadoria, voltou ao estrelato com a 'The Last Dance', série documental que narra sua incrível carreira. Impulsionado pelo confinamento mundial devido à pandemia de Covid-19, o documentário foi um sucesso. Tornou-se rapidamente o programa mais popular da ESPN de todos os tempos, com 5,5 milhões de espectadores por episódio nos Estados Unidos, sem contar os outros 23,8 milhões que assistiram mundialmente pela Netflix.

O papel de Jordan em levar o Chicago Bulls a seis títulos da NBA foi a principal trama, mas o aspecto mais interessante foi sua mentalidade obstinada. Jordan usava até os mínimos detalhes como combustível para melhorar cada vez mais - e continuar humilhando seus rivais.

Detalhes mínimos mesmo. Desde o treinador dos Sonics, George Karl, não dizendo 'olá' a ele no jantar, até Charles Barkley ou Karl Malone sendo votados como MVP em seu lugar. Jordan se motivava a cada passo para a vingança. Ele estava em uma missão solo para dominar seus rivais e mostrar que ele era o melhor - e certamente alcançou esse objetivo.

Ao gritar 'quem mais?' durante sua comemoração, após resgatar a Inglaterra do abismo, Bellingham nos recordou da famosa citação 'I'm him' do mundo da NBA. Ele tinha um olhar vingativo enquanto comemorava o golaço, colocando os dedos no ouvido, sugerindo que torcedores e comentaristas estavam falando demais.

  • Jude Bellingham England Slovakia Euro 2024Getty

    Dando o troco

    Na entrevista coletiva na Veltins Arena, Bellingham disse: "Você ouve as pessoas falarem muita besteira. É bom quando você pode dar o troco. Para mim, futebol, estar em campo, marcar gols e comemorar é meu escape. Talvez tenha sido uma mensagem para algumas pessoas".

    Questionado sobre o que ele quis dizer com "muita besteira", Bellingham deixou seu 'Jordan interior' falar mais alto mais uma vez. "Você sabe o que quero dizer. As pessoas falam muito. Você tem que levar para o lado pessoal um pouco," disse ele.

    "Trabalhamos muito para este jogo. Chegamos todos os dias, trabalhamos duro para apresentar um bom desempenho para a torcida", disse. "Não é bom ouvir. Mas você sempre pode usar isso e, para momentos como aquele, é bom dar o troco para algumas pessoas".

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  • Jude Bellingham England Euro 2024 celebrationGetty

    Aproveitando as críticas construtivas

    Bellingham não é o primeiro jogador da Inglaterra na Euro 2024 a reclamar da mídia - especialmente dos ex-jogadores que se tornaram comentaristas. Na semana passada, Harry Kane pediu a Alan Shearer e Gary Lineker para "lembrar como é vestir a camisa". Declan Rice, ainda, pediu "mais positividade" para animar os jogadores.

    Mas Bellingham, seguindo o exemplo de Jordan, respondeu às críticas de forma perfeita, com um golaço que destacou sua grandeza. Ele poderia ter se encolhido diante das críticas e vaias dos torcedores, mas, em vez disso, provou que seus críticos estavam errados.

    Mas, se ele quiser continuar encontrando combustível nas críticas, não precisará procurar muito longe.

  • Marc Guehi England 2024Getty Images

    "A Inglaterra não merece estar viva"

    Porque, deixando de lado seu momento mágico, o camisa 10 foi terrível contra a Eslováquia, assim como tem sido desde sua brilhante exibição na estreia do torneio, contra a Sérvia. E o mesmo vale para o restante do time, exceto pelos últimos dois minutos de acréscimo e o primeiro minuto da prorrogação, quando tiveram seus únicos dois chutes a gol. Kane se destacou após um bate rebate seguindo cobrança de falta para selar a vitória.

    Depois de tomar a liderança, a Inglaterra recuou - como sempre -, até parecendo assustada, apostando em bolas longas e não colocando jogadores no ataque. E é por isso que estão sendo criticados.

    A realidade é que a Inglaterra não merece ainda estar no torneio. Os ingleses começaram de forma pouco convincente contra a Sérvia, e foi essa partida que, até aqui, se destaca como 'melhor' atuação.

    As coisas pioraram constantemente desde então, e não é de se admirar que haja tanto descontentamento na mídia e na torcida. Como mais os críticos deveriam analisar um torneio em que os comandados de Gareth Southgate venceram apenas um jogo em 90 minutos e têm média inferior a de um gol por jogo - tudo isso sem enfrentar equipes do top 20 do mundo?

  • Gareth Southgate England 2024Getty Images

    Críticas justificáveis

    Jordan teve que procurar por pequenos detalhes para se motivar a continuar vencendo, porque seu time dos Bulls já era dominante na NBA. Mas este time da Inglaterra, apesar de seu talento e experiência, ainda não mostrou a que veio na Alemanha. Os comentários de Bellingham, assim como os de Kane e Rice, alimentam a sensação de que a Inglaterra está ficando muito sensível às totalmente justificáveis críticas.

    Embora seja certo que Bellingham tenha usado as críticas para se inspirar, ele não pode cometer o erro de pensar que tudo está bem. Porque se a Inglaterra continuar com seu estilo de jogo lento contra a Suíça, que superou a atual campeã, Itália, e quase venceu a Alemanha, Bellingham e seus colegas estarão, quando menos esperarem, arrumando as malas de volta para casa.

    Longe de "falar besteira", como sugeriu o meio-campista do Real Madrid, a mídia está apontando as deficiências da Inglaterra na esperança de que eles ouçam e corrijam seus muitos problemas. Gareth Southgate, no entanto, soou quase que delirante após a partida, dizendo: "Nunca senti que hoje seria o nosso fim".

    Foi apenas por causa de um ato de pura qualidade de Bellingham que a Inglaterra ainda não voltou para casa. E, daqui para frente, essa fé cega não será suficiente para levá-los mais longe na Alemanha.

  • Kieran Trippier England Euro 2024Getty

    Problemas não resolvidos

    O treinador confiou em sua intuição ao manter Bellingham em campo antes do fim do tempo regulamentar, substituindo Phil Foden e Kobbie Mainoo, que até estavam jogando melhor.

    "Com 15 minutos para o fim, você se pergunta se ele está cansado, mas ele e Harry Kane são capazes de coisas assim, e é por isso que você não faz mudanças quando todos pedem por mais substituições," explicou Southgate, que deve o fato de ainda estar empregado a Bellingham.

    Mas ele precisa enfrentar o fato de que suas escolhas levaram a alguns dos piores jogos de sua passagem de oito anos. Mais uma vez, ele escolheu Kieran Trippier na lateral-esquerda e Foden na ala. O que ele fará se Trippier, que supostamente estava lesionado durante o torneio, estiver fora contra a Suíça? Luke Shaw estava pelo menos no banco contra a Eslováquia, mas o fato de não ter sido chamado quando Trippier saiu sugere que ele ainda está longe da condição física ideal.

    A falta de clareza de Southgate sobre o que fazer na posição foi resumida pelo fato de ter usado quatro jogadores na função durante os 120 minutos, terminando com Ezri Konsa no setor, depois de Eberechi Eze e Bukayo Saka jogarem por ali.

  • Bukayo Saka Getty

    Falta de (vontade de) adaptação

    Várias vozes influentes, incluindo Ian Wright, sugeriram que Saka deveria jogar como lateral-esquerdo devido à falta de opções. No entanto, o atacante do Arsenal descartou a ideia prontamente,: "Não... Não acho que me colocar fora de posição seja a solução".

    A recusa de Saka em considerar uma solução construtiva para o maior problema da Inglaterra é um sintoma dos problemas da equipe. Em torneios, jogadores nem sempre podem jogar em suas posições favoritas. Os melhores técnicos, no entanto, encontram soluções inovadoras.

    Didier Deschamps transformou Antoine Griezmann de segundo atacante em armador na última Copa do Mundo, e Vicente del Bosque usou Cesc Fabregas como 'falso nove' quando a Espanha venceu a Euro 2012. Muitos jogadores deste time da Inglaterra parecem relutantes em ser flexíveis. Bellingham, Foden, Kane parecem todos querer jogar como camisa 10. Enquanto isso, ninguém joga na ala esquerda.

    Bellingham tentou jogar panos quentes na discussão: "Ganhamos este jogo juntos. Não eu, não Harry Kane, nem nossos brilhos individuais. São caras como Ivan Toney, Eberechi Eze, Cole Palmer, Bukayo Saka indo para a lateral-esquerda. É o sacrifício que você faz pelo time e essa é a energia que precisamos manter, independentemente do que aconteça".

  • Jude Bellingham Euro 2024Getty

    À beira do abismo

    A resposta de Bellingham não se sustenta, no entanto. Saka jogou na lateral-esquerda por menos de 20 minutos antes de voltar para o seu lado preferido, o direito. E, durante 29 minutos da prorrogação, assim como nos primeiros 94 minutos do jogo, a Inglaterra foi terrível. Realmente se resumiu a momentos individuais de Bellingham e Kane em jogadas de bola parada - um cruzamento e uma falta meio confusa, nesta ordem.

    Gary Neville resumiu tudo de forma excelente: "Alívio é a palavra do dia. Fomos muito, muito sortudos. Fomos péssimos e temos sido péssimos por quatro jogos agora. Ele (Southgate) é uma ótima pessoa - obviamente tem uma grande integridade -, mas vai perceber hoje à noite que esteve muito perto do abismo. Muito perto do abismo".

    Bellingham pode descartar a avaliação de Neville como "bobagem" ou "um ataque em massa", mas essa é a dura verdade. Talvez a estrela do Real Madrid possa, mais uma vez, deixar seu Michael Jordan interior novamente vir à tona e usar as críticas negativas como motivação para realizar mais momentos decisivos.

    Mas ele e seus companheiros de equipe não podem continuar fingindo que está tudo bem.