+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Thomas Tuchel England GFX 16:19GOAL

Inglaterra contrata Thomas Tuchel e traz riscos a uma seleção em caos

Tudo estava indo muito bem. Lee Carsley parecia ser a resposta da Inglaterra para Luis de la Fuente na Espanha. O "herói interno" da Federação Inglesa de Futebol. Após vencer seus dois primeiros jogos como treinador interino, Carsley foi apontado como o herdeiro de Gareth Southgate – outro personagem humildemente carismático, mas com um senso de aventura maior do que seu antecessor. No entanto, Carsley não apenas tirou o freio de mão contra a Grécia na semana passada, mas praticamente sabotou suas próprias chances, e o desastre que se seguiu arruinou sua candidatura ao cargo.

Talvez a FA (Associação Inglesa de Futebol) já tivesse decidido seguir em outra direção, claro. E talvez Carsley nunca tenha realmente desejado o cargo. Era difícil ter certeza, já que o treinador do sub-21 constantemente se contradizia ao ser questionado sobre suas ambições – o que não ajudava a afastar a suspeita de que ele não tinha o perfil ideal para o cargo de qualquer forma. Mas Thomas Tuchel tem?

Logo após a vitória de domingo sobre a Finlândia, surgiu a informação de que Pep Guardiola era o sonho da Inglaterra – mas um sonho que nunca seria realizado. Assim, eles recorreram a Tuchel, que é, sem dúvida, um treinador de classe mundial, mas também uma figura que divide opiniões e pode preocupar...

  • FBL-ENG-PR-LEICESTER-CHELSEAAFP

    Sem fortes candidatos ingleses

    Após a notícia desta terça-feira (15), de que Tuchel estava em negociações para suceder Southgate, grande parte do discurso inicial sobre a nomeação do alemão girou em torno de sua nacionalidade, algo tão ridículo quanto previsível, considerando que uma certa parte da torcida inglesa ainda insiste em cantar músicas bobas sobre guerras passadas.

    No entanto, a Inglaterra possui um grupo de jogadores do mais alto nível, e o que eles precisam é de um técnico do mesmo patamar para extrair o melhor deles. A nacionalidade realmente não deveria ser um fator.

    Claro, em um mundo ideal, haveria uma série de candidatos ingleses atraentes para o cargo – mas não há, já que a triste verdade é que não estamos falando de um país conhecido por seus grandes estrategistas. Se pararmos para pensar, o Chile produziu mais técnicos campeões da Premier League do que a Inglaterra.

    Infelizmente para a Federação Inglesa, não há nenhum Bob Paisley ou Brian Clough atuando na primeira divisão atualmente, nem Vic Buckingham ou Bobby Robson conquistando sucesso no exterior, o que significa que dificilmente podem ser culpados por explorar todas as opções disponíveis – independentemente dos passaportes.

  • Publicidade
  • Thomas-TuchelGetty Images

    Tuchel se tornou a melhor opção

    Além disso, a Federação dificilmente pode ser acusada de ignorar técnicos ingleses. Eles mantiveram Southgate no comando por oito anos e até o apoiaram quando ele deveria ter sido demitido após a derrota nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022 para a França.

    Não é como se Lee Carsley, nascido na Inglaterra, não tivesse tido uma oportunidade de ouro para reivindicar o cargo. Ele foi colocado à frente de seis jogos muito vencíveis da Liga das Nações, mas o plano aparentemente tranquilo falhou devido à aposta equivocada do treinador contra a Grécia.

    Era quase inevitável, então, que a Inglaterra decidisse confiar em Tuchel, que era, indiscutivelmente, a opção mais atraente disponível no mercado, com Jurgen Klopp, ex-técnico do Liverpool, recém-assumindo um cargo na Red Bull, e Pep Guardiola ainda sob contrato com o Manchester City até o final da temporada. Certamente, a ideia de a FA considerar as candidaturas de Steven Gerrard ou Frank Lampard já deveria ser suficiente para fazer qualquer torcedor inglês estremecer.

    Tuchel, por completo contraste aos dois ex-meio-campistas da seleção inglesa, é um treinador de elite comprovado com um excelente currículo, tendo conquistado troféus em quatro clubes de três países diferentes.

  • Thomas Tuchel PSGGetty

    Problemas em Paris

    No entanto, Tuchel também tem um histórico de desentendimentos com aqueles ao seu redor – o que deveria ter sido um sinal de alerta para os ingleses, sugerindo que a decisão de contratá-lo foi motivada por desespero. É como se fosse necessário apertar o botão do pânico.

    No PSG, por exemplo, Tuchel conquistou o título da Ligue 1 e também chegou à final da Liga dos Campeões – um feito que foi valorizado pela incapacidade dos seus sucessores no Parc des Princes.

    Porém, o alemão perdeu seu cargo apenas quatro meses após a derrota por 1 a 0 para o Bayern de Munique em Lisboa, devido a uma longa disputa com a diretoria. Tuchel foi demitido na véspera de Natal de 2020, após mais uma vez questionar a maneira como o clube estava sendo administrado.

    "Para ser completamente honesto, durante os primeiros seis meses, eu me perguntava: 'Ainda sou um treinador – ou sou um político no esporte, um Ministro dos Esportes? Onde está meu papel como treinador em um clube assim agora? Eu disse a mim mesmo: Eu só quero treinar", explicou Tuchel em uma entrevista ao Sport1 no dia anterior à sua demissão.

    "Eu amo o jogo e posso encontrar essa satisfação de várias maneiras como treinador. Às vezes, é muito fácil, outras, é um grande desafio, porque um clube como o PSG tem uma série de influências que vão além do foco no interesse da equipe... Eu só amo o futebol. E em um clube assim, nem sempre é apenas futebol."

  • Thomas Tuchel Borussia Dortmund 2017Getty Images

    Técnico fantástico, pessoa difícil

    Tuchel estava certo sobre o PSG? Ele, sem dúvida, diria que sim – e com alguma justificativa. Os proprietários cataris do clube praticamente admitiram que sua antiga estratégia não estava funcionando, ao tentar ao máximo se livrar da reputação de "ostentação e luxo".

    No entanto, também vale lembrar que o PSG não foi o primeiro clube que Tuchel entrou em conflito com colegas de trabalho.

    Como disse Hans-Joachim Watzke, diretor executivo do Borussia Dortmund, após a saída de Tuchel do Signal Iduna Park em 2017, o bávaro é "um técnico fantástico", mas também "uma pessoa difícil" de se trabalhar.

    Portanto, era inevitável que Tuchel entrasse em conflito com Todd Boehly e companhia no Chelsea, especialmente considerando que os novos donos do clube contrataram de forma imprudente após assumirem o controle de Stamford Bridge em 2022.

    Claro, poucos culpam Tuchel por esse desentendimento em particular, e ele ainda é muito respeitado pela torcida dos Blues, que ficou impressionada com sua franqueza e habilidade para lidar com a mídia. Tuchel também gostou bastante do seu tempo em Londres e admitiu, no ano passado, que foi mais valorizado como treinador na Inglaterra do que em sua terra natal, a Alemanha – o que, sem dúvida, teve um grande peso em sua decisão de assumir a seleção inglesa.

  • TSG Hoffenheim v FC Bayern München - BundesligaGetty Images Sport

    "Um líder obsessivo"

    Vale lembrar que no cenário de seleções não temos transferências de atletas, o que significa que, com a Inglaterra, Tuchel estará totalmente focado em melhorar os jogadores à sua disposição por anos – algo que é, sem dúvida, positivo para todos os envolvidos.

    Uma preocupação importante, no entanto, é se o alemão pode ter o mesmo impacto imediato que teve em clubes anteriores – como no Chelsea, onde conquistou a Liga dos Campeões em menos de cinco meses após substituir Frank Lampard – sem o benefício de treinos e convívio diário com seus jogadores.

    Afinal, estamos falando de um dos treinadores mais exigentes e meticulosos do futebol atual. Como disse Axel Schuster, que trabalhou com o comandante no Mainz, à GOAL: "Ele é um líder obsessivo que quer levar cada jogador ao seu limite absoluto. A um ponto em que você pensa: Isso não é mais possível. Ele quer que superem resistências e medos."

    "Com isso, ele aparenta muita autoconfiança. Mas ele pode se dar a esse luxo porque tem um entendimento extraordinário de futebol. Ele apresenta suas ideias aos jogadores com uma convicção especial. Ele não interpreta papéis. Age da mesma maneira em qualquer lugar."

    Com Tuchel, então, o que você vê é realmente o que você tem. E o mesmo vale para praticamente tudo o que se ouviu ou leu sobre ele também.

  • VfB Stuttgart v FC Bayern München - BundesligaGetty Images Sport

    Desfecho inevitável

    O novo treinador da Inglaterra é, sem dúvida, um ótimo estrategista – ele provou isso ao superar Guardiola na final da Champions League de 2020/21 – mas também é uma personalidade desafiadora, o que explica seu sucesso em períodos curtos. A intensidade que lhe dá uma vantagem sobre os adversários também pode ser difícil de suportar para seus próprios jogadores e colegas a longo prazo.

    Harry Kane, capitão da Inglaterra, pode ter apreciado sua temporada sob o comando de Tuchel no Bayern de Munique, o que é um bom sinal para a renovação de sua relação de trabalho. No entanto, poucos jogadores do elenco ficaram tristes com sua saída da Allianz Arena após uma tumultuada campanha em 2023/24, que terminou com os bávaros sem conquistar um único troféu em todo o ano pela primeira vez nos últimos 12 anos.

    Joshua Kimmich teve suas divergências com Tuchel e sua comissão técnica, principalmente pelo fato de o treinador não considerá-lo bom o suficiente para jogar à frente da linha de quatro defensores, sua posição preferida. No entanto, não se deve esquecer que vários outros nomes desaprovavam a abordagem pragmática do alemão, evidenciada pelo estilo de jogo empolgante – e bem-sucedido – implementado por Xabi Alonso no Bayer Leverkusen.

    No final das contas, a FA e os torcedores da Inglaterra, que sofrem há tanto tempo, só querem vencer, e o ex-técnico do Bayern tem um histórico de entregar resultados rapidamente. Ser encarregado de ganhar uma Copa do Mundo em 18 meses pode ser algo que se encaixe bem com seu perfil, e os jogadores podem se beneficiar de não terem que lidar com suas exigências diariamente.

    No entanto, aqueles que anseiam por Southgate após ficarem horrorizados com o desastre de Carsley na semana passada fariam bem em lembrar que, embora Tuchel seja tão cauteloso quanto possível, as coisas sempre desmoronam eventualmente, e o desfecho parece inevitável – e geralmente mais cedo do que o imaginado.