Inevitável? Por que o Palmeiras de Abel Ferreira é mais favorito que o Botafogo ao título do Brasileirão 2024

O Palmeiras joga pelo empate, podemos dizer. Ambos estão com 70 pontos na tabela, mas os alviverdes estão na liderança porque ganham nos critérios de desempate: mais vitórias (21 a 20) e uma diferença de +3 no saldo de gols. Se não sair derrotado do Allianz, vai depender apenas de si para levantar a taça.

Ao contrário da expectativa que existia algumas rodadas atrás, quando o Botafogo chegou a ter vantagem de seis pontos, o time de Abel Ferreira não vai ser obrigado a sair para o jogo.

As tropeçadas botafoguenses nesta reta final vieram contra times que se propuseram mais a se defender do que atacar (Criciúma, Cuiabá e um Atlético-MG com menos um em campo após expulsão, além do Vitória no segundo tempo da partida dentro do Nilton Santos). A equipe de Artur Jorge será obrigada a atacar mais vezes, deixando mais espaços atrás. Ou seja: o Botafogo terá que se arriscar mais, e o Palmeiras pune quando tem oportunidades.

Desde a eliminação nas oitavas de final da Libertadores, para o próprio Botafogo, o aproveitamento do Palmeiras no Brasileirão beira a perfeição: em 12 jogos foram nove vitórias, dois empates e uma única derrota (no clássico contra o Corinthians). Um espantoso aproveitamento de 80,5%. Se precisa de um resultado, quase sempre o time de Abel consegue – não importa se agrada ou não pela qualidade do futebol apresentado.

O Botafogo decepcionou, de verdade, só agora na reta final com os empates consecutivos. Mas também é verdade que precisou aliar sua campanha no Brasileirão com a caminhada dura até a final da Libertadores, onde passou por um dos chaveamentos mais difíceis, eliminando o próprio Palmeiras, São Paulo e Peñarol até apontar à decisão marcada para 30 de novembro.

Existe um motivo pelo qual apenas o Flamengo de 2019 conseguiu conquistar Brasileirão e Libertadores em um mesmo ano na era dos pontos corridos (desde 2003). O calendário do futebol brasileiro pune os times que chegam longe em muitas frentes.

No mesmo período em que o Palmeiras teve o espetacular aproveitamento citado acima, o Alvinegro jogou 16 vezes. Pelo Brasileirão, nas 12 partidas foram seis vitórias e seis empates. Ter conseguido 66,6% dos pontos disputados também mostra o quanto uma sequência invicta pode não significar muita coisa quando preenchida por muitos empates.

O calendário afeta a todos no Brasil, claro, mas nesta reta final o Botafogo foi especialmente prejudicado. Além dos jogadores convocados para as Datas Fifa de seleções, está tendo que disputar uma enorme quantidade jogos decisivos em curto espaço de tempo.

Já contando o encontro com o Palmeiras, os alvinegros disputaram três duelos em uma única semana – tempo de descanso de três dias antes de cada jogo. E logo depois do Palmeiras, ainda tem a grande final da Libertadores contra o Atlético-MG. A equipe de Abel Ferreira só tem o Brasileirão desde meados de agosto.

Junte o tempo a mais para jogos no Brasileirão, ao trabalho histórico e de longevidade de Abel Ferreira e a jogadores decisivos, e está pronta a receita que explica o grande favoritismo alviverde. Estevão é o artilheiro do campeonato e também o líder em assistências, Raphael Veiga e Flaco López são outros na disputa da artilharia. A defesa é sólida e este time já provou e cansou de provar que sabe ser campeão.

Muito tem se falado sobre questão mental ao comparar, justamente, Botafogo e Palmeiras. É um quesito no qual os alvinegros melhoraram muito em relação a 2023, mas o jejum de 29 anos sem grandes títulos gera uma ansiedade natural, que será quebrada apenas no momento em que o Glorioso voltar a levantar taças.

Além disso, depois da Libertadores o Botafogo ainda pega o Internacional, dono da melhor campanha do segundo turno e que ainda se permite sonhar com título, no Beira-Rio. O Palmeiras enfrenta, na penúltima rodada, um Cruzeiro em péssima fase sob o comando de Fernando Diniz.

A disputa pelo título de 2024 será emocionante até o fim e o confronto entre os líderes, no Allianz, promete ser daqueles para entrar na história. Mas em meio a todos os motivos citados nos parágrafos acima, o favorito está claro: o Palmeiras de Abel Ferreira continua a parecer inevitável.