Harry Kane encontra a melhor defesa da Champions League: chegou a hora do inglês mostrar seu valor contra a subestimada Inter de Milão de Simone Inzaghi

A Inter avançou para as quartas de final da Champions League desta temporada com um placar agregado de 4 a 1 sobre o Feyenoord nas oitavas.

O time holandês havia surpreendido o Milan na fase de play-offs, mas nunca pareceu remotamente capaz de repetir a dose diante do rival da cidade — o que talvez explique por que a classificação da Inter não tenha sido exatamente um grande acontecimento na Itália. A vitória foi praticamente tratada como certa, para a frustração de Simone Inzaghi.

"Os rapazes foram excelentes esta noite", disse ele ao jornal Sky Sport Italia. "Continuo elogiando-os porque eles merecem por tudo o que vêm fazendo — e também porque ouço pouquíssimos elogios a eles em outros lugares."

Para ser justo com Inzaghi, ele tem certa razão.

A Inter chegou à final da Champions League há menos de dois anos e foi extremamente azarada ao perder por 1 a 0 para o Manchester City de Pep Guardiola, que vivia seu auge. O time italiano anulou completamente a ameaça de Erling Haaland e, se não fosse pela finalização desperdiçada por Romelu Lukaku, teria merecido levar a decisão à prorrogação.

Como Guardiola brincou em entrevista ao jornal MARCA pouco tempo depois da final em Istambul: "Sou campeão europeu porque um jogador errou a três metros do goleiro!"

A ineficiência também prejudicou a Inter na temporada passada, quando desperdiçou inúmeras chances no jogo de ida para eliminar o Atlético de Madrid nas oitavas de final, no San Siro, antes de sofrer a amarga queda nos pênaltis, no Metropolitano. Por isso, é curioso que o clube italiano esteja sendo tratado como grande azarão nesta edição da Champions League.

Após a definição dos confrontos das quartas de final, a maioria das casas de apostas colocava os Nerazzurri como o sexto time mais cotado entre os oito restantes, atrás de Barcelona, Paris Saint-Germain, Real Madrid, Bayern de Munique e até mesmo do Arsenal, que a Inter superou na fase de grupos.

Ainda assim, a equipe da capital tem argumentos sólidos para contrariar as expectativas e eliminar o Bayern. Ciriaco Sforza, que atuou por ambos os clubes durante sua carreira como jogador, acredita inclusive que os líderes da Série A italiana são os “favoritos” neste duelo das quartas.

"Esse é um time que vai causar enormes dificuldades ao Bayern de Munique", declarou o ex-jogador da seleção suíça ao jornal Bild. "Os Nerazzurri são bem treinados, mantiveram essa estrutura por dois ou três anos e encontraram o sistema ideal no 3-5-2."

É difícil discordar.

A Inter adotou a formação 3-5-2 com grande eficácia sob o comando do ex-técnico Antonio Conte – que não apenas encerrou uma seca de 11 anos sem conquistar o Scudetto em 2021, como também levou a equipe à final da Europa League no ano anterior –, mas se tornou ainda mais formidável sob as ordens de Simone Inzaghi.

"Venho acompanhando ele há bastante tempo, desde os tempos de Lazio", revelou recentemente a lenda francesa e ex-atacante do Arsenal, Thierry Henry, à Sky Sports. "Inzaghi chegou a ser conhecido como aquele técnico que, se você o enfrenta em um jogo de mata-mata, está em apuros — como vimos na final da Champions League, quando o Manchester City teve muitas dificuldades contra a Inter dele.

"Gosto da maneira como o 3-5-2 dele se comporta. Se olharmos para o meio-campo, com (Nicolò) Barella, (Hakan) Calhanoglu e (Henrikh) Mkhitaryan, são três jogadores que poderiam atuar como volantes

"Mas, quando têm a bola, você vê o Lautaro Martínez recuando e o Marcus Thuram atacando os espaços entre os zagueiros, quando os alas — Federico Dimarco, Denzel Dumfries ou Matteo Darmian — não fazem esse movimento.

"Por isso, gosto do fato de jogarem com dois atacantes de ofício, porque se, em vez disso, você entrar num 5-4-1, como muitos times fazem sem a posse, com um centroavante isolado e pontas bem abertos, quando a bola chega ao atacante, ele só consegue fazer o pivô."

Um dos aspectos mais marcantes do estilo que ficou conhecido como Inzaghiball é a liberdade concedida aos zagueiros para avançarem da defesa e explorarem os espaços mais à frente no campo — algo que talvez tenha sido melhor exemplificado pelo cruzamento de Alessandro Bastoni para Yann Bisseck marcar contra o Bologna, na temporada passada.

"É algo que treinamos constantemente", disse Bastoni ao DAZN. "E o Inzaghi foi fundamental nesse processo, porque eu não era tão móvel no início.

"Mas todos precisamos ser versáteis e manter a concentração. Além disso, não é fácil encontrar jogadores como o Mkhitaryan, que recua até a linha defensiva, ou o Lautaro, que se conecta tão bem com o meio-campo.

"Todos nós nos movimentamos o tempo inteiro, tentando oferecer o mínimo possível de pontos de referência para os adversários."

Claro, a Inter segue sendo mais conhecida por sua defesa aguerrida e disciplinada, que tira os adversários do sério. Como Bisseck admitiu em entrevista ao portal Kicker, na última terça-feira (1), ele e seus companheiros de equipe não se incomodam em jogar sem a bola por longos períodos durante uma partida.

Guardiola chegou a fazer uma leve crítica ao time de Inzaghi por se posicionar tão recuado no empate sem graça por 0 a 0 entre as duas equipes no Etihad, durante a fase de grupos da atual edição da Champions League, mas também não demorou a apontar a Inter como uma das candidatas ao título.

“Eles são”, reconheceu o técnico catalão em entrevista à TNT Sports, “mestres em defender e contra-atacar”.

A defesa da Inter está longe de ser impenetrável, como vimos no empate por 2 a 2 com o Parma no sábado (5) — resultado que significa que os Nerazzurri já sofreram 30 gols em apenas 31 jogos do Campeonato Italiano nesta temporada.

No entanto, há um contraste bastante evidente entre o desempenho defensivo da Inter na liga nacional e na Champions League nesta temporada. Parece até que uma equipe que, compreensivelmente, vem encontrando dificuldades para competir em três frentes nesta fase da campanha, está guardando algo a mais para os compromissos europeus.

“Este foi o nosso 46º jogo da temporada e todos esses jogos pesam nas pernas dos jogadores”, disse o auxiliar de Inzaghi, Massimiliano Farris, ao DAZN, após o duelo no Estádio Tardini. “Tentamos protegê-los da melhor forma possível e evitar novas lesões, mas, neste momento da temporada, não acho que qualquer equipe consiga manter a consistência durante os 90 minutos inteiros.”

Ainda assim, os poderes de concentração da Inter parecem inabaláveis na Champions League, com apenas dois gols sofridos em 10 partidas até aqui — o que só ressalta o tamanho da missão que espera Kane e companhia. no jogo de ida desta terça-feira, na Allianz Arena.

Kane está, sem surpresa, empolgado para o desafio. A chance de disputar confrontos desse nível foi a principal razão pela qual ele sentiu que precisava deixar o clube de infância, o Tottenham, na janela do meio de 2023 e se mudar para Munique.

Ele também chega para o duelo em boa fase, depois de silenciar os críticos que apontavam sua suposta ausência de gols em jogos decisivos, ao marcar três vezes na vitória agregada por 5 a 0 do Bayern sobre o Bayer Leverkusen nas oitavas de final — chegando a 10 gols no torneio, um recorde de uma única temporada para um jogador inglês na Champions League.

Kane também encerrou uma sequência de cinco jogos do Campeonato Alemão sem marcar pouco antes da pausa para a Data Fifa, ao balançar as redes na vitória por 3 a 2 sobre o St. Pauli no sábado anterior — e voltou a marcar na vitória por 3 a 1 sobre o Augsburg, na sexta-feira (4).

A última vitória, no entanto, teve um preço: Jamal Musiala sofreu uma ruptura muscular na coxa que pode tirá-lo do restante da temporada — um duro golpe para o Bayern, que também não pode contar no momento com Manuel Neuer, Dayot Upamecano, Hiroki Ito, Alphonso Davies e Kingsley Coman, todos lesionados.

Poderia ter sido ainda pior, já que Kane foi alvo de uma entrada na WWK Arena que, segundo ele, “quase destruiu” seu tornozelo.

Ainda assim, o camisa 9 deve estar totalmente recuperado para enfrentar a Inter. E o Bayern teria pouquíssima chance de superar a melhor defesa da Champions League sem ele.