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Diego MaradonaGetty Images

Hall da Fama – Diego Armando Maradona, o Dios do futebol que fazia o impossível ser possível

Na galeria dos imortais do futebol, há um nome que entra de ofício — e que para muitos, ainda hoje e provavelmente para sempre, segue sendo o maior de todos. Existe um antes e um depois de Diego Armando Maradona. Seu talento descomunal transcendeu o futebol e o transformou numa das figuras mais marcantes do século XX.

A trajetória de Maradona foi contada em livros, músicas e filmes — provas do impacto que causou. Ídolo global, rosto reconhecido em qualquer canto do mundo, foi símbolo de luta e superação, principalmente para as camadas mais populares, de onde ele próprio veio. Com jogadas inimagináveis e uma capacidade única de transformar o impossível em realidade, entrou para a história.

Maradona venceu — menos que outros grandes, é verdade — mas escolheu fazer isso ao lado dos desfavorecidos, desafiando o sistema. Venceu também com a seleção argentina, levando um time limitado ao topo do mundo e provando, como ninguém antes ou depois, que um só jogador, com liderança e genialidade, pode mudar a história até mesmo em um esporte coletivo.

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  • COMO UM ATLAS

    Falar de Maradona é mergulhar em um mar de histórias, ângulos e interpretações, correndo sempre o risco de cair na obviedade ou na pura idolatria. Mas se há um traço que o diferencia da maioria dos gênios que passaram pelos gramados, é sua capacidade de convencer times inteiros — jogadores que sem ele jamais sonhariam com títulos — de que era possível vencer. E mais: de realmente vencer.

    O futebol tem seus feitos épicos, mas talvez nunca tenha existido alguém que, como um Atlas moderno, carregasse nos ombros o destino de suas equipes até o triunfo. Maradona fez isso repetidas vezes. Recusou os super times e preferiu a rebeldia. Passou pelo Barcelona, sim, mas numa fase muito distante dos tempos áureos. Escolheu o Napoli, um clube sem tradição, e o colocou no mapa do futebol mundial. Antes de sua chegada, o clube jamais havia conquistado o Campeonato Italiano. Depois que se foi, levou mais de 30 anos para vencer de novo. Em sete anos com os napolitanos, ganhou dois Scudetti, uma Copa Itália, uma Copa da UEFA e uma Supercopa. Os números — 115 gols em 259 partidas — contam só parte da história.

    El Pibe de Oro ia além do craque. Inspirava. Entrava na alma dos companheiros. Criava laços de confiança quase cegos. Por ele, outros se anulavam, cediam espaço, jogavam por algo maior. Maradona fazia os outros acreditarem. Ele era um vencedor — e fazia dos outros vencedores também.

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  • A NÁPOLES

    Em 1984, trocou o Barcelona por Nápoles. Corrado Ferlaino desembolsou 13 bilhões e meio de liras após uma negociação cinematográfica para levá-lo ao sul da Itália. Mais de 70 mil pessoas lotaram o San Paolo no dia 5 de julho, em uma recepção que deu o tom do que viria.

    Diego sabia que chegava a um time medíocre, que havia escapado por um ponto do rebaixamento. Tinha ao lado mais operários que craques. Era um extraterrestre que precisava construir algo duradouro. Aos poucos, a equipe cresceu: oitavo lugar no primeiro ano, terceiro no segundo e, enfim, o primeiro Scudetto em 1986/87.

    Naquela época, a Série A era a melhor liga do mundo. Era a Juventus de Platini, o Milan de Berlusconi e dos holandeses, a Inter de Trapattoni, a Sampdoria de Vialli e Mancini, o Verona campeão em 1985. Craques como Falcão, Zico, Sócrates, Júnior, Baggio circulavam pelos gramados. Entre 1984 e 1991, seis times diferentes venceram o campeonato. Só o Napoli conseguiu repetir a façanha. Títulos longe das potências do norte existiram — Verona, Sampdoria, Lazio, Roma, Fiorentina —, mas só o Napoli de Maradona construiu um ciclo. Uma revolução que exauriu o elenco e o próprio Maradona. Ele até tentou sair, sem sucesso. Ficou, venceu mais um Scudetto em 1989/90 e depois, punido por uso de cocaína, encerrou sua passagem pela cidade.

  • COM A ARGENTINA

    Também na seleção, em tempos de pouco talento ao redor, Maradona precisou fazer muito com pouco. Estreou aos 16 anos, mas foi cortado da Copa de 1978 por Menotti, que o considerava jovem demais. Brilhou no Mundial sub-20 e assumiu o protagonismo em 1982, mas a campanha caiu diante de Brasil e Itália. Expulso no fim da competição, Diego amadureceu. Em 1986, montou o time à sua maneira — inclusive abrindo mão de craques como Passarella e Ramón Díaz, com quem não se entendia.

    Deu tudo certo. Participou de 10 dos 14 gols da Argentina (5 gols e 5 assistências), deu passes precisos, fez o icônico gol de mão contra a Inglaterra — cheio de carga política — e depois, o "gol do século", driblando metade do time adversário. Despachou a Bélgica e, na final, superou a Alemanha. A maior atuação individual em uma Copa do Mundo. O atacante inglês Peter Beardsley disse: “Se Maradona tivesse nascido em Toronto, o Canadá teria sido campeão do mundo”. Não havia argumentos.

    Tentou repetir o feito em 1990, com uma seleção ainda mais limitada e com o corpo já em declínio. A Argentina passou por Brasil, Iugoslávia e Itália — essa última em Nápoles, com Diego pedindo apoio local contra os próprios compatriotas. Na final, em Roma, foi derrotado pela Alemanha, sob vaias. Parecia o fim, mas ele ainda reapareceu em 1994, aos trancos, fora de forma, vindo de uma nova punição. Fez um golaço contra a Grécia, mostrou fúria e alegria contidas, mas caiu no exame antidoping por efedrina após o jogo contra a Nigéria. Foi o adeus definitivo: 34 gols em 91 jogos, uma Copa vencida, outra batida na trave.

  • GOAT

    Nascido em 1960, falecido em 2020, Maradona começou no Argentinos Juniors e desde cedo atraiu os holofotes. Em entrevista ainda garoto, dizia sonhar com a Copa — e com vencê-la. Cumpriu. Aos 20, já era o melhor do continente. Passou por Boca Juniors e Barcelona antes do auge no Napoli. Depois, tentativas no Sevilla e Newell's Old Boys, antes de voltar ao Boca para encerrar a carreira.

    Viveu mil vidas. Caiu, tentou se levantar. Foi rebelde e, por isso mesmo, virou espelho para tantos. Ao chegar em Nápoles, disse que queria ser o ídolo dos meninos pobres da cidade — como ele fora em Buenos Aires. Conseguiu. Criou uma conexão visceral com a cidade. Dentro e fora de campo, foi um protagonista. Fez gols do meio de campo, cobranças geniais de falta, encantou durante e antes dos jogos. Nunca foi egoísta. Fazia os outros jogarem melhor.

    Pelé brilhou num Brasil estrelado. Cruijff, em Ajax e seleção holandesa. Messi e Cristiano Ronaldo dominaram super times. Outros grandes passaram por Real Madrid, Milan, Juventus, Barcelona. Maradona foi diferente. Há quem tenha vencido mais, vivido mais tempo no topo. Mas ninguém igualou seu poder de transformar equipes comuns em campeãs. Ele não jogou com os grandes. Jogou contra eles — e os venceu.

    Muitas vezes, mais do que se podia imaginar.