Grandes 'tretas' do futebol: como a Bola de Ouro pôs Louis van Gaal e Rivaldo em conflito

Van Gaal e Rivaldo se encontraram pela primeira vez quando chegaram ao Barcelona quase ao mesmo tempo - em meados de 1997.

O treinador teve uma carreira comum como jogador, mas instantaneamente se encontrou à beira do gramado, levando o Ajax a três títulos do campeonato holandês, duas finais da Champions League (das quais venceram uma), a Europa League, Supercopa e Copa Intertoto - uma coleção de conquistas impressionante para um treinador iniciante com uma equipe tão jovem. Buscando o próximo Johan Cruyff, não foi surpresa quando o Barcelona voltou sua atenção para outro sucesso do Ajax para conduzi-los para aos títulos nacionais e europeu ao contratá-lo em 1997.

Enquanto isso, Rivaldo teve uma jornada mais longa e árdua até o Camp Nou. Criado em Recife, ele era uma criança pobre que conseguiu prosperar graças ao futebol. Rivaldo se profissionalizou aos 18 anos e pulou de clube em clube até se tornar uma estrela no Palmeiras.

O brasileiro se transferiu para a Europa com o Deportivo La Coruña, onde seu magnífico números de gols imediatamente chamou a atenção de times maiores. O Deportivo terminou em um incrível terceiro lugar em La Liga em sua primeira temporada, e acabou sendo sua única, já que o Barça o procurou em 1997 e ele não pôde recusar a oferta.

Van Gaal e Rivaldo foram um sucesso imediato com os gigantes catalães. O treinador holandês colocou o atacante brasileiro no time titular, jogando na ponta esquerda, ao lado da lenda portuguesa Luis Figo e com Sonny Anderson como centroavante.

Rivaldo precisou de apenas 26 minutos para marcar em sua estreia em La Liga pelo Barcelona, anotando dois gols na vitória contra a Real Sociedad. Ele acabou marcando 19 vezes em 34 jogos no Campeonato Espanhol, enquanto o clube catalão conquistava o título sob o comando de Van Gaal. Rivaldo marcou oito gols em sete jogos da Copa do Rei, completando uma temporada com dobradinha.

Foi um começo fantástico para ambos no Barcelona, mas as expectativas e diferenças culturais tornaram difícil para Van Gaal impor sua verdadeira filosofia no clube. Eventualmente, os egos entraram em conflito e tudo foi por água abaixo.

No ano seguinte, Rivaldo brilhou no Barcelona, ajudando a equipe a conquistar La Liga com 11 pontos de vantagem em relação ao Real Madrid, contribuindo com 19 gols em 34 jogos.

Na mesma temporada, ele levou esse status de superestrela de volta à América do Sul, liderando o Brasil na conquista da Copa América, com cinco gols em cinco jogos, e garantindo a Bola de Ouro de 1999.

Porém, sua relação com Van Gaal azedou quando ele exigiu a camisa 10 e a mudança de posição após o prêmio. Segundo Van Gaal, Rivaldo no dia seguinte e declarou que a partir dali era ele quem dava as ordens, não o treinador. Van Gaal ficou furioso com a arrogância, mas também irritado porque a estrela não reconhecia a contribuição da equipe para sua vitória na Bola de Ouro.

Isso teve impacto negativo no time, resultando em uma temporada decepcionante. Van Gaal culpou Rivaldo pelo fracasso, levando à perda do título de La Liga e eliminações na Copa do Rei e Champions League.

Van Gaal foi responsabilizado pelos fracassos do Barcelona naquela temporada e acabou sendo demitido no final da campanha. Ele conseguiu um novo emprego imediatamente, assumindo o comando da seleção holandesa, enquanto Rivaldo voltou a marcar gols sob o comando do novo treinador, Lorenzo Serra Ferrer.

No entanto, foi um período terrível para todos. Surpreendentemente, a seleção holandesa de Van Gaal não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo de 2002, resultando em uma famosa coletiva de imprensa na qual ele criticou a mídia por suas constantes críticas ao longo da campanha.

Quanto ao Barcelona, eles foram terríveis sob o comando de Serra Ferrer, apesar de Rivaldo marcar 36 gols em todas as competições. Eles terminaram com o quarto lugar na tabela do Campeonato Espanhol, foram eliminados na Champions League e depois caíram para o Liverpool nas semifinais da Europa League, além de terem sido derrotados por 4 a 1 no agregado pelo Celta Vigo nas semifinais da Copa do Rei.

Na temporada seguinte com Charles Rexach, o desempenho do Barcelona não melhorou muito, encerrando outra temporada sem troféus. Rivaldo caiu de rendimento, marcando apenas 14 gols em 33 jogos, enquanto Patrick Kluivert e Javier Saviola brilhavam mais no ataque.

O Barça reconheceu, no final das contas, que estava melhor com Van Gaal e ele estava mais do que feliz em ter outra chance. A primeira coisa que o holandês fez ao voltar em 2002? Se livrar de Rivaldo.

Van Gaal retornou ao Barça em baixa após o vexame de sua equipe holandesa ao perder a Copa do Mundo. Rivaldo, no entanto, estava ainda mais valorizado do que nunca. Agora ele era um campeão mundial, tendo marcado cinco vezes para ajudar o Brasil a conquistar o título da Copa do Mundo.

O treinador, no entanto, não ficou impressionado e disse ao clube para vendê-lo imediatamente. Van Gaal não se importava para onde ele ia, dizendo: "Não ligo se ele quiser ir para o Real Madrid."

Ele explicou: "Ele não tinha comprometimento com o clube, estava interessado apenas em ganhar mais dinheiro e jogar menos. Ele foi escolhido como o melhor jogador em 1999, mas não se comportou bem desde então e não agiu como um jogador de futebol deveria. Ele tinha ilusões sobre o Barça e estava pedindo para tirar férias quando jogos importantes da Champions League estavam se aproximando. Ele então se esconde de volta em casa, no Brasil. Ele joga pela seleção brasileira como precisávamos que ele jogasse no Barcelona, e ele provou isso nas finais da Copa do Mundo. Três anos atrás, eu tentei vendê-lo, mas o presidente do Barcelona, Jose Luis Nunez, impediu a transferência."

Rivaldo respondeu de forma curta e grossa: "Ele está com inveja porque ganhei uma Copa do Mundo pela qual ele nem conseguiu se classificar."

Apesar de ter sido um desastre no Milan de Ancelotti, Rivaldo estava mais feliz do que havia estado sob Van Gaal. Ele marcou apenas oito gols em 40 jogos e não conseguiu conquistar a confiança de Ancelotti. Além disso, conseguiu, pelo menos, conquistar as medalhas de Campeão da Champions, Supercopa da UEFA e Coppa Itália.

"Ancelotti não me persegue como Van Gaal fez no Barcelona. Ele é diferente," ele disse. "Carlo é uma pessoa engraçada, que conversa com você, só que ele não me escala. Esse é o problema e eu não sei o motivo."

Van Gaal não obteve muito sucesso ao se livrar do jogador que mais o incomodava. Embora o Barça tenha impressionado na Liga dos Campeões, eles despencaram em La Liga e, na metade da temporada 2002/03, Van Gaal estava sob pressão. Uma derrota em casa por 4 a 2 para o Valencia, seguida por uma derrota por 2 a 0 contra o Celta Vigo foi a gota d'água, pois caíram para a metade inferior da tabela.

Antes de o time catalão decidir se livrar do treinador em fevereiro, Rivaldo não pôde deixar de colocar o dedo na ferida quando perguntado sobre o fracasso de seu inimigo.

"Eu amo o Barcelona porque joguei lá por cinco temporadas, e fico muito triste quando vejo um clube com seu tamanho e com seus torcedores na parte inferior da tabela da liga", disse ele. "Mas Van Gaal está na situação que merece, porque na vida e não apenas no futebol, você sempre deve tentar ser uma boa pessoa. Você não pode mentir para prejudicar outras pessoas. O que vai, volta. [...] A solução é trocar o treinador. Isso vai animar tanto os torcedores quanto os jogadores. O Barcelona é um clube enorme e não deveria estar nesta situação. Os jogadores não têm culpa porque estão trabalhando muito, mas quando as coisas não vão bem, parece que nada funciona."

Van Gaal teria sucesso no AZ antes de conquistar uma dobradinha no Bayern de Munique e perder a final da Champions League para a Inter de Milão, antes de comandar o Manchester United, entre outras duas outras passagens pela seleção holandesa.