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"Fora, Ronaldo!" - Como o Fenômeno caiu em desgraça como dono do Real Valladolid

Após um empate dramático — e desgastante — com a Inter de Milão na ida das semifinais da Liga dos Campeões, o Barcelona voltou a campo no fim de semana para mais um compromisso pelo Campeonato Espanhol. O adversário foi o Real Valladolid, em jogo realizado na tarde do último sábado. A vitória era essencial para os líderes de LaLiga, que enfrentam uma sequência intensa de jogos desde o início da temporada, e buscavam manter a vantagem de quatro pontos sobre o vice-líder Real Madrid antes do decisivo Clássico em Montjuic, no dia 11 de maio.

E o Barça fez sua parte. Mesmo saindo atrás no placar, a equipe conseguiu a virada e venceu por 2 a 1. O resultado manteve a diferença para o Real Madrid, que também venceu na rodada, deixando o Barcelona ainda mais perto do título espanhol.

O confronto com o Valladolid aconteceu em um momento oportuno para os catalães, entre os dois duelos da semifinal europeia contra a Inter. O adversário, afinal, atravessa um dos piores momentos de sua história. Já rebaixado à segunda divisão com algumas rodadas de antecedência, o clube vive uma crise profunda dentro e fora de campo.

Sob a presidência de Ronaldo Fenômeno, as expectativas eram bem diferentes. O ex-jogador prometia um time brigando por vagas em competições europeias, mas, em vez disso, o que se viu foi mais uma campanha decepcionante e uma nova queda. A frustração da torcida cresceu ao longo da temporada, os protestos se intensificaram e mais uma manifestação ocorreu no estádio José Zorrilla durante o duelo contra o Barça.

Mas como um dos personagens mais queridos do futebol mundial se transformou em alvo de tantas críticas em Valladolid? A GOAL explica a seguir...

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  • 'Ronaldo coloca Valladolid no mapa'

    “Hoje começa uma nova era para o Real Valladolid”, declarou o então presidente Carlos Suárez em 3 de setembro de 2018 — e, de fato, parecia mesmo o início de um novo capítulo.

    Naquele dia, Suárez havia acabado de vender sua participação de 52% no clube para Ronaldo, a lenda viva brasileira, reverenciada no mundo todo por suas conquistas extraordinárias como jogador por Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid e pelo Brasil.

    Quando afirmou que a chegada do campeão mundial ao estádio José Zorrilla “colocava o Valladolid no mapa”, ele não estava errado. No entanto, a confiança depositada na capacidade de Ronaldo para levar o clube a “um salto de qualidade” revelou-se, com o tempo, tristemente equivocada.

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  • FBL-ESP-LIGA-REAL MADRID-VALLADOLIDAFP

    'O futebol é uma paixão para mim'

    Para ser justo com Suárez, Ronaldo realmente tinha um bom discurso. No início, demonstrava total comprometimento com seu novo projeto.

    "Garanto que vocês vão me considerar um amante de Castilla-León, de Valladolid e do Real Valladolid", disse aos jornalistas logo após concluir a aquisição do clube por €30 milhões de euros.

    "Queremos consolidar o clube na primeira divisão e, a partir disso, seguir crescendo. Na verdade, [o projeto] não vai parar, porque queremos alcançar tudo o que pudermos imaginar."

    "Esta nova gestão será guiada por quatro pilares: competitividade, transparência, revolução e responsabilidade social. Passei por muitas etapas no futebol para me preparar para isso — e o futebol é, acima de tudo, uma paixão para mim."

    No entanto, nos últimos dois anos, Ronaldo parece ter perdido quase todo o interesse pelo Valladolid.

  • Real Valladolid CF v RCD Espanyol  - La LigaGetty Images Sport

    Dúvidas sobre competência e compromisso

    Os primeiros sinais foram animadores. Ronaldo se reuniu com diversos grupos e organizações locais, e chegou a compartilhar refeições com torcedores, demonstrando um esforço genuíno para se aproximar da comunidade.

    A impressão nos primeiros anos era de que ele buscava mais do que apenas comandar o clube — queria criar uma conexão real com a cidade e seus habitantes.

    Além disso, não parecia estar apostando apenas em sua reputação como ex-jogador para se aventurar na gestão do futebol. Após encerrar sua vitoriosa carreira nos gramados, Ronaldo se dedicou aos estudos em gestão e marketing esportivo, além de já ter se envolvido em outros empreendimentos relativamente bem-sucedidos nos setores de entretenimento, propriedade, automobilismo, e até esportes eletrônicos.

    Essa trajetória o deixava confiante de que poderia transformar o Real Valladolid em uma das principais forças do futebol espanhol.

    “Se conseguirmos nos consolidar na Primeira Divisão, reestruturar o clube e realizar todos os investimentos que planejamos, em cinco anos o normal será estarmos brigando por uma vaga na Liga dos Campeões”, afirmou durante o World Football Summit, em setembro de 2019. “Pode parecer ousado agora, mas por que não pensar grande?”

    No entanto, a realidade seguiu outro rumo. O Valladolid continuou com status de clube ioiô, alternando acessos e rebaixamentos. Após a segunda queda em apenas três temporadas sob a gestão de Ronaldo, em 2023, questionamentos legítimos começaram a surgir — tanto sobre sua capacidade de gestão quanto sobre a competência e o comprometimento dos profissionais que ele escolheu para administrar o clube.

  • Real Valladolid CF v Sevilla FC - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    Ronaldo vs Os Radicais

    A decisão de mudar o escudo do clube deixou evidente que Ronaldo e sua equipe estavam completamente desconectados dos sentimentos da torcida.

    Na época, ele minimizou a reação negativa, dizendo que eram apenas “algumas centenas de radicais que se recusavam a mudar, evoluir e olhar para o futuro”, e afirmou que “toda vez que pedem a volta do antigo escudo, a maioria do estádio os vaia”.

    “Os torcedores do Valladolid são muito maiores do que essas centenas de radicais que fazem barulho”, declarou Ronaldo ao El Desmarque em junho de 2023. “Se olharmos para o todo, temos uma taxa de aprovação de 91%. Não vejo rejeição por parte dos fãs nem da cidade. Sempre que venho aqui, caminho pelas ruas e sinto o carinho e o respeito das pessoas — isso me dá ainda mais força.”

    Ele prosseguiu: “É verdade que hoje em dia há radicais para todo tipo de causa, mas trabalhamos ouvindo as pessoas, promovendo o diálogo. Além disso, esses mesmos radicais nos pedem dinheiro para comprar bandeiras, para financiar atividades nas arquibancadas. E muitas vezes, quando dizemos ‘não’, a crítica vem em seguida. Então, não é por causa do escudo. É porque talvez eles não tenham mais os mesmos benefícios de antes.”

    “Mas não podemos focar nesse grupo de radicais. Temos que pensar em todos os torcedores.”

    A realidade, no entanto, era diferente. Não se tratava apenas de ultras ou radicais: a grande maioria da torcida rejeitou a mudança no escudo e, com isso, passou a duvidar do comprometimento de Ronaldo com o clube.

    Desde o início, era evidente que a compra não foi movida por um vínculo afetivo com o Valladolid — Ronaldo chegou a considerar adquirir clubes na Inglaterra ou nos Estados Unidos, mas optou pela Espanha por ser “a opção mais acessível”.

    Além disso, os torcedores passaram a questionar suas escolhas administrativas. Sentiam que ele havia colocado poucas pessoas em cargos de liderança que realmente entendessem o Valladolid ou o futebol espanhol. Em vez disso, preferiu cercar-se de profissionais com quem já havia jogado ou trabalhado ao longo da carreira.

  • 'Game, set and match'

    Ronaldo manteve a postura desafiadora mesmo diante das críticas, chegando a ampliar sua participação no clube para 82% após o Valladolid conquistar mais um retorno imediato à primeira divisão no verão europeu passado.

    “Estou muito orgulhoso de ver como o trabalho de todo o ano foi recompensado”, declarou em maio. “Esta promoção pertence a todos: torcedores, equipe, comissão técnica, jogadores. Todos vocês conseguiram devolver Pucela ao seu lugar de direito. Agora, é hora de comemorar e aproveitar.”

    Mas o clima festivo em Valladolid não durou. A temporada 2024/25 se transformou em uma espécie de marcha fúnebre rumo ao rebaixamento, e o que mais irrita os torcedores é a ausência constante de Ronaldo.

    O presidente do clube assistiu a mais partidas no Santiago Bernabéu do que no estádio José Zorrilla. Quando o Valladolid afundou na lanterna de La Liga em 22 de novembro, após uma derrota por 2 a 0 para o Getafe, Ronaldo estava no Brasil disputando uma partida de tênis beneficente com Kaká e Alexandre Pato, transmitida ao vivo em seu canal na Twitch.

    No jogo seguinte, uma goleada por 5 a 0 sofrida em casa diante do Atlético de Madrid, o grupo de torcedores Fondo Norte 1928 protestou de forma criativa: esvaziaram parte da arquibancada para simular uma quadra de tênis, onde dois "jogadores" com raquetes gigantes batiam uma bola de um lado para o outro. Acima da cena, uma faixa sentenciava: “Game, set and match”, uma expressão do tênis, marcando o fim da era Ronaldo no Valladolid.

    A mensagem era clara — para muitos, a partida de Ronaldo como dirigente do Valladolid já acabou. O time venceu apenas um jogo em 2025 até agora, e a relação entre o presidente e a torcida parece mais frágil do que nunca.

  • Ronaldo reduziu o Valladolid a motivo de chacota

    Ronaldo tem demonstrado interesse em vender o Valladolid há algum tempo. No entanto, não houve muitas ofertas concretas, e as que surgiram "não correspondiam ao valor do clube".

    Recentemente, especula-se que Ronaldo finalmente tenha encontrado um comprador, supostamente disposto a pagar €40 milhões de euros por sua participação no Valladolid.

    Diz-se que o suposto acordo não será confirmado antes da próxima semana, no mínimo, o que significa que os fãs terão ao menos mais oportunidades de expressar sua insatisfação com a posse do brasileiro.

    Os torcedores do Fondo Norte 1928 lançaram ao 12º minuto do jogo contra o Barcelona 30 milhões de euros em cédulas de 500 ou 60 mil notas falsas, em referência ao valor pago por Ronaldo, com a imagem do dirigente no campo do José Zorrilla. "Se Ronaldo quiser vender, ele terá o dinheiro", brincou o grupo.

    Claro, a maioria dos torcedores nem consegue ver o lado engraçado do péssimo mandato de Ronaldo. Um dos maiores jogadores da história do futebol deveria ter colocado o Valladolid no mapa. Em vez disso, ele os transformou em motivo de chacota.