É oficial: a decadência de Kevin De Bruyne é irreversível e clima de despedida do Manchester City indica isso

A forma como o jogador de 33 anos teve dificuldades contra o Liverpool foi difícil de assistir, exceto para os 3 mil torcedores visitantes no Etihad. De Bruyne tinha sido o 'pai' do Liverpool nos últimos anos, marcando em ambos os encontros pelo Inglês na épica disputa pelo título da temporada 2021/22, quando as duas equipes ficaram separadas, no final de tudo, por apenas um ponto. Ele foi o artilheiro do City naquela temporada, com 15 gols, mas também contribuiu com oito assistências. Em outro momento memorável, marcou quatro gols em uma partida contra os Wolves.

Mas desta vez ele teve dificuldades em acompanhar o ritmo do jogo e até mesmo passar a bola. Ele ainda acreditou, tentando um chute impossível com o pé esquerdo no último lance do primeiro tempo, mas o resultado foi constrangedor. A bola saiu em lateral, para além da bandeirinha de escanteio. Ao som do apito que encerrava a etapa inicial, ainda ecoavam as provocações da torcida dos Reds.

Isso deveria ter sido o sinal para Pep Guardiola poupá-lo e tirá-lo do jogo no intervalo. Em vez disso, ele permaneceu em campo por mais 21 minutos, tempo suficiente para demonstrar como estava abaixo do que o jogo pedia.

Quando o número de De Bruyne finalmente apareceu e ele foi substituído por James McAtee, muitos torcedores do City se levantaram para aplaudi-lo. Algo parecido com o abraço em um amigo durante um funeral.

Já fazia algum tempo que a queda de De Bruyne já tinha indícios claros, e agora, como bons engenheiros de obra pronta, é tentador concluir que a temporada passada deveria ter sido seu último ato com o City. E quase foi.

Em junho passado, logo após conquistar o tetra inglês, ele avaliou se mudar para a Arábia Saudita em meio a rumores de interesse do Al Ittihad. Ele disse à mídia belga: "Na minha idade, você tem que estar aberto a tudo. Você fala sobre uma grana inacreditável no que pode ser o final da minha carreira. Às vezes, você tem que pensar sobre isso".

No final, De Bruyne permaneceu no City para o último ano de seu contrato, contando com a bênção de Guardiola. A janela de transferências calma do City no meio do ano, na qual eles apenas acertaram a volta de Ilkay Gundogan e contrataram Savinho, sugeria que o treinador achava que o camisa 17 tinha outra grande temporada pela frente. E quem poderia culpá-lo por pensar isso depois que De Bruyne se recuperou de duas lesões na coxa em apenas dez semanas, contando, ainda, com uma cirurgia, e acabou, mesmo assim, guiando o City ao título com quatro gols e dez assistências, ficando de ora de mais da da metade da temporada.

O meio-campista parecia estar em sua forma habitual quando a temporada começou, jogando quase 90 minutos nos três primeiros jogos do City e marcando dois gols pela Bélgica contra Israel. Mas tudo mudou com uma lesão no abdômen, sofrida contra o Brentford, em setembro.

Ele terminou aquele jogo e ainda foi titular três dias depois contra a Inter de Milão, mas teve que sair no intervalo. Ele não voltou até o início de novembro e não figurou entre os 11 titulares novamente até enfrentar o Nottingham Forest, em dezembro. Como De Bruyne afirmou em novembro: "Eu esperava ficar fora por alguns dias, mas acabou sendo oito ou nove semanas."

"Não houve muitas conversas", acrescentou quando questionado sobre a possibilidade de assinar um novo contrato com o City. "Só quero jogar bom futebol novamente. As conversas virão. Se não houver conversas, então é meu último ano, então eu não sei. Enquanto eu sentir que [posso fazer a diferença no time], isso é um bom indicador de que ainda posso jogar em alto nível. Então, para mim, essa é a única garantia que eu preciso. Mas eu não faço ideia de quanto tempo isso vai durar".

Apenas três meses depois, parece que esse momento chegou. O desgaste de De Bruyne parece finalmente ter cobrado seu preço. Ele começou apenas 12 dos 26 jogos da Premier League do City nesta temporada e, embora ainda possa mostrar seu estilo em certos jogos, como com o gol e a assistência justamente contra o Forest e com as quatro participações em gols em três partidas consecutivas — contra West Ham, Brentford e Ipswich Town.

Nos jogos que realmente importam, porém, ou ele foi deixado de fora ou teve atuações decepcionantes.

De Bruyne não participou da partida de volta no play-off da Champions League contra o Real Madrid após ter jogado de maneira apagada na ida. Ele foi a campo apenas como substituto nas derrotas fora de casa para Arsenal e Liverpool e no triunfo em casa contra o Chelsea. Guardiola tem sido franco sobre o declínio físico de De Bruyne, ao mesmo tempo apontando para sua habilidade quando no auge de suas forças.

Após a vitória de dezembro sobre o Leicester – apenas a segunda em 14 jogos –, Guardiola disse: "Não há dúvidas sobre Kevin. Quando Kevin está em forma, Kevin é o Kevin – um dos jogadores mais importantes da história do Manchester City e da história da Premier League". Completou: "Ele é um cara que precisa estar bem fisicamente para se sentir bem".

O problema, porém, é que De Bruyne está cada vez mais fora de forma. Em outubro, Guardiola comparou o belga a um carro usado: "O mesmo carro, quando vai fazer algo, não é o mesmo carro. Alguma coisa piorou. Não é o mesmo que um novo. É normal. São muitos anos [de uso] ali. Estas são parte das decisões que você tem que tomar sobre o time, o futuro, o elenco. Não se trata do talento dos jogadores, porque talentosos eles são. Eles são muito, muito bons, todos eles, mas há jogadores que têm danos. Acontece. É normal".

Rumores deram conta de que De Bruyne aceitaria uma proposta de renovação de contrato no City, presumivelmente em termos muito reduzidos em relação ao seu acordo atual, e que ele também aceitaria ter um papel mais seccundário na equipe. Isso parece uma escolha imprudente para todos os envolvidos. O retorno de Gundogan à equipe foi uma enorme decepção e estender o contrato de De Bruyne seria cometer o mesmo erro.

Guardiola pareceu aconselhar o jogador contra tal movimento em novembro, quando disse: "Tenho certeza de que o Kevin será honesto. Ele vai querer terminar aqui depois desta temporada ou da próxima, ou da seguinte, no seu melhor. Eu não acho que ele estará aqui quando acreditar que não pode ser o Kevin que pode ajudar a equipe como fez na última década".

E após a derrota para o Liverpool, Guardiola quase parecia estar preparando o caminho para a saída de De Bruyne: "Vi muitas coisas que este clube tem um futuro brilhante com os jogadores que temos. Exceto Kevin e talvez Nathan [Aké], todos os jogadores são muito, muito jovens. Não importa o que o clube decidir para o futuro, os próximos anos serão brilhantes", opinou. "É uma questão de tempo".

O tempo chega para todos, e Roy Keane foi direto sobre o tempo está chegando para De Bruyne. "O contrato de De Bruyne está terminando, então você pensa que esses caras provavelmente irão automaticamente embora," disse o ex-capitão do Manchester United. "Ele obviamente tem que olhar para o geral, mas eu não estaria em pânico do ponto de vista do City. Alguns dos jogadores experientes vão seguir em frente, essa é apenas a natureza do esporte. Chega um momento em que você fica um pouco mais velho, especialmente quando você está jogando no meio-campo. É um desfaio. O treinador tem que tomar essa decisão", avaliou.

Parece que Guardiola já tomou essa decisão. Perguntado antes da partida contra o Tottenham se De Bruyne poderia redescobrir sua antiga forma, a resposta de Guardiola não foi muito convincente. Ele disse: "Ele é um jogador excepcional. Ele foi, é e espero que continue sendo. O que acontecer será entre ele e o clube".

Guardiola pode tentar se afastar das negociações, mas está claro qual é sua posição sobre o assunto e seria uma grande surpresa se De Bruyne não chegasse à mesma conclusão e fizesse desta temporada sua última no City. Após tudo que ele deu ao clube e, realmente, à Premier League, ele não deveria ser obrigado a passar por mais momentos angustiosos como o do clássico contra o Liverpool. Ele ainda será importante para o City na Copa da Inglatgerra e na tentativa de terminar no G-4 da Premier League, mas precisa ser usado com cuidado para evitar mais vergonhas.