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Javier Mascherano's potential impactGetty

Como a inexperiência de Javier Mascherano frustra Lionel Messi e leva o Inter Miami à crise

Até Sergio Busquets se enganou. No meio do segundo tempo do confronto entre Inter Miami e Orlando City, domingo passado à noite, os Herons já mostravam sinais de desespero. Messi fazia toques a mais, Luis Suárez — que não é de driblar — tentou driblar todo mundo, e Jordi Alba levantou os braços frustrado ao não receber a bola.

Mas o mais surpreendente foi Busquets esquecer como passar. O lendário meio-campista girou, olhou para o gol e tentou aquele passe típico para Messi, um lance que repetiu centenas de vezes na carreira. Só que a bola foi direto para os pés de um defensor do Orlando City.

Esse momento mostra bem onde o Miami está agora: muita coisa acontecendo, tudo frenético e confuso. Os Herons perderam o controle. Uma vitória em sete jogos é desanimadora, e a derrota por 3 a 0 para o rival em casa resume o quadro.

Nas redes sociais, já há quem peça a saída do técnico Javier Mascherano — algo natural no esporte. Quando o time vai mal, o treinador é o alvo. Mas mudar o técnico agora seria um erro. Miami passa por uma fase ruim, mas tem talento para reagir — e recursos financeiros para reforçar o elenco, caso necessário.

Mesmo assim, nas últimas semanas, ficou claro que Mascherano é inexperiente na função técnica. Em momentos assim, o time precisa de um líder que ajuste o sistema e garanta resultados. Hoje, parece mais um amigo respeitoso dos astros, confiando que a qualidade do elenco basta para melhorar, em vez de enfrentar a realidade e agir.

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  • Inter Miami CF v Toronto FCGetty Images Sport

    Perdendo, em casa e fora

    O Inter Miami não tem sido tão bom há algum tempo. Suas dificuldades podem ser rastreadas até quase sete meses atrás, na primeira rodada dos playoffs da MLS 2024. A derrota por 2 a 1 para o Atlanta veio com muitos asteriscos — lesões na defesa, Brad Guzan virando um Manuel Neuer de primeira linha, e um técnico claramente fora da profundidade — mas os mesmos problemas continuam.

    Os Herons ainda são vulneráveis ao contra-ataque, dependem demais de estrelas envelhecidas e jogam com emoção demais e pouco controle.

    Uma vitória em sete jogos reflete esse acúmulo de falhas. Houve um efeito positivo com a chegada de Mascherano, que nos primeiros dias disse as coisas certas e integrou bem as novas contratações. Miami começou sólido, superando os adversários quando precisava.

    Nos primeiros seis jogos, sofreu três gols e marcou 14. Com vitórias importantes, como 2 a 1 sobre o Philadelphia Union em 29 de março e uma recuperação dramática na Copa dos Campeões da Concacaf contra o LAFC, o clima era otimista.

    Mas as fraquezas logo apareceram. As equipes agora têm coragem para explorá-las. O FC Dallas foi o primeiro a aproveitar, revertendo um déficit contra um Miami sem Messi, numa vitória por 4 a 3 em 29 de abril.

    Desde então, as coisas pioraram rápido. Messi está visivelmente frustrado com companheiros e árbitros. Miami não vence desde 3 de maio e foi eliminado da Copa dos Campeões da Concacaf pelo forte time de Vancouver.

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  • Minnesota United FC v Inter Miami CFGetty Images Sport

    Como o Orlando City venceu o Inter Miami

    A resposta de Mascherano contra o Orlando foi entrar no ritmo do jogo. Ele escalou Alba, lateral de origem, como ponta esquerda. Já Noah Allen, zagueiro canhoto, atuou na lateral esquerda e se juntava ao meio-campo quando o Inter Miami tinha a bola.

    Para ser justo, a ideia fazia sentido. Alba é mais eficaz no terço final e já não tem fôlego para subir e descer o campo o tempo todo. Colocar um jogador onde ele rende mais costuma funcionar — mesmo que Alba tenha atuado como ponta esquerda por apenas oito (!!) minutos em mais de 600 partidas no futebol profissional.

    Mas o plano falhou. Alba errou todos os sete cruzamentos que tentou e passou a maior parte do tempo vagando por zonas centrais. Quando a jogada era pela direita, ele se deslocava para o meio. Não era o mesmo lateral que colava na linha lateral e mandava aquelas diagonais perfeitas para Messi no Camp Nou. O efeito colateral foi evidente: Allen parecia perdido quando Alba saía da posição.

    Some isso a um Suárez apático tentando lances sem direção, Messi sem conseguir encaixar um passe decisivo e Yannick Bright num raro dia ruim no meio-campo — e o cenário para mais uma derrota em casa estava montado.

  • FBL-CONCACAF-CHAMPIONS-MIAMI-LAFCAFP

    Um modelo tático que não está funcionando

    Após a partida, Mascherano assumiu a responsabilidade:

    "Claramente o responsável sou eu, já disse isso antes," ele disse. "Não podemos cometer os tipos de erros que estamos cometendo. Isso foi claramente identificado, mas não adianta eu vir aqui e repetir - porque continua acontecendo. Em muitos desses aspectos, estamos falhando como equipe técnica, e temos que encontrar uma maneira de parar de cometer esses erros para que o time comece a obter resultados."

    Ponto para ele pela autoconsciência. A escalação foi razoável. A tentativa com Alba foi interessante. E a escolha por Tadeo Allende, mais intenso fisicamente que Cremaschi, fazia sentido.

    Mas o que realmente recai sobre Mascherano é a insistência num sistema que não funciona com esse elenco. Ele quer um time com linha alta, que pressione no terço final e force o erro do adversário. A ideia tem lógica — Miami quer ter a bola, tem bons nomes para isso e, em teoria, jogadores dispostos a correr. É um modelo comparável, com as devidas proporções, ao da Argentina campeã do mundo em 2022.

    Só que há uma diferença fundamental: o Inter Miami não tem a inteligência tática nem o físico necessário para isso. Jogar com linha alta exige compactação total entre as três linhas e movimentação coordenada da zaga. Também pede zagueiros velozes e atentos para cobrir as costas em caso de erro.

    Mas Busquets está envelhecido e nunca foi veloz. Messi e Suárez pouco contribuem sem a bola. Alba precisa se poupar fisicamente. Ou seja, quatro titulares não servem ao sistema.

    A defesa também não ajuda. Maxi Falcon, contratado para ser referência, é nervoso e vive fora de posição. Gonzalo Luján é confiável na saída de bola, mas não é um defensor de elite. Ian Fray e Noah Allen ainda estão em formação e precisam de orientação constante.

    O resultado: Miami leva os mesmos gols, de novo e de novo. A pressão é quebrada facilmente, e um único passe rasga a linha alta, deixando o adversário cara a cara com o goleiro. Mascherano, ex-zagueiro, certamente se imagina no lugar de seus comandados — e talvez devesse começar a pensar como tal ao montar sua equipe.

  • San Jose Earthquakes v Inter Miami CFGetty Images Sport

    As soluções potenciais

    Há algumas soluções possíveis. A primeira seria manter o plano tático atual e fazer ajustes pontuais nas peças. Talvez Cremaschi possa ser melhor aproveitado. Talvez Telasco Segovia seja a resposta. E sempre existe a possibilidade de o Inter Miami vencer qualquer jogo graças ao número 10. "Messi e vibração" não é exatamente uma estratégia confiável — mas às vezes basta. A Copa do Mundo de 2022 está aí para provar.

    A outra opção é mudar. O Inter Miami pode recuar um pouco mais, aceitar que precisará se defender com mais cautela e apostar em um jogo reativo, explorando contra-ataques. Pode não ser o ideal para Messi, Suárez e outros veteranos, mas traria uma estabilidade que a equipe não vê há tempos.

    Adotar esse plano por alguns jogos — especialmente no Mundial de Clubes do próximo mês — pode render resultados imediatos e oferecer o respiro necessário para reorganizar a casa. Mascherano talvez seja criticado por abandonar o “estilo”, mas há méritos em vencer com pragmatismo. Muitos técnicos consagrados construíram carreiras assim.

  • Angel Di Maria Lionel MessiGetty

    Acertando no mercado de transferências

    E, por fim, há o mercado de transferências. Eis alguns dos nomes com os quais o Inter Miami foi ligado nos últimos meses: Ángel Di María, Kevin De Bruyne, Neymar, Paul Pogba e Thomas Müller.

    Algum defensor nessa lista? Nenhum. Todos são craques que ainda podem render algo na MLS — mas compartilham uma característica nada útil para o momento atual do clube: nenhum deles defende. Di María, De Bruyne e Müller até tentam, mas não têm mais físico para isso. Pogba não parece se importar com o conceito. Neymar joga quando e como quer.

    Inter Miami tem algum dinheiro reservado, poupado estrategicamente para a janela de verão da Europa. No entanto, dificilmente poderá investir em outro jogador designado de salário alto. Quem chegar terá que topar uma redução considerável nos vencimentos ou ser uma peça mais acessível para preencher uma carência real. E hoje, a maior lacuna no elenco está na defesa — mais precisamente, alguém que traga liderança e organização ao setor.

    O ideal seria contratar um zagueiro experiente, com rodagem na MLS, que possa estabilizar o sistema e sustentar a tal linha alta. A boa notícia? A janela pré-Mundial de Clubes oferece alguma flexibilidade. O clube tem dez dias para registrar reforços que possam ser utilizados no novo torneio da Fifa. Há boas opções no mercado — e muitos jogadores sonham com a chance de atuar ao lado de Messi.

    O que o clube precisa agora é análise precisa. Contratar alguém só porque "seria divertido" não é mais suficiente.

  • Cavalier SC v Inter Miami CF - 2025 Concacaf Champions CupGetty Images Sport

    Mantendo seus antigos companheiros de equipe ao seu lado

    E se nada disso funcionar, o Inter Miami pode ter que voltar os olhos para o homem no centro de tudo: Javier Mascherano. Desde o início, sua contratação foi uma aposta. Sem experiência em clubes e com um histórico irregular à frente das seleções de base da Argentina, sempre pairou a sensação de que ele foi escolhido para manter o quarteto do Barcelona — Messi, Suárez, Busquets e Alba — confortável.

    O próprio Mascherano deixou isso claro desde o primeiro dia:

    “Estou aqui para tentar ajudá-los. Como disse desde o primeiro dia, estou aqui para ajudá-los a ter sucesso. Não há muitos segredos no futebol. Você tem que tentar dar a eles algumas ideias, e eles farão o resto.”

    A boa notícia para ele é que isso provavelmente garante alguma estabilidade no cargo. Ele conhece Messi e conta com sua confiança. Mesmo que os resultados decepcionem ou que o time não cause impacto no Mundial de Clubes, demitir o técnico seria precipitado — e talvez até contraproducente neste momento da temporada.

    Afinal, ainda estamos no primeiro terço do calendário. O Inter Miami, apesar das falhas, continua sendo um time de playoffs. Se Messi engrenar, Mascherano terá margem de manobra. Ainda assim, as rachaduras no sistema são visíveis. O time está mal ajustado. As ideias não se traduzem em execução.

    Manter o vestiário feliz é importante, mas Mascherano terá que provar que pode mais do que isso. Ajustes são urgentes se quiser chegar competitivo ao inverno — ou sua permanência poderá entrar em pauta.