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Mike Maignan Gianni Infantino racism GFX GOAL

Chega de conversa: a Fifa precisa encerrar partidas em que houver racismo

Na tarde de sábado (20), o meio-campista do Coventry City Kasey Palmer foi vítima de abuso racial por parte de alguns torcedores do Sheffield Wednesday. O jamaicano nascido na Inglaterra ficou chocado, mas ao mesmo tempo pouco surpreso com os cânticos racistas.

"Sou negro e orgulhoso, e estou criando meus três filhos para serem exatamente iguais", escreveu nas redes sociais, após o jogo em Hillsborough. "Serei honesto, parece que as coisas nunca vão mudar, não importa o quanto tentemos".

E ele está absolutamente certo. Apenas algumas horas após as cenas vergonhosas em Sheffield, o goleiro titular do Milan, Mike Maignan, foi submetido ao mesmo tratamento condenável por parte dos torcedores da Udinese, enfatizando o fato de que os incidentes de abuso racial continuarão porque a questão ainda não está sendo adequadamente enfrentada.

  • Sem real punição

    Obviamente, o racismo vai muito além dos limites do campo de futebol. É um problema enraizado na sociedade que aflige todas as partes do mundo.

    Mas o futebol não está cumprindo seu papel. Existem muitos sinais e slogans, mas nunca há uma ação significativa. Os fechamentos de estádios são parciais ou demasiadamente breves, as sentenças frequentemente são suspensas e as multas são sempre irrisórias. Consequentemente, não há uma verdadeira punção para os racistas.

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  • Maignan Udinese MilanGetty Images

    "Não dá para jogar assim"

    Como Maignan disse à Milan TV: "[Esse comportamento] não deveria existir no mundo do futebol, mas infelizmente, por muitos anos, isso é recorrente. Todos nós temos que reagir. Devemos fazer algo porque não dá para jogar assim".

    Por um tempo inaceitável, esperava-se que jogadores de cor fizessem exatamente isso: apenas seguir em frente. A ideia equivocada era que os racistas não deveriam ter a satisfação de ver o quanto seus abusos estavam prejudicando outros seres humanos, e que a melhor maneira de os vitimizados responderem era deixando que seus pés falassem por eles.

    Mas, como apontou o lendário jogador do Arsenal, Ian Wright, "seguir jogando, apesar disso" não funcionou de forma alguma.

  • "Alguém pode explicar isso, por favor?"

    Vale muito bem lembrar, Moise Kean e Romelu Lukaku já chegaram a ser punidos após reagirem. Kean foi acusado pelo seu próprio companheiro de equipe, Leonardo Bonucci, de provocar os torcedores do Cagliari que o insultaram racialmente, enquanto Lukaku até recebeu um segundo cartão amarelo por literalmente enfrentar os torcedores da Juventus.

    "Alguém pode explicar isso, por favor?" escreveu a Common Goal, após o cartão vermelho aplicado ao belga, em Turim. "Por muito tempo, houve apelos por punições reais para o racismo no futebol e, por muito tempo, esses apelos foram ignorados".

    "É muito claro que não está sendo feito o suficiente para combater o racismo no futebol, que fez manchetes em todo o mundo este ano, com os ataques contra Vinicius Jr. exemplificando o trabalho que o futebol ainda precisa realizar".

    "Todo o mundo do futebol - desde os clubes até as federações e os torcedores - precisa levar o racismo no jogo a sério. O ônus não deve recair apenas sobre aqueles que são alvos de abusos racistas para detê-los", encerrou a nota da organização.

  • Maignan Udinese Milan Serie AGetty

    Aqueles que ficam calados são 'cúmplices'

    Muitas vezes, argumentou-se (geralmente por presidentes e presidentes de clubes que falham miseravelmente em lidar com os racistas em sua torcida) que não é correto punir a maioria dos torcedores por causa das ações de uma pequena minoria.

    Mas Maignan destruiu esse argumento no dia seguinte ao jogo em Udine, declarando: "Os espectadores que estavam nas arquibancadas - que viram tudo, que ouviram tudo, mas escolheram permanecer em silêncio - são cúmplices".

  • "Não pode ser responsabilidade dos jogadores resolver isso"

    É verdade que tomar uma posição nunca é fácil, especialmente contra aqueles que geralmente são tão intimidadores quanto ignorantes. Mas o Kick It Out está certo ao argumentar que "não pode ser responsabilidade dos jogadores resolver isso. Gostaríamos que não fosse o caso, mas eles já estão mostrando coragem sob extrema angústia e trauma emocional".

    A verdadeira responsabilidade, é claro, recai sobre as autoridades, mas inegavelmente há uma obrigação dos torcedores denunciarem sempre que ouvirem um dos seus racialmente insultando um jogador, e a melhor maneira de incentivar a autorregulação entre os torcedores é não apenas interromper os jogos - mas conceder imediatamente a vitória à equipe da vítima ou vítimas.

  • Gianni Infantino 2023Getty

    Hora de Infantino dar um passo à frente

    Felizmente, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, finalmente chegou a essa conclusão. "Os eventos que ocorreram em Udine e Sheffield são totalmente abomináveis e completamente inaceitáveis", disse ele.

    "Além do processo de três etapas (jogo interrompido, jogo reiniciado e jogo abandonado), temos que implementar uma derrota automática para a equipe cujos torcedores cometeram racismo e causaram o abandono do jogo, além de proibições de estádio em todo o mundo e acusações criminais para os racistas", concluiu.

    Mas Infantino simplesmente precisa cumprir com sua ameaça. "Chega", como disse Kylian Mbappé, companheiro de equipe de Maignan. O tempo de falar acabou. A ação é agora imperativa. Caso contrário, as coisas nunca vão mudar.