Champions League da Ásia é o caminho para Cristiano Ronaldo voltar a dominar um continente

Ronaldo marcou 30 gols em 31 jogos em todas as competições pelo Al-Nassr até agora na temporada 2023/24. O cinco vezes eleito melhor do jogador do mundo conseguiu terminar o último ano como o maior artilheiro do futebol masculino, com 54 gols entre clube e seleção.

"Fui o melhor artilheiro desta temporada, imagine superar jovens como [Erling] Haaland... Estou orgulhoso", disse ele, no Dubai Globe Soccer Awards. "Gosto de quando as pessoas duvidam de mim e então tenho sucesso. Não me afeto pelas críticas".

Apesar das façanhas do capitão de Portugal, o Al-Nassr foi para a pausa de janeiro sete pontos atrás do Al Hilal na Saudi Pro League. E a pior atuação de Ronaldo até agora veio justamente quando as duas equipes se enfrentaram, no Blue Jewel, em 1º de dezembro. O Al Hilal venceu confortavelmente por 3 a 1 e, salvo uma grande catástrofe, deve ficar com o título.

Mas Ronaldo não necessariamente vê a atual diferença de qualidade entre Al Nassr e Al Hilal como algo ruim.

"A liga saudita não é pior que a Ligue 1", acrescentou ele na cerimônia do Globe Awards. "A Saudi Pro League é mais competitiva do que a Ligue 1".

Embora tenha sido uma comparação ridícula, o atacante está realmente com a razão quando diz que o Sauditão é uma competição séria e que terá peso em seu currículo se eventualmente vencê-la com o Al Nassr.

Ronaldo é conhecido por sua impressionante condição física, mas pode precisar de um tempo para se recuperar após as últimas semanas sem jogos. O Al Nassr decidiu cancelar sua turnê pela China após seu astro sofrer uma lesão muscular, e ele veio a público para pedir desculpas aos fãs que estavam ansiosos por amistosos contra o Shanghai Shenhua e o Zheijang.

"Como vocês sabem, no futebol há coisas que não podemos controlar," disse Ronaldo. "Joguei 22 anos de futebol e sou um jogador que não tem muitas lesões. Estou triste. Infelizmente, tenho alguns problemas, mas isso faz parte do futebol e da vida".

A lesão também impediu Ronaldo de participar do confronto do Al Nassr, na Riyadh Season Cup, contra o Inter Miami, inicialmente anunciado como a 'última dança' entre ele e o eterno rival, Lionel Messi. Ronaldo conseguiu retornar a tempo para um confronto subsequente na mesma competição, mas parecia 'enferrujado', vendo o Al Nassr sendo superado pelos líderes da Pro League, por 2 a 0.

Para piorar as coisas, Ronaldo gerou controvérsia ao parecer esfregar sua virilha em um cachecol do Al Hilal que foi lançado em sua direção, após ter claramente sido provocado por cânticos envolvendo Messi vindos da torcida adversária. Os torcedores do Al Hilal pediram que Ronaldo fosse punido por uma mostra flagrante de desrespeito.

Al Nassr e Ronaldo certamente esperam pela chance de se vingar do Al Hilal eventualmente na Liga dos Campeões da Ásia, que retorna nesta semana. Ambos os clubes avançaram para as oitavas de final, e o Al Nassr ainda teve um sorteio favorável, contra o Al Feiha - que está em 14º lugar na Saudi Pro League - e, se eventualmente se classificarem às quartas, contra o Nasaf, do Uzbequistão, ou o Al Ain, dos Emirados Árabes. O Al Hilal poderia ser o adversário nas semifinais.

Historicamente, não há ninguém melhor que Ronaldo em competições continentais, com cinco medalhas de campeão da Liga dos Campeões da UEFA e o recorde de artilheiro de todos os tempos do torneio, com 140 gols.

Fiel à sua palavra, o jogador de 39 anos agora busca mais recordes na Ásia, já exibindo ótimas performances na fase de grupos, com três gols marcados. Não fosse o bastante, some, então, mais um tento à sua contagem nesta temporada: o português - claro que foi o português - foi quem marcou o gol da vitória do Al Nassr sobre o Al Feiha, pela partida de ida das oitavas; a volta acontece na próxima quarta-feira (21), em Riade.

Ronaldo pode não estar no melhor humor neste retorno. Segundo o jornal saudita Al-Riyadiya, Castro arriscou criar uma possível divisão no vestiário ao não relacionar o colega de Ronaldo na seleção de Portugal Otávio para esta primeira partida.

As leis atuais da federação asiática permitem que cada equipe inclua apenas seis jogadores estrangeiros - com Ronaldo, Aymeric Laporte, Aziz Behich, Marcelo Brozovic, Sadio Mané e Anderson Talisca sendo preferidos.

Escolher Behich, australiano de 33 anos recém-chegado, emprestado pelo Melbourne City, em vez de Otávio, é uma decisão que pode se voltar contra Castro, mesmo que seja uma clara tentativa de garantir que o Al Nassr tenha profundidade na defesa. Otávio tem sido um dos melhores jogadores do clube nesta temporada, e certamente será difícil para ele ficar de fora de um jogo tão importante.

Castro tem sido criticado frequentemente desde que chegou ao Al Nassr, em julho passado, principalmente em jogos decisivos. Tais críticas certamente voltarão à tona se o Al Feiha surpreender neste meio de semana.

O Al Nassr também está sem dois jogadores-chave nesta semana: David Ospina e Abdulrahman Ghareeb, ambos se recuperando de lesões. O ex-goleiro do Arsenal foi titular na goleada de 6 a 0 do Al-Nassr sobre o Inter Miami, mas teve que ser substituído após apenas 32 minutos, devido a um problema na coxa.

Ospina havia acabado de retornar à boa forma, em dezembro, após se recuperar de uma cirurgia no cotovelo que o deixou fora por um ano. Inicialmente, ele será ausência pelo menos até o final de fevereiro. Nawaf Alaqidi, que tem contrato se encerrando em junho, será o substituto, após se destacar na Copa da Ásia, pela Arábia Saudita.

Enquanto isso, Ghareeb enfrenta três semanas no departamento médico após uma lesão nos treinos. O talentoso ponta também impressionou pela Arábia Saudita durante a sua campanha até as oitavas de final da Copa da Ásia. Ele acumula 11 contribuições de gol em 27 partidas até aqui. Apesar de sua ausência, Mané deve ser o preferido para o lado esquerdo.

O Al Nassr pode não estar totalmente com sua força máxima contra o Al Feiha, mas ter Ronaldo de volta automaticamente os coloca como favoritos. Ele pode ter perdido o ritmo e a agilidade de seus anos mais jovens, mas ainda é um finalizador de elite. Sua simples presença já torna o Al Nassr perigoso contra qualquer adversário.

"Sabem que o Ronaldo é uma máquina. Seu combustível são os gols," disse o ex-técnico do Real Madrid, Fabio Capello, em uma recente entrevista ao Marca. "Esta é a sua maior qualidade, que continua em vigor mesmo com o passar dos anos".

Ronaldo é um exemplo brilhante para a geração mais jovem com seu trabalho duro e dedicação fora de campo. Estar ainda atuando em alto nível mesmo aos 39 anos é um consequência disso, e, enquanto ele continuar balançando as redes e conquistando troféus, não há motivo para pendurar as chuteiras.

A perspectiva de vencer uma segunda Eurocopa com Portugal neste meio de ano também é uma motivação para Cristiano Ronaldo. Há quem diga que o português não consegue mais se destacar no mais alto nível, mas Roberto Martínez não perdeu a fé.

Quando perguntado se Ronaldo ainda seria bom o suficiente para atuar na Liga dos Campeões, o técnico de Portugal respondeu, ao The Times: “Totalmente. Ele é incrível com sua capacidade de se reinventar. Este não é o jogador que vimos na primeira passagem pelo Manchester United, ele não é um jogador de lado. Agora ele é um finalizador, alguém que entende a qualidade de movimento na área, e é uma ameaça incrível. E experiente".

A Liga dos Campeões da Ásia não pode se comparar à UEFA Champions League em prestígio, mas, se conseguir liderar o Al Nassr ao título continental, em maio, Ronaldo estaria apenas comprovando que o que Martínez diz não é uma simples viagem.