Acabou a lua de mel? Como o Barcelona passou de sensação da Europa a ver liderança de LaLiga ameaçada pelo Real Madrid

O Barcelona de Flick tem um estilo de jogo arrojado. Uma linha incrivelmente alta permite que eles coloquem os adversários sob uma séria pressão, mas também os deixa vulneráveis aos contra-ataques bem executados, devido ao espaço amplo que deixam atrás de sua linha defensiva. Quanto a Flick, no entanto, o risco vale muito a pena. A goleada sobre o Real Madrid foi um exemplo disso.

Carlo Ancelotti reconheceu anteriormente que a linha alta do Barça era um problema que ele precisava resolver. Ele disse que tinha um plano em mente, mas, seja qual fosse, claramente não funcionou, pois o Real simplesmente não conseguiu lidar com os catalães e seus atacantes fizeram a festa, com Robert Lewandowski, Yamal e Raphinha marcando.

Flick conseguiu sufocar os campeões europeus e espanhóis, e foi até relatado depois que ele havia dito aos seus jogadores durante o intervalo: "Qualquer um que recuar um metro, eu vou substituí-lo!"

No entanto, embora suas táticas tenham definitivamente funcionado como um encanto, o placar final indiscutivelmente lisonjeou os visitantes. A atuação deles foi impressionante e a vitória totalmente merecida, mas, para que ninguém esqueça, o Real Madrid criou muitas chances (seu xG foi de 1,48 contra 2,58 do Barça) e teria sido um jogo muito diferente se Kylian Mbappé tivesse sido capaz de acertar uma arrancada.

E o que estamos começando a ver nas últimas semanas é o que acontece quando a pressão e a linha alta do Barça falham.

O Barça foi derrotado por 1 a 0 pela Real Sociedad no dia 10 de novembro e foi inegavelmente prejudicado com a anulação de um gol legítimo pelo VAR - mas até mesmo a controvérsia em torno de uma marcação de impedimento errônea sobre Lewandowski não conseguiu disfarçar a natureza ruim da atuação dos Blaugranas na Reale Arena.

Foi uma história semelhante em seu jogo seguinte em LaLiga, contra o Celta Vigo. O Barça ficou no empate por 2 a 2 após sofrer dois gols nos seis minutos finais, depois da expulsão de Marc Casadó, mas Flick foi o primeiro a admitir que tinham sido terríveis a noite toda.

"Não foram apenas os últimos 10 minutos," disse o alemão aos repórteres. "Foi o jogo inteiro. Jogamos uma partida realmente ruim. Temos que ser honestos. Cometemos muitos erros, também no primeiro tempo, e não estávamos confiantes com a bola. Não jogamos o futebol que estamos acostumados. Tivemos sorte em algumas situações e no final conseguimos um ponto e temos que reagir porque isso não pode se repetir."

"Essas são coisas que podem acontecer, mas temos que olhar para frente. A coisa menos ruim é que é apenas um jogo e conseguimos um ponto, mas não estamos felizes e nem os jogadores. Todos podem jogar melhor do que hoje."

O problema é que poucos conseguiram jogar bem nas últimas partidas e o Barça viu uma vantagem enorme em LaLiga acabar quase que completamente.

Injusto para o Barça, eles realmente deveriam ter vencido o Las Palmas no sábado. Como Flick apontou, eles criaram chances mais do que suficientes para isso: "Tivemos 70% de posse de bola e 27 chutes." Em outro dia, poderiam ter vencido facilmente - em vez de perder por 2 a 1 em casa para um time que não vencia o Barça fora de casa há 53 anos.

No entanto, a derrota não está sendo descartada como nada mais do que um resultado atípico. Só que o Barça já deixou escapar oito pontos nos últimos três jogos e agora questões estão sendo levantadas sobre um time que está passando por sua primeira má fase.

"Estamos baixando o nível do que estávamos fazendo," confessou Raphinha à TV3 depois de ver seu gol de empate no sábado não ser o suficiente para buscar uma vitória tão necessária. "Há muitas coisas que estamos fazendo errado".

"Estou com raiva. Não me importo muito com o meu gol, só me importava com a vitória e não vencemos, então não estou satisfeito."

Flick não tem dúvidas de que o Barça pode dar a volta por cima, começando com a difícil viagem à Mallorca na terça-feira. "Eu acredito nos jogadores," ele disse. "Tenho fé neles."

O ex-treinador do Bayern também negou que a equipe esteja repentinamente sofrendo de algum tipo de crise coletiva de confiança. No entanto, Flick não contestou as alegações de que seu time não está mais demonstrando a mesma intensidade e coesão de antes. Em um momento em que o Barça deveria estar melhorando com o retorno de várias peças-chave de lesão, eles estão na verdade parecendo cada vez mais desarticulados.

"Quando comecei aqui já disse a eles que não haveria desculpas," disse o alemão. "É normal que alguns jogadores, quando retornam de lesão, não estejam em seu nível mais alto, mas se jogarmos como um time devemos ser capazes de vencer qualquer um. Mas se alguns jogadores estiverem desconectados, não vai dar certo."

"A defesa não se resume apenas aos quatro jogadores na retaguarda. Jogadores sozinhos não podem vencer jogos. É sempre sobre o time. Precisamos ter boas conexões na defesa e no ataque. Temos que mudar, temos que defender melhor. Temos que voltar e nos reconectar." E o mais rápido possível.

Certamente não é um bom presságio para o Barça que o Real Madrid esteja apenas um ponto atrás do primeiro lugar - com um jogo a menos - apesar de todos os tipos de problemas com lesões e a integração de Mbappé em uma equipe vencedora. Se os Galácticos de Ancelotti eventualmente se encaixarem, isso será um problema para todos os outros times de LaLiga. No entanto, também vale a pena notar que o Atlético de Madrid emergiu como um grande candidato ao título. A equipe de Diego Simeone venceu seus últimos quatro jogos enquanto sofreu apenas um gol e os Rojiblancos estão agora a apenas dois pontos atrás do Barça.

Claro, Flick estará focado em seu time em vez da dupla ameaça de Madri - e uma preocupante dependência de Yamal. O ponta é claramente um talento geracional - ele provou isso na Eurocopa - mas ainda tem apenas 17 anos e seu tempo de jogo precisará ser gerenciado com cuidado, então não é um bom sinal que o Barça não tenha vencido nenhuma das quatro partidas da liga que ele não começou nesta temporada.

Além de contribuir com sete assistências em LaLiga, Yamal é também o driblador mais perigoso do Barça de longe e o time simplesmente não tem a mesma ameaça ofensiva sem ele em campo.

Ainda bem, então, que a estrela da Espanha na Euro 2024 fez seu retorno de lesão contra o Las Palmas antes de uma sequência crucial de partidas para o Barça até a pausa no calendário. Além de viajar para enfrentar o sexto colocado Mallorca esta semana, o Barça também enfrenta o Betis em Sevilha. Jogar contra o Leganés em casam no dia 15 de dezembro deve ser uma tarefa muito mais simples (embora pensássemos o mesmo antes da derrota para o Las Palmas!), mas os Blaugranas precisarão de todos no seu melhor contra o Atlético, no dia 21 de dezembro.

A boa notícia, porém, é que jogadores como Gavi, que acabou de voltar ao time titular após lesão, e Frenkie de Jong devem ter muito mais tempo de jogo até lá, enquanto Dani Olmo, com sorte, conseguirá deixar de lado suas pequenas lesões nas próximas semanas.

A notícia de que o zagueiro Ronald Araujo está próximo de retornar à ação também é um grande incentivo para o Barcelona - especialmente porque seu retorno à melhor forma e condição física aliviaria significativamente a pressão sobre Yamal e Raphinha para sempre fazerem algo acontecer.

Ainda assim, os problemas recentes do Barça parecem mais mentais do que físicos, com Flick admitindo antes do jogo contra o Mallorca que ele enfatizou aos seus jogadores a necessidade de jogar com o nível necessário de agressividade.

"Hoje falei sobre lutar, não apenas jogar futebol," disse o técnico aos repórteres em sua coletiva pré-jogo. "Quando fui jogador, me concentrei muito nessa atitude. Nunca gostei de perder e acho que temos que criar mais uma mentalidade de luta para ganhar jogos. Nos saímos bem em algumas situações no campo, mas temos espaço para melhorar."

Ele tem razão. Sabemos que este time do Barça pode jogar um futebol bonito. Como Yamal disse, eles provaram isso contra o Bayern e o Real Madrid. O que não sabemos é se eles são mentalmente fortes o suficiente para lidar com derrotas.

O versátil defensor Jules Koundé admitiu após o colapso contra o Celta: "Quando as coisas estão indo bem, é fácil." Mas agora que as coisas ficaram difíceis, descobriremos se o Barcelona ainda realmente se considera o melhor time do mundo.