Lionel Messi e Philippe Coutinho protagonizam os dois assuntos mais recorrentes ao longo da atual campanha do Barcelona. O primeiro, por causa de sua temporada aparentemente ainda mais espetacular do que nos anos anteriores. O segundo, pelo desempenho aquém do esperado para a maior contratação na história do clube e, agora, pela postura ao lidar com as críticas.
O brasileiro, contratado na metade da temporada passada por € 130 milhões, chegou com o status de titular seja na faixa esquerda do meio-campo quanto mais livre para atacar como ponta. Tinha tudo para ser um grande nome do time ao reencontrar Luis Suárez, com quem fez bela parceria no Liverpool, e para tabelar com Lionel Messi. Envolto em polêmicas e sofrendo com lesões, Ousmane Dembélé, seu concorrente, parecia estar relegado a uma função secundária: seria aquele ponta veloz e driblador que Ernesto Valverde poderia colocar durante um jogo mais difícil para fazer um ‘salceiro’, encontrar espaços e criar chances quando os adversários já estivessem mais cansados.
Como não podia disputar a Champions League na temporada passada, uma vez que já havia jogado pelo Liverpool, Coutinho só atuou domesticamente e desempenhou um bom papel nas conquistas de Copa do Rei e Liga Espanhola. A boa Copa do Mundo pelo Brasil, quando talvez tenha sido o melhor jogador de Tite, deu ânimo para o ex-jogador do Vasco começar bem a temporada 2018-19. Foi o que aconteceu até o clássico contra o Real Madrid. Com Messi lesionado, o brasileiro parecia ter chamado a responsabilidade para si ao abrir o placar na goleada por 5 a 1 no final de outubro. O problema é que logo depois de um de seus melhores jogos, o desempenho caiu vertiginosamente: vieram as críticas e os torcedores passaram a comemorar mais os gols decisivos anotados por Dembélé.
"Esta temporada não tem sido a melhor", reconhece Coutinho
Daquela vitória sobre o Real Madrid até o gol sobre o Levante, já em 2019, Coutinho passou nove jogos sem estufar as redes e somando apenas uma assistência no período. Evidente que se esperava mais de um jogador com tamanho talento, e o alerta foi dado nas entrelinhas das coletivas de Ernesto Valverde na reta final de 2018. Coutinho chegou a perder a posição para Dembélé, que provou em campo ser mais decisivo do que o brasileiro em gols (alguns que inclusive garantiram vitórias) e assistências. Philippe apresentou leve melhora nos últimos meses, onde voltou a ser mais vezes titular enquanto o ponta francês recuperava-se de novas lesões – na atual temporada, Dembélé já perdeu nove partidas por causa de problemas físicos.
Philippe Coutinho, pouco a pouco, tem dado a resposta em campo com boas jogadas. O gol marcado na vitória por 3 a 0 sobre o Manchester United, na partida que garantiu o Barcelona na semifinal da Champions League relembrou os seus melhores momentos: chute certeiro de fora da área, sem chances de defesa para o goleiro. Tudo levava a crer que o ‘Pequeno Mágico’ iniciaria um bom momento no clube, acabando com os constantes questionamentos. O problema foi que, ato contínuo ao golaço sobre os ingleses, o camisa 7 comemorou como se desafiasse os seus próprios torcedores. Levou as mãos aos ouvidos, como se dissesse ter sido injustiçado pelas críticas. Os exigentes apoiadores do clube catalão evidentemente não gostaram.
Foi por isso que Philippe Coutinho foi vaiado por parte do Camp Nou no último sábado (20), quando saiu do banco de reservas para substituir um Ousmane Dembélé que teve desempenho decisivo ao dar assistência para o primeiro gol nos 2 a 1 sobre a Real Sociedad. Após a partida, que deixou o Barça ainda mais perto do título espanhol, tanto o técnico Ernesto Valverde quanto o porta-voz do clube, Guillermo Amor, diminuíram a reação dos torcedores e exaltaram o brasileiro. Colocaram panos quentes, como deve ser feito neste específico caso: o jogador sempre demonstrou entrega, é a maior contratação na história do clube, possui um talento inquestionável e ainda pode ajudar nos resultados. O problema, além de ter errado em sua comemoração, está justamente na comparação com Dembélé.
GettyMesmo com lesões, Dembélé foi mais decisivo do que Coutinho até aqui (Foto: Getty Images)
| 2018-19 | Coutinho | Dembélé |
|---|---|---|
| Jogos | 48 | 38 |
| Jogos como titular | 32 | 27 |
| Gols | 11 | 14 |
| Assistências | 5 | 8 |
| Chances criadas | 50 | 66 |
| Dribles certos | 79 | 86 |
Apesar de ter entrado menos vezes em campo, o francês tem mais gols e assistências do que Coutinho e decidiu em jogos mais complicados. A sua característica mais aguda, de receber na velocidade e partir para cima do adversário, faz com que também chegue mais vezes na área adversária e busque mais dribles. Pressionado não apenas por vestir a camisa do Barcelona, mas também por ser o jogador mais caro na história da instituição, Coutinho desabafou equivocadamente. A sua irregularidade nesta temporada, assim como a comparação com seu grande concorrente, deixam isso claro. O talento ele tem, a questão é decidir mais vezes. Esta sim é a melhor resposta possível que ele pode dar.
