
A camisa do Celtic é mais importante e pesada do que a do Paris Saint-Germain quando analisamos a história e tradição do futebol. Exatamente por isso o treinador da equipe escocesa, Brendan Rodgers, alfinetou o adversário desta quarta-feira (22) durante entrevista pré-jogo.
“Você não pode comprar uma história. Para isso, precisa conquistar troféus”, afirmou o norte-irlandês, talvez sem saber que estaria cavando a sua própria sepultura.
Porque ainda que tenha explicado o óbvio com outras palavras, no intuito de não ofender os parisienses, a manchete já estava lá. Os jogadores do clube que fez as duas maiores contratações da história, em uma única janela de transferências, tinham que dar alguma resposta.
E, já classificados, fizeram isso com uma goleada por 7 a 1, que estipulou um novo número recorde de gols anotados em uma fase de grupos da Champions League [24, superando os 21 do Borussia Dortmund da última temporada com uma rodada a menos]. A surra aplicada no Parque dos Príncipes mostrou que o PSG está no caminho certo para reclamar a coroa de rei na Europa, e de olhar como um igual para o tradicionalíssimo time escocês.
Tudo começou com um susto, quando Moussa Dembélé colocou os escoceses em vantagem com apenas um minuto de jogo. Mas ao final do primeiro tempo, os donos da casa já haviam mostrado quem é que mandava. Os 45 minutos iniciais terminaram com o placar de 4 a 1 para o PSG, com direito a dois gols de Neymar, agora ao lado de Rivaldo como segundo maior goleador brasileiro na história da Champions League.
Neymar, aliás, foi mais certeiro do que em qualquer outro desafio anterior nesta edição do certame europeu: arriscou o menor número de finalizações [3] e fez o maior número de gols [2]. E durante todo o tempo criou mais oportunidades [5] do que qualquer outro em campo.

O resultado disso foi o número recorde de gols e finalizações certas [11] do PSG nesta edição. Tudo isso jogando um futebol bonito de se ver, com muita troca de passe e empurrando os escoceses, acuados, para mais perto do próprio gol. Nesta quarta, o PSG teve o seu melhor aproveitamento em passes [91.45%], inclusive dados no campo de ataque [87.53%].
Do outro lado, a camisa pesada responsável por desarmar, com jogo ofensivo, uma das maiores retrancas da história do futebol [o Catenaccio usado pela chamada Grande Inter, na decisão de 1967], não honrou as suas tradições. Apesar de a escalação oficial da UEFA ter colocado o Celtic em um 4-1-4-1, Brendan Rodgers optou por uma defesa com cinco homens – sendo três zagueiros. Fracassou.
Escalações das equipes para o jogo (Foto: Opta Sports)
A escolha por um time fechadinho, que ainda buscou, sem sucesso, ocupar o meio-campo, não é um crime para o Celtic atual. Embora a camisa tenha o seu peso e legado histórico, a diferença de investimento para o PSG é gigante. E no futebol moderno, o dinheiro tem importância crucial. A equipe de Glasgow não tem a condição técnica para acuar os parisienses, e tampouco a grana para comprar jogadores que podem fazer isso.

O Celtic, que não tem chances de se classificar para as oitavas de final do maior torneio europeu de clubes, tem a camisa mais pesada em relação ao PSG. Só que vale menos do que Neymar. Segundo dados do site Transfermarkt, o brasileiro tem €150 milhões de valor de mercado frente a ‘apenas’ €57,80 dos escoceses. Sozinho, Neymar virou o jogo e depois ainda comemorou os gols de Cavani [2], Mbappé, Dani Alves e Verratti. Isso faz a diferença.
Se o PSG não pode comprar história e tradição com dinheiro, pavimenta a sua biografia com ele. E com um time cheio de craques, que joga bonito e mostra que pode se transformar, em um futuro breve, num time de camisa pesada. Quem é rei, nunca perde a majestade... mas isso não tira dos outros o direito de aumentar a família real do futebol.




