Por Bruno Guedes 
Na última quarta-feira Adriano deu uma entrevista ao Pedro Bial e teve grande repercussão. Como sempre foi, sincero e carismático, o atacante (ou ex-atacante) fez declarações fortes e carregadas de honestidades. Sem pudor, colocou para todos seus medos, dores e traumas. Humano e real. O Imperador foi um retrato de um povo que o assistia, mas durante anos o aplaudiu.
Adriano sempre foi perseguido. No começo da carreira, no Flamengo, era chamado de "Bonecão" pela torcida, porque além de alto, era muito desajeitado. Depois virou Imperador nas terras deles, a Itália. Já com fama, passou a ser alvo, desta vez, da imprensa. Sempre com seu jeito suburbano e que desperta a fúria de muitos no Brasil que fingem ser respeitosos, igualitários e cidadãos, seu passado oriundo de favela servia como "justificativa" para tanto apedrejamento.
Arquivo pessoal / divulgação
(Foto: Reprodução Instagram)
No intolerante momento que vive a sociedade brasileira, muitos questionaram suas atitudes após a entrevista. Escondendo-se sob a capa do "cidadão de bem", como se denominam aqueles que julgam e questionam os outros mas pagam o "cafezinho" do PM para fugir da blitz, olham aplicativo para escapar da Lei Seca e alugam pneus para não serem pegos na vistoria anual, as redes sociais destes não pouparam o Imperador. É o preconceito disfarçado de moralidade.
Nascido e criado na Vila Cruzeiro, em meio às mazelas do Rio de Janeiro que todos fingem não existir, o sucesso dele é algo que incomoda. Principalmente aos falsos "cidadãos de bem" e parte da imprensa, maioria formada pelas PUCs e Federais da vida, onde só a elite consegue chegar.
(Foto: Getty Images)
Mas o povo verdadeiro, aquele que acorda cedo e pega trem lotado para ir trabalhar, este não. Este se viu no Adriano. Sem mascarar as vergonhas, sem precisar fingir ser o que não é para alçar alcunhas "positivas", sem esconder seu passado. E sempre rindo. Como ele, tentando se levantar a cada vez que a vida o joga no chão. Ou as pessoas, que julgam e não importam, apenas fingem conhecimento demonstrando ignorância.
Este foi Adriano Imperador. Estes foram os muitos brasileiros que viram um pedaço da sua história, em qualquer um dos seus momentos narrados, mesmo que por um instante.
Ah... o futebol? Falar de futebol nessas horas é só para lembrar que ele é uma inclusão social fundamental para muitos. Mas Adriano venceu. Venceu os medos, as dores e o preconceito. Sorte dele, porque muitos de onde ele veio não conseguem. Mas mesmo assim há quem questione e julgue estas pessoas.
Só que Adriano não é um deles, hipócritas. Adriano apenas vive e deixa viver. É só mais um brasileiro.
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Bruno Guedes é músico, apaixonado por futebol e beisebol. Brasiliense por certidão e carioca de coração, acredita no futebol brasileiro e tem Romário como o maior jogador que viu dentro das quatro linhas. |