Contratado por 26 milhões de euros, Neto foi apresentado nesta terça-feira (9) como novo goleiro do Barcelona. Mineiro nascido em Araxá, é o segundo brasileiro na história a ser contratado para defender a meta do Barça. Entretanto, será o primeiro a entrar em campo e, ao contrário de seu antecessor, não quer ser esquecido.
Para contarmos a história do primeiro goleiro que vestiu a camisa do gigante da Catalunha é preciso voltar muitas décadas no tempo: em 1931, o Barça contratou o vascaíno Jaguaré, que encantou os dirigentes europeus daquela época durante uma turnê pela Europa.
Jaguaré, entretanto, jamais vestiu oficialmente a camisa do Barcelona. Apesar de constar nos livros de registro do clube, naquela época apenas jogadores com origem espanhola podiam disputar jogos oficiais. Não era o caso de Jaguaré, que ainda teria se recusado a assinar um documento para a naturalização espanhola. Soma-se a isso o desafio de concorrer com Ricardo Zamora, uma das maiores lendas do futebol espanhol. Apesar de ter assinado contrato até 1932, voltou antes para o Brasil.
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A grande novidade que Jaguaré trazia era um par de luvas de couro que usava nas atividades pelo Barcelona, equipamento utilizado primeiramente mais para se proteger do frio do que para obter ganhos técnicos. O Vasco da Gama, contudo, não o quis de volta. O clube de São Januário sentia-se magoado e taxou o arqueiro de traidor. Jaguaré acabou se transferindo para o Corinthians, mas como ainda sonhava em provar o seu valor na Europa entrou em um navio e construiu, ele próprio, seu caminho até ser contratado pelo Olympique de Marseille.
Na França, era chamado de Vasconcelos e entrou para a história com o apelido de Le Jaguar. Foi um dos destaques no primeiro título francês conquistado pelo Marseille, em 1937, e levantou a Copa da França no ano seguinte. Arrojado, marcou a sua história na Europa até mesmo com gols de pênaltis, algo muito raro para um goleiro naqueles tempos – os relatos dizem que desde os tempos de Vasco Jaguaré arriscava chutes fortes durante os treinamentos. Já veterano e notando o avanço do nazifascismo pela Europa, em 1939 pegou um navio para o Brasil e escapou da Segunda Guerra Mundial. Mas teria a própria batalha a ser travada.
Tentou voltar para o Corinthians, mas sua alta pedida foi recusada pelo Timão. À espera de uma chance dentro de seus termos, esperou o tempo passar e o dinheiro acumulado se esvair. Pobre e esquecido, passou a ser preso constantemente devido a confusões que aprontava pelas ruas. Muitas são as versões para a sua morte, mas nenhuma delas é definitiva: teria apanhado até morrer na cidade de Santo Anastácio, no extremo oeste do estado de São Paulo? Morreu como indigente no Manicômio de Juqueri em 1940? Ninguém sabe. O primeiro goleiro brasileiro a vestir a camisa do Barcelona simplesmente desapareceu sem deixar registro.
Sem ter nada a ver com Jaguaré, tirando o fato de vestir hoje a camisa do Barcelona, Neto chega ao novo clube com ambições contrárias: a vontade de jamais ser esquecido. Para isso, o primeiro brasileiro que irá defender oficialmente o Barça terá que vencer a concorrência com Marc-André Ter Stegen. E chega confiante de que poderá fazê-lo.
“Eu o respeito, mas chego para demonstrar o meu trabalho. Tenho experiência, sei o que posso entregar e conheço minhas qualidades (...) Chego ao Barcelona para jogar, para demonstrar o meu trabalho, crescer. Se não fosse para isso, não teriam me contratado”, disse.




