
Por Paulo Madrid
Guardei esse título para uma exibição irretocável. E ela, enfim, chegou. Sólido como nunca defensivamente e efetivo como (quase) sempre no ataque, o Real Madrid foi senhor absoluto do dérbi e deu um passo gigante rumo à Cardiff. Seguramente, a melhor partida da Era Zidane.
E talvez superior até mesmo ao 0-4 de 2014 em Munique. Porque, como bem definiu Cristiano Ronaldo, foi um jogo total. Dessa vez, os merengues apresentaram um arsenal mais completo, para além de uma efetividade implacável, do melhor contra-ataque e melhor bola parada do mundo. Também deram um show de compactação, tanto ofensiva quanto defensiva. Trocaram passes com qualidade e inteligência. Dominaram o meio-campo, anularam o adversário e nunca pararam de atacar.
Durante a maior parte do jogo, a marcação começou já na intermediária do Atlético. Isso complicou bastante a saída de bola dos colchoneros, que nunca se sentiram confortáveis em campo. Quando conseguiram colocar a bola no chão ou roubá-la em posições adiantadas, faltou-lhes criatividade e precisão para superar o excelente sistema defensivo madridista. Era sempre um toque de bola estéril, sem objetividade.
Na única oportunidade clara para os rojiblancos, justiça seja feita, Navas conseguiu uma intervenção monumental. Gameiro tentou driblá-lo, mas o arqueiro deu um tapa na bola e desarmou o atacante. Evitou um gol que possivelmente mudaria a história do confronto.
CURTO DE LA TORRE/AFP/Getty ImagesREAL MADRID: NÚMEROS INDIVIDUAIS CONTRA O ATLETI
O meio de campo blanco desenvolveu seu melhor futebol, sem ser incomodado. Aproximação e trabalho de bola rápido, com triangulações pelos lados do campo e tabelas. Jogou e, tal como é inerente, fez o resto da equipe jogar. Ditou o ritmo, fez o que quis. Colocou os comandados de Simeone na roda, especialmente depois do segundo gol. Isco procurou e encontrou espaços entre as linhas do oponente. Fez bom proveito, bela partida. Asensio o substituiu e manteve o ritmo alto. Kroos fez sua melhor atuação pelo Madrid. Foi o pêndulo, o principal distribuidor de jogadas. Teve impressionantes 99% de acerto nos passes mesmo sem abdicar do jogo vertical.
Sobre Cristiano Ronaldo, faz-se justo rever conceitos. Provavelmente nunca vou compactuar com a personalidade egocêntrica e individualista do português e nunca o terei como um de meus ídolos. Isso não muda. Mas, por outro lado, já não cabe questionar sua participação em jogos decisivos. Incríveis 8 gols nos últimos 3 confrontos europeus (os dois das quartas e a ida das semis) falam por si só.
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É claro que o mérito maior é do atleta, mas a mão de Zidane no caso merece destaque também. À base de planejamento, rotações, o treinador conseguiu contribuir para reverter a dinâmica de CR. Em outras temporadas, o português conseguia ser efetivo nos dois primeiros terços de competição, mas caía de produção na reta final. Na 16/17, ele não foi bem na primeira metade, mas tem sido peça fundamental agora, nas horas mais agudas. Certamente, também pela boa administração de minutos, que ajudou o gajo a estar em um ótimo estado de forma físico e técnico à essa altura.
Zidane conhece o ofício e de bobo não tem nada. A primeira coisa que fez após o jogo foi conter a euforia pelo resultado conseguido. Restam ainda 90 minutos. A vantagem é enorme, de fato. Se fizer pelo menos um gol — tal como fez em seus últimos 59 compromissos — o Madrid precisa levar no mínimo cinco para estar eliminado.
Seja como for, uma das principais características do time de Simeone é a perseverança. Enquanto houver um fio de esperança, os colchoneros não vão largar o osso. Zizou deu o tom: "precisaremos saber sofrer na partida de volta".
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Paulo Madrid. Não, não é uma licença poética. O nome vem de família mesmo. Sorte a minha. A coincidência gerou um interesse que, já desde muito cedo, desembocou em uma paixão. Madridista desde sempre, para sempre. ¡Hala Madrid y nada más! |



