Cristiano Ronaldo Juventus Ajax Champions League 16 04 2019Getty Images

Fé em Cristiano Ronaldo não é o bastante: faltou coragem à Juventus contra o Ajax

A Juventus começou a sua temporada de Champions League como uma das grandes favoritas ao título europeu não apenas por causa da contratação de Cristiano Ronaldo, o maior craque na história do certame continental, mas também por ter se mostrado uma força europeia nas últimas temporadas, em meio ao poderio de Real Madrid e Barcelona. É por isso que, apesar do mérito gigantesco de um Ajax que está encantando o mundo, a eliminação nas quartas de final demonstra que os italianos precisam repensar a postura na hora de encarar um jogo de futebol.

O trabalho feito por Massimiliano Allegri no banco de reservas não apenas fincou as bases da maior hegemonia de um clube em toda a história do Campeonato Italiano: levou a Velha Senhora a duas finais de Champions League. Dentre os clubes que já levantaram a taça Orelhuda, a Juventus só não foi melhor do que Real e Barça nos últimos cinco anos – uma vez que o Atlético de Madrid, também finalista em duas ocasiões neste período, jamais chegou a ser campeão.

As derrotas nas decisões de 2015 e 2017, respectivamente para o Barcelona de Messi e o Real de CR7, evidenciam o fato. Por isso, a chegada de Cristiano Ronaldo, antigo carrasco, elevou todas as expectativas em Turim. E com razão, já que o camisa 7 foi o autor dos cinco gols marcados pelos Bianconeri no mata-mata europeu – com destaque para os três anotados sobre o Atlético de Madrid no duelo de volta das oitavas de final.

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Diante do Ajax a Juve tinha o favoritismo levando em consideração não a história das camisas, mas sim o poder que sai de seus respectivos bolsos hoje em dia: a capacidade de contratar os melhores atletas. Afinal de contas, se os italianos seguem como uma das maiores potências econômicas da Europa, o Ajax está longe disso. A equipe holandesa, desta forma, precisa se adequar a esta realidade e os indícios recentes demonstram grande sucesso. Mas é indubitável que terem voltado a uma semifinal após 22 anos é uma surpresa. Agradável, mas ainda assim uma surpresa.

Porque além de já terem motivos para comemorarem, ao eliminar o Real Madrid com direito a goleada por 4 a 1 no Santiago Bernabéu, o time de Amsterdã também passou por duelos desgastantes na Eredivisie. Sem conquistar o título holandês desde 2014, o Ajax duela ponto a ponto com o PSV e venceu o clássico realizado no final de março – resultado que levou o time treinado por Erik Ten Hag para a liderança somente pelos critérios de desempate. Ou seja: além da Champions League os Godenzonen vivem a tensão de não poderem ser ultrapassados pelo rival no certame doméstico.

A situação da Juventus na Serie A italiana é tão diferente que, talvez pensando na Champions League, a equipe tenha desperdiçado nas últimas duas rodadas a chance de conquistar, de forma antecipada, o oitavo título seguido. Após o empate por 1 a 1 com o Ajax no jogo de ida, os comandados de Allegri estavam cientes do favoritismo e jogaram como se apenas os nomes postos no papel bastassem. Cristiano Ronaldo, mais uma vez, mostrou o quanto eles são importantes. Mas não é o bastante.

Time grande que se propõe a vencer em um futebol cada vez mais intenso também precisa querer a bola para si, e diante deste Ajax os italianos registraram os seus números mais baixos de passes trocados nesta Champions League (382 na ida e 410 nesta terça). O ataque ficou extremamente entregue apenas a Cristiano Ronaldo e a defesa, outrora tida como grande força do time, sofreu dois gols e poderia ter sido mais se Szczesny não estivesse debaixo das traves.

Acima de tudo, no duelo entre a equipe mais velha com a mais jovem na média de idade destas quartas de final, o principal que faltou à Juventus e ao seu treinador foi a coragem de se arriscar. Sair um pouco do pragmatismo e ter ciência de que é preciso ter alternativas que não sejam apenas Cristiano Ronaldo para decidir uma partida. Allegri seguirá no comando, mas para concretizar o sonho de conquistar a Champions League que não é sua há 23 anos, a Velha Senhora não pode mais ser tão dura e previsível em campo.

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