O Real Madrid parecia prestes a definir uma era. Vencedores da Champions League em 1998, 2000 e 2002, a espetacular equipe de Vicente del Bosque foi reforçada com a contratação do brasileiro Ronaldo após a Copa do Mundo de 2002, e parecia pronta para manter o domínio. Mas, ao invés de começar algo especial, aquele foi justamente o início do fim.
Uma vergonhosa derrota por 4 a 0 para o modesto Mallorca terminou com as esperanças de ganhar a Copa do Rei no final de janeiro, mas esta equipe tinha sonhos maiores. Campeã da Liga Espanhola, depois de bater o teimoso e surpreendente Real Sociedad, o Real Madrid tinha adiante em 2003 a Juventus na semifinal da Champions League.
Uma vitória por 2 a 1 na partida de ida no Santiago Bernabéu deu aos homens de Del Bosque a impressão de favoritismo. Mas tudo deu errado para o Real na partida de volta, no Stadio Delle Alpi, em Turim.
O francês David Trezeguet marcou o primeiro da Juve logo aos 12 minutos, empatando o placar agregado. Alessandro Del Piero ampliou para os italianos depois de fazer um carnaval na zaga do Real Madrid, antes do intervalo. O excelente Pavel Nedved marcou um belo gol depois de deixar a bola quicar e fuzilar contra o jovem Casillas.
Quando o Real perdia por 2 a 0, o português Luis Figo teve a chance de colocar os espanhóis em uma situação boa. Mas, o meia cobrou um pênalti fraco, bem defendido por Gianluigi Buffon. O gol de honra merengue veio aos 44 do segundo tempo, com Zinedine Zidane, sem dar tempo para muitas esperanças de reação. A Juve venceu por um placar agregado de 4 a 3.
Com jogadores do nível de Del Piero, Trezeguet, Nedved, Buffon, Edgar Davids, Lilian Thuram, Mauro Camaronesi e Gianluca Zambrotta, a Juventus era uma equipe de elite na época, mas o resultado ainda foi uma surpresa significativa. Foi um verdadeiro choque para o coração dos torcedores do então atual campeão da Champions.
Sem o suspenso Nedved, a Juve perdeu uma das finais mais esquecíveis da história da competição. Justamente contra um grande rival italiano, o Milan, que conquistou nos pênaltis o seu sexto título da Champions após empate sem gols nos 120 minutos de jogo em Old Trafford.
Enquanto isso, os ventos da mudança começaram a soprar em Madri. O contrato de Vicente Del Bosque não foi renovado. O veterano zagueiro Fernando Hierro foi considerado ultrapassado, apesar de ganhar anteriormente duas Champions League e dois títulos da Liga Espanhola. O meia Claude Makelele foi surpreendentemente autorizados a ir para o novo-rico Chelsea, após o Real negar aumento salarial.
O treinador português Carlos Queiroz substituiu Del Bosque, sob o discurso de abraçar uma abordagem mais moderna - frente ao presidente Florentino Perez e ao diretor esportivo Jorge Valdano. Parecia bom, mas não era.
Depois de perder seu dinâmico volante e o zagueiro central que havia liderado sua defesa por uma década, o Real Madrid fez apenas uma contratação na janela de verão europeia, com o meia-armador David Beckham, astro do Manchester United.
O Real já possuía o melhor ponta-direita do mundo, Luis Figo. O que eles precisavam era um defensor como Hierro, um volante como Makelele, e um treinador como Del Bosque. Eles não precisavam de Beckham.
No entanto, as coisas correram bem inicialmente. O Real Madrid liderou a Liga por grande parte da temporada, chegou à final da Copa do Rei e avançou na Champions League - antes de falhar em grande estilo em todas as três competições. Eles perderam a final da Copa do Rei para o Zaragoza, terminaram em terceiro lugar na Liga Espanhola e foram eliminados nas quartas de final da Champions para o surpreendente Monaco - provando o próprio veneno com o empréstimo do atacante Fernando Morientes, destaque do Monaco.
O que se seguiu no Bernabéu foi um carrossel gerencial. Jose Antonio Camacho treinou Madrid por somente seis jogos. Mariano Garcia Remon durou 20 partidas. O brasileiro Vanderlei Luxemburgo durou 45. E Juan Ramon Lopez Caro foi responsável por 24 jogos. Foi um declínio desastroso, até que Pérez renunciou ao cargo em 2005, com o seu projeto 'Galáctico' em farrapos.
Agora em sua segunda passagem como presidente do Real Madrid, Florentino finalmente tem o homem que queria ter em 2003: Carlo Ancelotti. O ex-meia do Milan levou o rossonero ao título que Pérez esperava, depois te tentar contratá-lo ainda em seu primeiro mandato.
Essa foi a primeira de três tentativas para trazer o italiano para o Santiago Bernabéu e foi um caso de sorte Ancelotti ter aceito ao cargo em 2013. O italiano trouxe La Décima para o Real em sua primeira temporada e acrescentou as conquistas da Copa do Rei, a Supercopa da Uefa e o Mundial de Clubes também.
Mas, em uma curiosa coincidência, o futuro do mais recente projeto Pérez, e a continuidade do treinador, agora dependem novamente do resultado de uma semifinal de Champions League contra o Juventus - exatamente como aconteceu em 2003.
