Por João Henrique Castro
O futebol é um esporte cruel! Em uma partida disputada por onze atletas de cada lado, mais três suplentes entrando em cada equipe ao longo da partida, o resultado muitas vezes determina a análise sobre cada um dos indivíduos que esteve em campo.
Poucos atletas sobrevivem incólumes a uma má fase e rótulos são rapidamente atribuídos. O "jogador de time pequeno", por exemplo, é um clássico. O destaque da última Série B se apresenta em um gigante nacional, atua dois jogos, 30 minutos somados, a equipe tropeça em ambos e vem o rótulo: "Aquele ali só serve para time pequeno."
É curioso como, muitas vezes, os adeptos dos rótulos até se surpreendem quando confrontam seus estereótipos com dados concretos. Na época em que houve a tragédia aérea da Chapecoense, por exemplo, um leitor comentou o texto que fiz em homenagem a Ananias, o único entre os atletas que havia passado pelo Cruzeiro, sua surpresa com o fato de que o atacante não havia atuado sequer por 45 minutos no clube. Mas não eram poucos os que argumentavam que na Toca a camisa pesou e que Ananias era jogador para Portuguesa, Chapecoense e outros com menor pressão.
Light Press/CruzeiroFaço esta introdução porque ela nos ajuda a entender o que se passa com Rafinha, a sensação da Raposa no início desta temporada com três gols e uma assistência nos três primeiros jogos do ano. E cuja falta de grife até bem pouco tempo atrás poderia tê-lo condenado a esta mesma sentença cruel e muitas vezes injusta: a de "jogador de time pequeno".
Rafinha fez parte do grupo de jogadores que chegou no segundo semestre de 2016 com a missão de tirar o Cruzeiro da zona de rebaixamento do Brasileirão. Ao lado dele, nomes de maior peso como Rafael Sobis e Ábila, é verdade. Ao longo do campeonato, um coadjuvante na artilharia. Gols contra Coritiba (empate) e Flamengo (derrota) em jogos que não o colocaram como um dos destaques daquela recuperação, ainda que o mesmo tenha sido bastante útil na campanha de recuperação.
Em 2017, também pouco brilho. Os gols foram mais importantes, mas ainda raros. Empates com Santos, Corinthians e vitória sobre a Chapecoense. Na Copa do Brasil foi titular na grande decisão contra o Flamengo, mas também foi discreto. A titularidade, no entanto, já lhe acompanhava desde o início de setembro e assim foi até o final do ano.
Veio a janela de transferências e Rafinha teve proposta do Vasco. Para alguns, sua saída não seria um problema. Muitos destes, aqueles que o rotulariam como "jogador de time pequeno" se Rafinha também não se firmasse como protagonista no clube carioca, independente dos companheiros que ele teria lá a sua disposição. No entanto, valorizado pela comissão técnica e de contrato novo, Rafinha resolveu ficar.
Light Press/CruzeiroFotos: © Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
O excelente início de ano sugere que para o Cruzeiro sua permanência foi positiva. Contudo, pelo perfil, técnico e personalidade, de Rafinha será difícil que sua fase goleadora seja uma constante e que o mesmo se torne um dos protagonistas em uma linha de frente com nomes como Thiago Neves, Fred e Arrascaeta. A tendência é que ele volte a ser um coadjuvante.
Quando e se isso acontecer, porém, o torcedor mais justo e coerente terá a missão de dar a Rafinha o valor que ele tem desde que chegou em 2016. Obediente taticamente, dedicado e competente, Rafinha é do tipo que todo treinador valoriza e que não compromete, especialmente quando tem ao lado bons companheiros.
Não cobro de Rafinha que ele siga sendo o cara da temporada. Mas mantendo o que faz desde que chegou por aqui, não hesitarei em reconhecer também o valor que ele tem no elenco.
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João Henrique Castro é professor, historiador e, obviamente, cruzeirense. Daqueles que sabe que nada brilha mais no céu do que as cinco estrelas que traz no peito. |



