Por Tauan Ambrosio

O domínio do futebol europeu veste uma única cor. Apesar de ter entrado de roxo na decisão disputada contra a Juventus, neste sábado (3), o branco do Real Madrid voltou a fazer história. Uma goleada por 4 a 1 destroçou as esperanças italianas, fez com que a equipe de Santiago Bernabéu conseguisse, pela primeira vez na era moderna da competição, manter o título e mostrar todo o seu poder ofensivo.
A equipe com o melhor ataque da prova acabou com o time da melhor defesa. E fez isso graças a uma exibição espetacular de um meio-campo forte e dinâmico, no segundo tempo. Também graças ao faro de gols inquestionável de Cristiano Ronaldo. Em uma só tacada, o camisa 7 do Real Madrid voltou a mostrar que é um dos melhores de toda a história e igualou feitos de outros dois gigantes do passado, a quem volta e meia é comparado.
Assim como Di Stéfano, símbolo maior do madridismo, o gajo fez gol em três finais diferentes da principal prova de clubes europeus. E igualou a marca de Eusébio, deus do futebol português, ao ser o segundo de seu país a marcar dois gols em uma decisão de Copa dos Campeões/Champions League. Mas o caminho para a glória máxima teve dois momentos distintos.
C.Ronaldo terminou a Champions League 16-17 como artilheiro (Foto: Getty Images)O primeiro tempo foi de superioridade juventina, que se defendia com um forte 4-4-2 e levava perigo em investidas rápidas que exploraram a amplitude dada pelos brasileiros Dani Alves e Alex Sandro. Quando a equipe italiana recuperava a posse de bola, os alas disparavam ao ataque deixando o time no 3-4-1-2 demonstrado na escalação divulgada pela UEFA.
Com as linhas muito próximas umas das outras, a equipe treinada por Massimiliano Allegri dificultou a transição defesa/ataque do Real Madrid. Os campeões espanhóis tiveram maior posse de bola, mas não conseguiam levar perigo efetivo à meta defendida por Gianluigi Buffon.
Ao final dos primeiros 45 minutos, o Real Madrid só havia conseguido acertar um chute a gol. Coincidentemente, em um raro lance no qual a defesa juventina não foi tão espetacular quanto vinha mostrando ser. E aos 20 minutos, o melhor ataque bateu a melhor defesa. Toni Kroos recuperou a bola em seu campo e iniciou uma transição que, na melhor característica deste Real Madrid, terminou em gol. E gol dele mesmo, Cristiano Ronaldo.
Getty Images(Foto: Getty Images)Em jogada de rápidas trocas de passe, que passou por todos os jogadores de meio-campo e ataque madridista, a bola chegou aos pés de CR7. O português tocou para Carvajal, na direita, e partiu rápido para a entrada da área. Chegou desmarcado e foi letal como sempre: chute seco, de primeira e que ainda contou com um milimétrico desvio antes de vencer Buffon.
BEN STANSALL/Getty(Foto: Getty Images)A resposta da Juve veio pouco depois. Os italianos não se abateram, e seguiam levando perigo. O empate veio com golaço de Mandzukic. Operário do futebol neste esquema da Juve, o croata mostrou o seu lado de artista ao matar no peito e acertar uma bicicleta espetacular no fundo das redes de Navas: 1 a 1. Quando os times desceram para os vestiários, a equipe italiana havia acertado 4 chutes e obrigado Navas a fazer 3 boas defesas.
O segundo tempo mostrou uma realidade absolutamente oposta.
Só deu Real Madrid na etapa derradeira. Podemos falar que o time da Juventus cansou, após tanta intensidade apresentada no primeiro tempo. Mas também não dá para tirar o mérito de um time que é na verdade um bicho papão. Uma máquina de recordes e que espelha em campo o seu principal craque.
GettyO gol de Casemiro foi a chave para o 'passeio' (Foto: Getty Images)Aos 60 minutos, a bola sobrava fora da área para mais um dos outros tantos chutes que o Madrid havia arriscado. Se era difícil chegar à área juventina, arrematar de longe já havia sido a opção em outras 7 oportunidades. Mas desta vez, o tiro foi certeiro: no placar e no emocional. Casemiro soltou o pé e ainda contou com um outro desvio juventino – desta vez de Khedira – para recolocar os espanhóis na frente.
Do outro lado, a Juve sentiu o golpe. E sentiu porque Isco passou a cair mais pelo lado esquerdo e foi o metrônomo de uma equipe que mostrou domínio absoluto. Três minutos depois, Modric avançou com uma facilidade que o Madrid não havia encontrado na etapa anterior e cruzou para Cristiano Ronaldo anotar o seu 600º gol, ultrapassar Lionel Messi na artilharia desta edição do torneio [12 gols] e sepultar de vez a derrota da Juve.
Getty ImagesO 'tiro fatal' de CR7. A Juve não fez nada no 2º tempo (Foto: Getty Images)Isso porque, se a equipe italiana havia sentido o gol de Casemiro, o de CR7 foi o tiro fatal. A Juventus não levou trabalho, Dybala não existiu dentro de campo e Keylor Navas não precisou efetuar nenhuma defesa no segundo tempo. Quando Asensio transformou a vitória em goleada – aproveitando belíssima jogada individual de Marcelo – a contenda já estava resolvida. E foi resolvida porque o Real Madrid é um clube que encara jogos como se fosse um tubarão branco na caçada.
A exibição da equipe blanca no segundo tempo aniquilou o equilíbrio psicológico de um time que precisa do máximo de foco e concentração para efetuar a sua proposta de jogo. Uma proposta de muita segurança e entrega que em outros 12 confrontos só havia sido vencida por 3 gols ruiu como um castelo de areia em 45 minutos. A pornográfica expulsão de Cuadrado, depois de simulação que mostrou um caráter questionável de Sergio Ramos, não pesou em nada. A Juventus já estava batida e não oferecia resistência.
Em um só jogo, o gigante Buffon levou mais gols do que na campanha toda até a final (Foto: Getty Images)VEJA TAMBÉM:
Confira a repercussão do título!
Após derota da Juve, pânico em Turim
Casemiro só tem motivos para sorrir
Getty ImagesUm Real Madrid gigante e que mostrou ser o grande predador do futebol europeu (Foto: Getty Images)O Real Madrid tornou-se o primeiro da era moderna da principal competição de clubes europeus a manter o troféu, também fincou a bandeira do poder que o futebol espanhol tem hoje sobre os seus demais rivais. Soma cinco taças a mais do que qualquer outro clube na mesma competição e tem um jogador que é letal. O meio-campo madridista foi primoroso em Cardiff, o gol de Casemiro pode ter sido o mais importante da noite. Mas a cara desta final é a de Cristiano Ronaldo. Não há como contestar: na temporada 2016-17 ele foi o grande craque.
Números do jogo
O 3-5-2 da Juve e o 4-3-1-2 do Real




