Luis Suárez está ansioso por esse jogo, e não é à toa.
Faz cinco anos desde que o uruguaio trocou o Liverpool pelo Barcelona, mas, nesta quarta-feira, será uma reunião de amigos no jogo mais aguardado da Champions League até agora.
O jogo promete ser fascinante. Emocionante também para Suárez, que lembra dos seus três anos e meio em Merseyside com carinho mesmo com as controvérsias que os seguiram como zagueiros ferozes.
Suárez deixou o Liverpool por € 75 milhões (R$ 330 milhões) e chegou em Barcelona banido do futebol por quatro meses depois de ter mordido o italiano Giorgio Chiellini na Copa do Mundo de 2014. Ele foi para o Camp Nou em julho, mas só em outubro faria seu primeiro jogo.
Para o Liverpool, claro, a saída era inevitável. Ele deixou o clube como a estrela do time, o artilheiro da Premier League e como o Jogador do Ano do campeonato. Em seu último ano, ele chegou muito perto de levar o time de Brendan Rodgers a um improvável título inglês.
Para os torcedores dos Reds, ainda é difícil ver as imagens dele em Selhurst Park com a camiseta cobrindo o rosto enquanto chora. Eles sabiam, e ele sabia, que o fim tinha chegado. O empate por 3 a 3 contra o Crystal Palace naquela noite não tinha custado o título, a derrota para o Chelsea uma semana antes tinha sido o momento da virada. Mas foi quando ficou claro que ele iria deixar o time sem nenhum título para comprovar seus esforços. Ele só fez mais um jogo pelo clube antes de ir para a Copa de 2014.
GettyO Liverpool que ele deixou, deve-se dizer, é um clube diferente daquele que ele irá enfrentar hoje. Expectativas eram menores na ocasião, o elenco era pior e os gastos no mercado muito mais baixos. Rodgers era um técnico jovem e sem conquistas tentando levar os Reds de volta ao topo. Suas esperanças eram baseadas em talentos individuais: Suárez e Steven Gerrard carregavam o time.
O Liverpool, de alguma forma, está agradecido pela magnífica temporada 2013-14 de Suárez. Ele queria sair do clube no começo da temporada e criou uma guerra pública para forçar uma transferência primeiro para o Real Madrid, depois até para o Arsenal.
"Meu motivo para sair é minha família e minha imagem", ele disse à TV uruguaia. "Não me sinto mais confortável aqui". Ele também acusou a mídia britânica de "perseguição", dizendo que eles foram longe demais no caso de sua mordida no zagueiro Branislav Ivanovic em um jogo em Anfield.
É curioso que Suárez nunca perdeu um jogo lesionado no Liverpool, mas ficou de fora de 19 partidas por suspensão. Foram 10 jogos pelo incidente com Ivanovic e mais oito por ter sido considerado culpado em caso de injúria racial contra Patrice Evra, do Manchester United em 2011. Suárez sempre negou as acusações.
"Ainda fico triste e irritado ao pensar que tenho essa mancha na minha imagem e que provavelmente ela ficará lá para sempre", ele disse em uma autobiografia de 2014.
No verão de 2013, Suárez estava pronto para sair. O Arsenal, como todos lembram, fez uma oferta de £40 milhões mais £1, pensando que essa mera libra a mais iria forçar o cláusula de rescisão do jogador. A resposta do Liverpool foi firme: "O que vocês acham que eles fumam lá no Emirates?", tuitou o dono dos Reds John W Henry.
O Arsenal nunca teve chance de fechar o negócio e Suárez foi a público reclamar, dizendo que o Liverpool estava quebrando a promessa de deixá-lo sair caso o time não se classificasse para a Champions League. "Eu tenho 26 anos, preciso estar jogando a Champions League", disse o atacante na época a jornalistas espanhóis e ingleses.
O Liverpool o barrou dos treinos com os reservas enquanto Steven Gerrard tratou de tentar convencer o atacante a jogar lá por mais uma temporada. "Steven me disse 'prometo que se você ficar nesse ano você vai sair no ano que vem e irá para Bayern, Barcelona, Real Madrid, para onde você quiser. Mas neste ano você não vai para o Arsenal'".
"Suas palavras me convenceram naquele momento. Elas vieram de alguém que se importava comigo, que queria meu bem, que me viu sofrer nos treinos e me viu triste. Eram as palavras de um verdadeiro capitão e tiveram impacto em mim", concluiu o uruguaio.
Gerrard tinha razão. Suárez teve a sua melhor temporada no Liverpool, marcou 31 gols e brigou pelo título. "Revanche futebolística", disse um jornalista. Os torcedores, impressionados com seu talento e raça, só podiam admirar. Ele não era perfeito, mas era bom demais. As memórias irão durar por muito tempo.
Ele pode esperar aplausos nesta semana. Ele teve uma recepção de herói quando voltou a Anfield para um jogo de caridade em 2015 e falou bem do clube nos últimos anos. Ele já está ansioso para a partida de volta na semana que vem em Merseyside.
"Meus filhos nunca vão a jogos da Champions League, mas querem ir neste", ele disse recentemente. Suárez quer se reencontrar com Jordan Henderson e outros membros do clube. "Será legal voltar", completou.
Mas antes disso, porém, ele tem negócios a resolver. E quando o apito soar no Camp Nou, o Liverpool sabe o que os espera. Não poderiam esperar outra coisa de Suárez.




