COMENTÁRIO
No dia do quinto aniversário do inesquecível gol de Sergio Agüero, que encerrou quase cinco décadas do Manchester City na Premier League, o argentino começou uma partida no banco de reservas... e só assistiu a um garoto de 20 anos tomar seu lugar.
É impossível dizer se a decisão de Pep Guardiola deixar Agüero entre os suplentes é mesmo um sinal de que seus dias no Etihad Stadium estão contados, já que faz pouco que ele se recuperou de uma lesão na virilha. Contudo, há muitos sinais de que o catalão possa fazer aquilo que nenhum torcedor Sky Blue imagine, ou seja, vender o argentino durante o verão.
Se isso vier a acontecer, é bom que ele tenha uma boa solução na manga.
Parece claro, a esse ponto, que Pep queira trazer um jogador mais móvel, mais dedicado, que contribua mais coletivamente para a equipe - ainda que ele não contribua com os gols que Agüero possa trazer ao time.
GettySejamos francos: são poucos os artilheiros realmente capacitados no futebol europeu que conseguem igualar - ou superar - os números de Agüero. Nomes como Alexis Sánchez estão na lista de compras de Guaridola ao lado de Antoine Griezmann e Pierre-Emerick Aubameyang, todos que trariam algo que o argentino talvez nunca seja capaz de proporcionar a uma equipe.
A dedicação em campo de Alexis e Griezmann é bastante conhecida, como é sua capacidade de marcar gols, e Aubameyang consegue acelerar a partida como Agüero, por maiores que sejam suas qualidades, jamais conseguiu. E isso é algo que preocupa o staff de Pep Guardiola, cansado de ver o argentino chegando atrasado para os contragolpes.
No meio desse drama, há algo que realmente deve preocupar a torcida dos Citizens é que, sem o argentino, Guardiola deixaria o principal posto do ataque a cargo de Gabriel Jesus. Sim, é verdade que o brasileiro tem mostrado serviço nas chances que recebe - seus cinco gols marcados e duas assistências em poucos minutos em campo provam isso. E sim, seu esforço em campo agrada ao comandante, que escolheu Jesus ao invés de Agüero mesmo tendo os dois à disposição.
Mas também é verdade que Gabriel ainda não está preparado para deixar o potencial vazio a ser deixado por Agüero. E a vitória maluca sobre o Leicester City, no sábado, deixa isso claro.

Com a frieza de um veterano, o garoto marcou em uma precisa cobrança de pênalti, e mostrou compostura ao correr pelo gramado, além de pressionar os defensores visitantes a cada oportunidade que teve para isso.
Mas ele também errou muitos passes e, num contra-ataque no segundo tempo, desperdiçou uma ótima bola enfiada por Raheem Sterling que deveria ter terminado no terceiro gol do City. Se Agüero tivesse cometido o mesmo erro, teria sido o sinal definitivo de que ele não é capaz de executar o que pede Guardiola, não importa o quanto se esforce.
AGÜERO X GABRIEL JESUS: OS NÚMEROS
Jesus ainda tem muito trabalho pela frente para chegar ao topo e terá, certamente, a chance para fazê-lo em Manchester. Mas não deve tomar para si o fardo de ser o responsável pelos gols a essa altura.
Agüero, enquanto isso, tem mostrado alguma vontade para mudar nas últimas semanas, mostrando dentro e fora de campo que está disposto a lutar por seu futuro. Nos bastidores, essa mudança de atitude não passou desperdiçada.
Mas, quando Guardiola toma uma decisão, dificilmente ele volta atrás.
Fotos: Getty
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É só lembrar a decisão ousada com relação a Joe Hart, um goleiro bastante capaz, e não apenas útil. Mas não para por aí: ele fez o mesmo com Samuel Eto'o no Barcelona, mesmo depois do camaronês desempenhar um papel fundamental na conquista da tríplice coroa.
Na primeira vez, ele atribuiu a decisão a seu 'instinto', e garantiu que assumiria a culpa se o tiro saísse pela culatra. Felizmente para o Barça isso não aconteceu, e o clube pôde colher os louros. Mas o crédito de Pep no Camp Nou é muito maior, e lá ele tinha fundações bem mais sólidas para construir seu projeto. Não é o caso no City, e ele sabe que precisa de soluções rápidas - os aplausos de pé no Etihad quando Agüero apareceu para aquecer no segundo tempo dão uma boa ideia da pressão.
O negócio por Gabriel Jesus já mostrou que foi um tiro certeiro do clube, e o jogador já produziu muito mais que o esperado desde sua chegada à Inglaterra, em janeiro. Dizer que o brasileiro deve se tornar a referência do ataque do City nos próximos anos, como o próprio Guardiola já declarou, não é nenhum exagero.
O que isso significa para Agüero só deve ficar claro nas próximas semanas, quando o jogador, seus empresários e Pep sentarem ao final da temporada para esclarecer a situação. É hora de decidir o melhor para todas as partes.
Uma saída seria a decisão de maior peso de Guardiola no City até aqui, talvez uma das maiores de sua carreira. Ele ficaria com pouco espaço de manobra, no que depender da torcida do City, situação longe da ideal para alguém que deve ser ainda mais pressionado em seu segundo ano em Eastlands.
Pep está muito confiante de que as coisas irão melhorar na próxima temporada se os reforços certos chegarem, e até arrisca sonhar - não em público, claro - em uma série de conquistas. Mas, se Agüero não estiver nesses planos, então um substituto capaz deve dar as caras. Gabriel Jesus é o futuro, mas não pode fazer tudo sozinho.


