Seis problemas que Pep Guardiola precisa resolver no Manchester City após completar quatro derrotas seguidas

Não é segredo que o City não é o mesmo time sem Rodri, e sua dependência do meio-campista foi exposta na última temporada, quando perderam todos os quatro jogos em que ele estava suspenso. O impacto de sua lesão no final da temporada, contra o Arsenal, não foi sentido de imediato, já que o City venceu seis de seus primeiros sete jogos sem ele. No entanto, sua ausência agora pesa muito sobre o time.

Desde o início da última temporada, o City tem uma porcentagem de vitórias de 73,6% com Rodri, número que cai para 58,3% sem ele. "Não havia como o City perder aqueles quatro jogos se Rodri jogasse", comentou Jamie Redknapp, da Sky Sports, após a derrota de sábado.

Embora o City tenha conseguido controlar partes dos jogos sem o vencedor da Bola de Ouro, foram amplamente vulneráveis em momentos cruciais. Contra o Sporting, por exemplo, tiveram 73% de posse de bola e ainda assim concederam quatro gols. No jogo contra o Brighton, foram menos dominantes, com 60% de posse, o que permitiu aos Seagulls pressioná-los conforme o jogo avançava.

Mesmo sem Rodri, o City ainda possui um meio-campo recheado de experiência e talento. No entanto, eles precisam trabalhar mais de perto como um coletivo e retomar a característica que os tornou conhecidos: o controle do jogo com a posse de bola.

"Quando você perde o melhor meio-campista da Europa, sempre haverá pressão sobre o time. Mas, neste momento, estão fáceis demais de enfrentar", disse Micah Richards no Match of the Day da BBC. "O que mais me chama atenção é que não estão pressionando mais. Estão jogando como indivíduos."

Erling Haaland parecia furioso com seus companheiros de equipe quando sofreram o gol de empate no Amex Stadium, e ele tinha toda razão para isso. Nos últimos tempos, o norueguês tem assumido uma responsabilidade ainda maior pelos gols do City, mesmo para seus padrões absurdamente elevados.

O atacante estabeleceu um novo recorde na Premier League no sábado, tornando-se o jogador mais rápido a alcançar 75 gols, com 12 desses gols nesta temporada, em apenas 11 jogos. Haaland sempre será a principal referência do City quando se trata de marcar gols, mas, ao contrário do habitual, os outros jogadores não têm aliviado essa carga. Em vez disso, há uma lista inesperada de atletas com dois gols ou mais.

Josko Gvardiol e Mateo Kovacic são os segundos artilheiros do City na liga, com três gols cada, seguidos por John Stones, com dois. Os atacantes do City (exceto Haaland) marcaram apenas dois gols na liga até agora, com Jeremy Doku e Kevin De Bruyne sendo os responsáveis.

Phil Foden não tem demonstrado o mesmo ímpeto ofensivo que o levou a marcar 19 gols e a se destacar como Jogador do Ano da Premier League em 2023/24, enquanto Ilkay Gundogan se tornou preocupantemente tímido no ataque, considerando a prolificidade que teve em suas duas últimas campanhas no Etihad. Bernardo Silva, que quase marcou contra o Sporting, também não tem feito a diferença como de costume, e o reforço de verão, Savinho, tem sido extremamente decepcionante na frente do gol, sem conseguir converter seus momentos de habilidade em algo concreto.

Se você busca uma indicação de como a defesa do City tem estado mal ultimamente, considere isso: eles sofreram mais gols na liga do que o Manchester United. Sim, aquele clube problemático do outro lado da cidade, que os torcedores do City se orgulham de ver "caindo", tem uma defesa mais sólida do que os campeões da Premier League por quatro vezes consecutivas. Portanto, consertar a linha de defesa é essencial para resolver os problemas do City, embora, sem dúvida, seja mais fácil falar do que fazer.

Atualmente, Guardiola está sem seus quatro principais zagueiros centrais, o que levou o jovem de 19 anos Jahmai Simpson-Pusey – a quem o técnico continua chamando de "o jovem" – a começar os dois últimos jogos, apesar de não ter experiência anterior no time principal. Stones e Ruben Dias não viajaram para Brighton, e enquanto Nathan Ake e Manuel Akanji estavam no banco, Guardiola explicou que eles não estavam em condições físicas suficientes para jogar. O catalão também apontou que Kyle Walker praticamente não treinou nesta temporada, apesar de ter começado como lateral direito nos dois últimos jogos da liga, com consequências desastrosas.

As lesões são a principal causa das fragilidades defensivas do City, mas outro fator é a constante mudança tanto no pessoal quanto na formação defensiva. O City começou a temporada com uma linha de três defensores, formada por Akanji, Dias e Gvardiol, com Rico Lewis alternando entre lateral direito e meio-campista. Mantiveram a mesma formação e jogadores nos três primeiros jogos, vencendo todos, mas, desde então, em parte devido a lesões e também pela preferência de Guardiola, houve um rodízio de defensores, alguns dos quais jogaram em diversas posições. Lewis atuou como lateral esquerdo, lateral direito e meio-campo. Stones começou apenas dois jogos, enquanto Ake começou uma vez.

Outro fator igualmente importante tem sido a ausência de Rodri, que costuma proteger a defesa. "Em termos de resultados, pode ser semelhante, a questão é que não temos os jogadores", explicou Guardiola. "Os quatro zagueiros estão lesionados. E Rodri, o melhor jogador, não está lá. Kevin De Bruyne está longe de seu melhor. Jeremy Doku está lesionado. Jack Grealish está lesionado. Você pode fazer isso por um jogo, mas, para ser consistente, você não pode."

O curioso nas duas últimas derrotas do City é que, apesar de começarem bem, não conseguiram aproveitar suas chances e, por isso, acabaram saindo sem a vitória. Se tivessem sido um pouco mais clínicos em frente ao gol, poderiam ter vencido ambos os jogos. Em Lisboa, abriram o placar no quarto minuto com Foden e tiveram 11 chutes antes do intervalo. Contra o Brighton, foram nove chutes, sendo cinco deles no alvo. Ser mais eficaz nas finalizações é essencial para retomar o caminho das vitórias e evitar que a sequência de derrotas se torne ainda mais grave.

Haaland foi o maior responsável pelos desperdícios contra o Sporting, perdendo todas as cinco oportunidades que teve, incluindo um pênalti, enquanto Bernardo também desperdiçou uma chance clara de ampliar a vantagem. Já contra o Brighton, Savinho falhou em duas oportunidades claras, uma em cada tempo.

Atualmente, Haaland lidera o ranking de jogadores mais desperdiçadores (calculado com base nos gols esperados) na Premier League, com Bernardo ocupando a terceira posição. O norueguês tem a mentalidade forte para se recuperar rapidamente após uma partida ruim, como fez contra o Brighton, mas seus companheiros de equipe parecem estar sem confiança na frente do gol. E quanto mais tempo passam sem marcar, mais difícil fica para reverter a situação.

Na temporada passada, quando o City venceu o FC Copenhagen por 3 a 1 pela segunda vez em três semanas, eliminando-os da Champions League, o técnico visitante Jacob Neestrup fez uma observação interessante. "O que levo comigo depois de jogar contra o City nesses dois jogos é que eles trabalham duro, trabalham muito duro", disse ele. "Nem todas as equipes de ponta fazem isso. Não é apenas o cérebro do futebol, o conhecimento, a parte técnica - eles trabalham duro."

Esse trabalho árduo que Neestrup tanto admirava tem sido visivelmente ausente ultimamente, e Walker foi o primeiro a admitir isso após a derrota para o Brighton. "Hoje, senti que, em certos momentos, não estávamos tendo sorte, chegávamos um pouco atrasados nos desafios, um pouco atrasados para a bola", disse ele. "Acho que é um período difícil pelo qual estamos passando, e a pausa internacional vem na hora certa."

Guardiola conseguiu o que muitos treinadores de sucesso não conseguiram: manteve sua equipe com fome de vitórias e garantiu quatro títulos consecutivos. Mas era apenas uma questão de tempo até que esse desejo começasse a diminuir. E como Gundogan alertou, a Premier League não permite relaxamento.

"Esta competição é difícil, parece que a maioria das equipes só melhorou. Não apenas os primeiros cinco, seis, sete, oito times, parece que agora todos podem jogar muito bem e te punir", disse o alemão. "Quando as coisas não estão indo bem, sempre surgem conversas, sempre tentam encontrar razões. Eu sinto que nós, como jogadores, temos que assumir a responsabilidade e olhar para nós mesmos, individualmente e coletivamente, e ver o que podemos fazer melhor."

A única maneira de superar esse declínio é recuperar a vontade de vencer, a determinação de conquistar cada desafio, cada disputa. Walker acrescentou: "Este é o momento em que quero ver os jogadores. Este é o momento em que verdadeiros personagens aparecem. Nos últimos oito anos, vencemos tudo, dominamos os jogos, e era fácil jogar. Mas agora está difícil. Agora, nós, como jogadores, como membros mais experientes, precisamos puxar os inexperientes ou aqueles que não estão no clube há muito tempo e mostrar a eles os fundamentos deste clube, porque foi assim que construímos tudo nos últimos oito anos, e isso vai nos ajudar a passar por essa fase."

O Manchester City fez um dos seus melhores negócios de sempre quando vendeu Julian Álvarez ao Atlético de Madrid por £82 milhões de libras, gerando um lucro de £68 milhões de libras por um jogador de elenco, embora muito talentoso. O erro, no entanto, foi deixar esse dinheiro no banco, em vez de reinvesti-lo na equipe. Savinho e Gundogan foram as únicas novas contrataçõe, e nenhum deles consegue fazer o que Álvarez fazia.

O argentino sempre foi confiável, desempenhando bem quando solicitado, não importa a frequência. Na sua primeira temporada no Etihad, marcou 14 gols em 22 partidas como titular em todas as competições. Já na segunda campanha, com a ausência de De Bruyne, teve um papel maior, anotando 17 gols e registrando 11 assistências. Ninguém, além de Haaland, tem números próximos aos de Álvarez nesta temporada.

Embora ninguém possa culpar o City por vender Álvarez pelo preço que o Atlético estava disposto a pagar, a sensação entre os torcedores era de que foi uma excelente venda para o clube. No entanto, não ter substituído o atacante agora parece ser um grande erro. E isso se tornará ainda mais caro se Haaland sucumbir à onda de lesões que tem afetado muitos dos seus companheiros de equipe.

O City tem um substituto disponível nos bastidores: Claudio Echeverri, que também vem da base do River Plate e está prestes a se transferir para Manchester em janeiro, logo após seu 19º aniversário. No entanto, Echeverri joga um pouco mais recuado do que Álvarez e tem sido bem menos produtivo, com apenas quatro gols em 39 aparições neste ano. Além disso, não há garantia de que ele se adaptará rapidamente ao novo time e estilo de futebol.

Portanto, se o City quiser maximizar suas chances de manter o título da Premier League ou chegar mais longe na Champions League, eles terão que encontrar uma maneira de gastar o dinheiro de Álvarez em um goleador comprovado que possa preencher as várias lacunas em seu ataque.