As seis lições que Rúben Amorim precisa aprender da estreia com tropeço pelo Manchester United

Rashford já jogou como centroavante pelo United no passado e marcou gols, então não foi surpresa vê-lo balançar as redes no Portman Road, completando o cruzamento preciso de Amad Diallo. Mas essa posição não é natural para ele; e isso ficou evidente novamente nos 66 minutos restantes em que esteve em campo.

O inglês não teve outro momento significativo no jogo, tocando na bola apenas 13 vezes no total. Ele praticamente não se apresentou para receber passes na construção de jogadas do United e raramente buscou infiltrações por trás da defesa.

Amorim não pode ignorar tudo isso só porque Rashford marcou o gol. Esse foi apenas o segundo dele na Premier League nesta temporada, e não parece que uma boa sequência esteja a caminho. Rashford tem sido tão ineficaz como camisa 9 quanto foi atuando pela esquerda nos últimos 17 meses pelo United. Essa é a dura realidade.

É verdade que Rasmus Hojlund, que entrou em campo no seu lugar, também não mudou muito o cenário do jogo, mas o dinamarquês deveria ser o titular no comando de ataque - nem que seja só porque ele é esforçado. Na fase atual, Rashford não está oferecendo nada ao United. Ele precisa de um 'chá de banco', e, em um mundo ideal, talvez já fosse hora da INEOS já estar avaliando negociá-lo no ano que vem.

Por outro lado, o United mostrou certa solidez - na maior parte do tempo. Matthijs de Ligt teve uma boa atuação, com força e calma, e Noussair Mazraoui brilhou mais uma vez no quesito técnico.

No entanto, havia um elo fraco na linha de três defensores de Amorim: Jonny Evans, apresentando dificuldades com ritmo e intensidade do jogo. Se Omari Hutchinson foi o principal tormento do United no primeiro tempo, muito se dá pelas dificuldades de Evans.

Aos 36 anos, ele realmente não deveria, convenhamos, ser titular. Não foi sreurpresa, então, quando Amorim o substituiu no início do segundo tempo. E, no fim das contas, Luke Shaw mudou o cenário do jogo, entrando em seu lugar.

Apesar de seus problemas de lesão, Shaw ainda é um defensor rápido, forte e que lê o jogo de forma brilhante. O United é um time muito melhor quando ele está disponível. Mazraoui, De Ligt e Shaw têm todos os atributos para formar um trio defensivo de respeito. Shaw precisa, porém, se manter saudável.

O histórico sugere que isso é improvável, mas Amorim e a equipe médica do United precisam fazer da preparação física de Shaw uma prioridade, pelo menos até a abertura da janela de transferências em janeiro, quando poderão contratar um bom reserva.

O 100º jogo de Casemiro com a camisa do United não daqueles para se lembrar por muito tempo. A lenda do Real Madrid parecia ter recuperado seu brilho sob o comando do técnico interino Ruud van Nistelrooy, mas não demonstrou o bom futebol com Amorim, no domingo.

Christian Eriksen também não brilhou jogando ao lado dele no centro do campo, mas ao menos se esforçou. Casemiro parecia caminhar em campo, como não quisesse estar em campo, talvez como resposta à decisão de Amorim de romper a parceria que ele vinha desenvolvendo com Manuel Ugarte. Ele perdeu a posse de bola sete vezes e registrou apenas um desarme antes de ser substituído, aos 11 minutos do segundo tempo.

Foi a mesma versão de Casemiro que decepcionou o United tantas vezes na temporada passada, como na derrota por 3 a 0 em casa para o Liverpool, no dia 1º de setembro. Algum declínio físico é esperado para um jogador de 32 anos, mas não há desculpa nem para sua linguagem corporal, nem para não cumprir o básico.

As pernas de Casemiro já não respondem como antes, e, sem Ugarte na cobertura, ele se torna completamente ineficaz. Amorim não deve hesitar em deixar o brasileiro no banco após uma atuação tão desastrosa, especialmente agora que Kobbie Mainoo voltou de lesão.

Bruno Fernandes tem sido o melhor jogador do United nos últimos quatro anos. Ele também é o capitão do clube e assinou um novo contrato de três anos em agosto, o que significa que Amorim precisa encontrar lugar para ele no time de alguma forma.

Mas isso pode não ser na ala direita do ataque do United. Fernandes jogou os 90 minutos contra o Ipswich, mas não conseguiu ser influente como normalmente é. Como sempre, houve muito esforço - mas pouco resultado, especialmente no primeiro tempo.

Por outro lado, seu passe foi mais refinado, com aproveitamento de cerca de 92%, algo em que Amorim se concentrou após a partida. "Ele melhorou seu jogo jogando perto da bola", disse o técnico do United à Sky Sports. "Ele pode nos dar o passe longo, mas não se pode colocá-lo ali o tempo todo porque ele quer o passe longo o tempo todo".

Em outras palavras, Amorim não quer que Fernandes assuma tantos riscos. Eles não deram certo o suficiente sob Erik ten Hag, isso é verdade, mas parece não fazer muito sentido restringir completamente seus instintos naturais. A liberdade que vem com a posição de falso nove poderia ser mais adequada para Fernandes e lhe daria a oportunidade de realmente mostrar sua habilidade subestimada de marcar gols.

Por outro lado, Fernandes também poderia atuar como um tradicional 8, jogando como um armador, mas não tão fundo no campo. É verdade, Fernandes ainda pode se adaptar à posição que Amorim escolheu para ele no domingo, mas talvez seja necessário tempo - e treino - para descobrir a melhor forma de aproveitar seu potencial.

Amad também foi escalado em uma nova posição contra o Ipswich, jogando como ala-direita, atrás de Fernandes. Amorim deve ter ficado satisfeito, até porque Amad foi quem deu a assistência a Rashford para abrir o placar.

Infelizmente, aquele seria o único momento realmente mágico do United no jogo, e uma das poucas vezes em que Amad avançou ao terço final. O marfinense foi um dos melhores jogadores do United, mas seu principal foco era defensivo, evitar que o Ipswich penetrasse pelo lado esquerdo.

Amad foi pego fora de posição em algumas ocasiões, porém, e um time melhor talvez tivesse aproveitado para marcar gols. É algo a ser trabalhado caso ele continue nessa posição, mas parece um desperdício. O United não tem outro jogador tão rápido como o jovem de 22 anos.

Alejandro Garnacho tem habilidade semelhante, mas é muito menos refinado. No domingo, a má tomada de decisão e a execução ruim do argentino acabaram com várias oportunidades promissoras - ele teve, aliás, sorte de ter ficado em campo até os 41' da etapa final. Até amadurecer, o jogador de 20 anos talvez ele possa ser mais útil para Amorim saindo do banco, quando tem mais espaço para atuar contra adversários cansados.

Amad tem o potencial de ser o grande diferencial do United, mas precisa jogar mais à frente no campo - e ele está à frente de Garnacho no momento.

Amorim sairá de seu primeiro jogo no United com confiança apenas em alguns poucos jogadores de linha- um deles, o goleiro.

Onana fez cinco defesas no Portman Road, incluindo duas incríveis, à curta distância, contra Liam Delap. Em ambas as ocasiões, o camaronês foi rápido para sair do gol e fechou os ângulos. O tipo de defesa que os torcedores esperavam após sua cara chegada, vindo da Inter de Milão.

Em sua temporada de estreia, Onana não demonstrou o mesmo nível. Ele não foi decisivo nesses momentos e gerou mais confusão do que confiança na defesa. Mas, agora, ele está começando a parecer o goleiro que guiou a Inter rumo ao vice da Champions League 2022/23.

Há uma base forte para Amorim trabalhar graças à evolução de Onana. O United provavelmente precisará que o jogador de 28 anos os salve mais algumas vezes antes que o resto do elenco se ajuste a Amorim - mas ele já provou que está à altura do desafio.