Mikel Arteta precisa acordar para salvar temporada do Arsenal: pouca criação de jogadas e busca de perfeição defensiva estão minando as chances de título de Premier League para os Gunners

Antes da vitória por 3 a 0 em casa contra o Monaco na Champions League na última quarta-feira, Arteta foi questionado se o estilo do Arsenal era muito ditado por suas vantagens em jogadas ensaiadas. Para desarmar a imprensa, ele explicou, usando duas pequenas garrafas de água, como aqueles de fora gostam de ver gols com a bola rolando e de bola parada como duas entidades separadas, enquanto ele vê a situação como uma garrafa de água maior que contém ambas. Não se pode ter uma sem a outra, era essencialmente a sua mensagem.

Para seu crédito, o Arsenal parecia em sua melhor forma para vencer o time francês, com Saka brilhando particularmente. É por isso que foi tão estranho esse jogo ter sido encaixado entre duas saídas na Premier League nas quais os londrinos do norte mostraram muito pouca força ofensiva.

O empate de sábado com o Everton foi o terceiro jogo consecutivo na Premier League em que o Arsenal não conseguiu marcar com a bola rolando. Essa estatística foi apresentada a Arteta após o jogo, e ele não gostou. "Nós marcamos três (gols) com a bola rolando há três dias, e daí?" foi sua resposta.

Se você desse o benefício da dúvida a Arteta, diria que ele está protegendo seus jogadores nesse momento de relativa queda. Aqueles com mais cinismo, e talvez mais realidade ao falar de um candidato ao título, veriam isso como ignorância.

Nenhum time da Premier League criou mais gols esperados (xG) a partir de bolas paradas do que o Arsenal em 16 rodadas, no entanto, eles estão na metade inferior para essa estatística quando se considera apenas bola rolando. O Arsenal também está bem atrás de seus rivais quando se trata de passes para gols desta forma, com seu total de 34 bem abaixo dos líderes Chelsea (49), assim como de outros seis times, incluindo Wolverhampton, que luta contra o rebaixamento.

Não é como se seus números totais de gols fossem particularmente impressionantes também. Com 29 gols até agora, eles estão no caminho para marcar aproximadamente 69 ao longo da campanha de 38 jogos, o que seria uma diminuição significativa em relação aos seus totais das últimas duas temporadas - 88 em 2022/23 e 91 em 2023/24.

A ameaça adicional de domínio em bolas paradas é uma arma útil no repertório do Arsenal. Isso não deveria ser sua estratégia principal, independentemente dessa capacidade.

O que enfraquece o argumento de Arteta contra os críticos do Arsenal ultimamente é que sua equipe simplesmente não parece a mesma de suas versões anteriores. Os Gunners das duas últimas temporadas podiam ultrapassar blocos defensivos e eram excelentes na transição, mas essas forças se desvaneceram com o passar do tempo.

Parte disso talvez esteja relacionada à sua progressão natural. Quando o Arsenal de Arteta se anunciou pela primeira vez como um autêntico candidato ao título, era uma história divertida e emocionante de um gigante adormecido despertando. Essa novidade se foi tanto dentro quanto fora do clube.

Os times não lhes dão a mesma liberdade. Os adversários mostram muito mais respeito, e é exatamente por isso que o Everton procurou tirar o dinamismo da partida de sábado desde o primeiro minuto. Não poderia ser um confronto de vai e vem, caso contrário, eles perderiam. Em contraste, as novas ameaças do Liverpool de Arne Slot e do Chelsea de Enzo Maresca ainda não foram totalmente decifradas pelo resto da Premier League, fazendo o Arsenal parecer ultrapassado, mesmo para os seus padrões jovens.

Claro, depois que algo acontece é fácil analisar, mas a última janela de transferências do Arsenal está começando a parecer uma oportunidade perdida. As novas adições pouco trouxeram ao elenco da temporada passada, com Jurriën Timber, contratação de 2023 que retornou após uma lesão no ligamento cruzado anterior, sendo a melhoria mais notável em toda a equipe.

A contratação de Mikel Merino e de Riccardo Calafiori fazia sentido em termos de qualidade, embora o que o Arsenal não precisava era de outra aposta pouco confiável em termos de condicionamento físico na defesa. Ter habilidade não é exatamente a melhor disponibilidade (não se deixem enganar pelas tendências recentes nas redes sociais, simplesmente não é), mas é necessário algum nível de confiabilidade para jogar por períodos mais longos, algo que o italiano não demonstrou ter antes de sua última temporada no Bologna.

No meio-campo, o Arsenal achava que estava trazendo o parceiro perfeito para Declan Rice em Merino. Ele possuía experiência prévia na Premier League e teve um papel importante para a Espanha na Euro 2024, mas tem se mostrado abaixo do esperado quando quem assumisse essa função realmente precisava começar bem.

A incapacidade de Gabriel Jesus de redescobrir a forma de sua temporada de estreia no norte de Londres levou muitos a acreditarem que o Arsenal buscaria um grande nome para o ataque indo para 2024/25. Em vez disso, eles optaram por não gastar. Alvos previamente vinculados, como Ivan Toney e Victor Osimhen, foram para outros lugares. Alexander Isak permaneceu no Newcastle e seu compatriota Viktor Gyökeres no Sporting. Arteta apostou em Kai Havertz para continuar sua boa fase do final da temporada passada e em Jesus para melhorar novamente, apenas para que nenhum dos dois conseguisse corresponder às expectativas de uma equipe com chances de título.

A queda de Gabriel Martinelli, o atacante mais rápido e mais dinâmico do Arsenal, aumentou seus problemas. O brasileiro está carecendo daquela engenhosidade feroz que exibia quando surgiu, daquela postura implacável que o fez marcar 15 gols em uma única temporada da Premier League antes. Agora, ele rapidamente atrai a ira de um público implacável no Emirates Stadium e perdeu tanta confiança que parece irreconhecível em relação ao talentoso jovem que antes aterrorizava as defesas.

Já era ruim o suficiente quando Saka estava sendo levado ao limite e ficou ainda pior quando Odegaard não estava lá para ajudar a absorver parte dessa atenção.

A lesão do norueguês, que durou pouco mais de um mês, complicou as coisas para Arteta, que perdeu seu principal criador e optou por direcionar ainda mais responsabilidade para seu camisa 7. Embora as estatísticas de Saka pareçam melhores por isso, ele poderia ter dispensado assumir 110% da carga ofensiva de sua equipe.

Outro problema que surgiu é a crise de lesões do Arsenal, a primeira desde que voltou à disputa pelo título. O elenco está se enfraquecendo e os jogadores restantes, não apenas Saka, foram levados ao seu limite físico. Seu frescor foi substituído por cansaço. Supremacia física beirando a inevitabilidade mental é agora apenas um superpoder em situações de bola parada.

Antes das comparações com Pulis, Arteta foi comparado a José Mourinho no auge. Ele havia feito uma reviravolta em relação à continuidade da reputação do Arsenal como um dos times mais vistosos da Inglaterra, optando por fechar a defesa em grandes jogos em busca de pontos e progressão.

É uma abordagem que não deu muito resultado. Três vezes no início desta temporada o Arsenal perdeu pontos após ter um jogador expulso, e não conseguiu ganhar nos seus dois jogos de maior destaque na reta final de 2023/24.

Os torcedores celebrando o empate por 0 a 0 com o Manchester City em março se tornaram infames, mas foi uma atuação algumas semanas depois que deveria ter sido o ponto de discórdia. O Arsenal foi para a Allianz Arena em sua primeira quartas de final de Champions League em 14 anos em igualdade de condições com o Bayern e manteve a disputa equilibrada. Quando Joshua Kimmich marcou o que se provou ser o gol da vitória no meio do segundo tempo da partida de volta, os Gunners congelaram. Eles precisavam atacar, mas ficaram parados sob os holofotes contra o time de Thomas Tuchel, que vinha em seu ponto mais baixo em mais de uma década.

Esse mal-estar se prolongou nesta temporada e, neste momento, mostra poucos sinais de melhora. O Arsenal já está seis pontos atrás do Liverpool com um jogo a mais, apenas três à frente do City, apesar da crise dos Citizens.

A salvação é que o Arsenal virou a chave e tirou o freio de mão nos últimos meses da temporada passada. É facilmente concebível que eles possam engatar uma marcha extra. Eles apenas não podem ignorar seus problemas se quiserem conseguir isso.