Manchester United pode acabar com chances de título do Manchester City mesmo com inconsistência, e Rúben Amorim já mostrou que é capaz de superar Pep Guardiola

O novo treinador do United já mudou o clima em Old Trafford, apesar de apresentar resultados muito variados em seu primeiro mês no comando. Amorim herdou um elenco na 13ª posição da Premier League e, quatro jogos depois, ainda estão na mesma posição, com um empate de 1 a 1 contra o Ipswich, que luta contra o rebaixamento, além de derrotas humilhantes para o Arsenal e o Nottingham Forest.

Vai levar tempo para o clube se recuperar do reinado catastrófico de Erik ten Hag, como Amorim já reconheceu repetidamente. "Somos um clube grande, mas não somos um time grande", disse o português depois de ver sua equipe perder por 2 a 0 no Emirates Stadium na semana passada. "Temos que nos concentrar nos pequenos detalhes, então melhoraremos como equipe."

Esse trabalho meticuloso no campo de treino está dando frutos, até certo ponto. O United está finalmente jogando com uma identidade novamente, com cada movimento premeditado na formação 3-4-3 preferida de Amorim. O pleno potencial desse sistema foi liberado contra o Everton em 1º de dezembro, quando os Red Devils conquistaram uma vitória por 4 a 0 enquanto implementavam uma pressão alta implacável que acabou por sobrecarregar a equipe de Sean Dyche.

Melhorias também foram vistas na Europa League, com o United fazendo outra exibição impressionante de ataque para vencer o Bodo Glimt por 3 a 2 em casa, antes de superar o Viktoria Plzen nesta quinta-feira (12), com Bruno Fernandes, Amad Diallo e o super substituto Rasmus Hojlund marcando dois gols e brilhando na Tchéquia. Erros defensivos básicos ainda precisam ser eliminados, mas está claro que os jogadores estão totalmente apoiando Amorim, que até agora está cumprindo sua reputação como o melhor jovem treinador da Europa.

O United ainda está muito atrás do City, que está oito pontos acima dos seus vizinhos na tabela do Campeonato Inglês. Mas, pelos padrões habituais do clube azul, esta temporada tem sido um completo pesadelo.

Com uma partida a mais, os homens de Guardiola estão oito pontos atrás do Liverpool, que segue na liderança, e conquistaram apenas uma vitória nas suas últimas 10 partidas em todas as competições. Incrivelmente, o City perdeu sete desses jogos, incluindo uma humilhante derrota por 2 a 0 nesta quarta-feira (11) pela Champions League.

Na verdade, eles não têm sido os mesmos desde que perderam Rodri devido a uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho num empate por 2 a 2 com o Arsenal no Etihad, em setembro. O City parece completamente desequilibrado sem o vencedor da Bola de Ouro de 2024, já que tanto Mateo Kovacic quanto Matheus Nunes têm tido dificuldades para preencher a lacuna no meio do campo.

O ponta Oscar Bobb é outra baixa de longo prazo, enquanto John Stones, De Bruyne, Foden, Nathan Aké e Manuel Akanji também sofreram contratempos físicos. Mas culpar a forma do City nas lesões não é uma desculpa válida para Guardiola, considerando a força do plantel à sua disposição, com muitos nomes conhecidos sobressaindo por seu desempenho insatisfatório.

Erling Haaland marcou apenas quatro gols em suas últimas nove aparições; números lamentáveis para um atacante do seu calibre. O norueguês tem passado despercebido durante os jogos, mas não tem sido ajudado pela falta de serviço decente, com seu time parecendo fraco nas áreas laterais. Eles se tornaram previsíveis demais, com Jeremy Doku, Jack Grealish e Savinho falhando todos em oferecer a largura adequada nas pontas.

Enquanto isso, Kyle Walker tem sido um dos principais pontos fracos na linha de defesa e o lugar de Ederson como goleiro titular tem sido ameaçado devido à sua tomada de decisões. O City atingiu o ponto mais baixo da "Era Guardiola", e ainda não se sabe se o técnico catalão conseguirá colocá-los de volta nos trilhos.

O comportamento de Guardiola também tem sido motivo de preocupação. Ele afirmou "quero me machucar" ao aparecer diante da mídia com vários arranhões no rosto após ver o City desperdiçar uma vantagem de três gols contra o Feyenoord na Champions Legaue, o que levou a uma reação geral negativa sobre saúde mental.

Após uma derrota por 2 a 0 para o Liverpool em Anfield, Guardiola trouxe comparações com o mestre das provocações no futebol, José Mourinho, por fazer um gesto de seis dedos para a torcida da casa, em referência à sua coleção de títulos da Premier League no Etihad. E após mais uma decepção europeia contra a Juventus, Guardiola estranhamente negou a avaliação de Ilkay Gundogan de que o City está sofrendo de uma perda de confiança.

“Não concordo com Ilkay,” afirmou aos repórteres. “Claro que é difícil, mas, exceto por um ou dois jogos neste período, jogamos bem.” Pep parece estar fazendo sua melhor imitação de Ten Hag, que sempre tentava minimizar os problemas óbvios e profundos do United.

A verdade é que seu time não joga bem há muito tempo; Guardiola está se iludindo se realmente acredita no contrário. O treinador de 53 anos assinou uma extensão de contrato por dois anos no Etihad no mês passado, mas terá sorte se conseguir terminar a temporada caso o City continue no mesmo caminho.

A máscara posturada de Guardiola caiu. Ele está parecendo mais desesperado a cada jogo que passa e a incerteza está tomando conta do vestiário como consequência, com Amorim chegando farejando sangue.

O City passou invicto pelos primeiros 13 jogos da temporada, antes de ser eliminado da Copa da Liga pelo Tottenham e perder pela primeira vez na Premier League fora de casa contra o Bournemouth. Mas os alarmes realmente começaram a soar após a derrota por 4 a 1 contra o Sporting no começo de novembro.

A saída iminente de Amorim para o United tinha sido confirmada dias antes do pontapé inicial, mas ele ainda não teve problema em motivar o elenco do Sporting em seu último jogo em casa no comando. Os portugueses infligiram ao City a sua derrota mais pesada desde setembro de 2020, com o ex-atacante do Coventry City, Victor Gyokeres, fazendo um brilhante hat-trick para ganhar todas as manchetes.

No entanto, o melhor gol do jogo veio de Maxi Araujo, que finalizou uma bela jogada coletiva para o Sporting abrir toda a defesa do City como uma faca quente na manteiga. Era a filosofia de Amorim ganhando vida na sua forma mais pura: passes rápidos e diretos de trás para frente, com os jogadores fazendo corridas inteligentes para longe dos seus marcadores a abrir espaço.

Na maior parte, porém, o Sporting recuou, com sua defesa de três homens se tornando uma linha de cinco enquanto convidavam a pressão. Amorim planejou derrubar o rival de Manchester no contra-ataque, e foi exatamente isso que sua equipe fez. "Quando você perde por 4 a 1, tem que parabenizar o Sporting e aprender com isso," admitiu Guardiola. "Não podemos discutir - eles venceram, fizeram boas transições, especialmente em dois dos seus gols."

Amorim superou Guardiola na Champions, mas alertou os fãs do United para não se empolgarem com a vitória do Sporting. "Você não pode transportar uma realidade para outra. No Manchester United, não se pode jogar exatamente assim. Não se pode jogar tão defensivamente e lá teremos que nos adaptar. Claramente, é muito difícil vencer esta equipe e vencer Pep Guardiola. E ele não é um treinador pior do que eu. Será um mundo completamente diferente, uma equipe diferente, não teremos tanto tempo para treinar e começaremos de um ponto de partida diferente. As pessoas podem fazer seus próprios julgamentos, mas digo ao povo de Manchester que isso foi um evento único", afirmou.

O United não voltará ao topo se for apenas uma equipe de contra-ataque; Ten Hag, Ole Gunnar Solskjaer e José Mourinho aprenderam isso para seu infortúnio. Amorim tem exigido um estilo baseado na posse de bola, construindo desde a defesa em sua chegada a Old Trafford, com o United agora buscando romper as linhas com passes verticais.

Não haverá a mesma mentalidade de azarão que o Sporting abraçou quando o United enfrentar o City neste fim de semana. Assim como fizeram contra o Arsenal, os Red Devils tentarão controlar o ritmo do jogo e desestabilizar os rivais desde o primeiro minuto. E, ao contrário do Arsenal, o time de Guardiola simplesmente não está equipado para lidar com esse tipo de pressão no momento, como evidenciado pelo fato de terem sofrido mais gols do que qualquer outro time das cinco principais ligas da Europa desde 21 de novembro. O United terá chances e, se forem clínicos, pode ser outra longa noite para o lado fora de forma do técnico catalão.

Amorim foi questionado sobre sua visão para o United na preparação para o jogo contra o Viktoria Plzen e deu uma resposta que teria sido música para os ouvidos dos torcedores presentes em Old Trafford. "Queremos levar este clube a vencer a Premier League e ser um clube de elite como deveria ser", declarou. "Dessa forma, temos que fazer mudanças. Às vezes você faz uma pequena mudança de direção para ver o mesmo objetivo, e estamos focados em vencer a Premier League. Esse é o principal objetivo deste clube."

Obviamente, o título já está bem além do United nesta temporada, mas Amorim está fazendo tudo o que pode para elevar o nível de expectativa em um clube que, nas palavras do coproprietário Sir Jim Ratcliffe, se tornou "medíocre". Acumular ainda mais miséria em cima do City seria o primeiro passo para mudar isso.

A última defesa do título da Premier League do City estará acabada se o United sair do Etihad com três pontos. Seria uma vitória declaratória para Amorim que realmente pode dar início à sua revolução.

O "principal objetivo" de Amorim não parecerá tão distante se ele conseguir realizá-lo. O United ainda tem muito a provar para ressurgir como um verdadeiro concorrente, mas o novo treinador está dando aos fãs motivos para acreditar novamente.