Kylian Mbappé "nervoso" tirou o equilíbrio do Real Madrid

Mbappé dominou as manchetes por igualar um indesejado recorde de La Liga em seu primeiro El Clásico, ficando em posição de impedimento oito vezes para igualar a marca anterior estabelecida pelo atacante brasileiro Jonathas com o Elche em um confronto com o Athletic Bilbao, em 2009. O Barcelona se defendia praticamente na linha do meio de campo para deixar Mbappé impedido, e ele continuava caindo na armadilha sempre que o Real Madrid tinha a oportunidade de contra-atacar.

Era um plano tático arriscado que poderia ter se voltado contra Hansi Flick, dada a velocidade de Mbappé. Mas a dificuldade do ex-jogador do PSG em cronometrar suas corridas era risível. Mbappé teve dois gols anulados, sendo que o primeiro foi invalidado pelo VAR após ele ter comemorado.

Não há como ignorar o nível de esforço de Mbappé, que pressionou incansavelmente desde o primeiro minuto, mas parecia que ele estava tentando demais em alguns momentos. Ele conseguiu apenas três chutes legítimos ao gol do Barça na partida, sendo que o último foi direto para as mão de Iñaki Pena após ter recebido a bola de Luka Modric.

Quando o Real Madrid precisava que seu camisa nº 9 mostrasse calma e qualidade, ele não conseguiu, o que tem sido o caso na maior parte de sua campanha de estreia no Bernabéu até agora. Até Ancelotti admitiu para os repórteres: "Sabíamos que eles jogavam com uma linha alta, e simplesmente não conseguimos aproveitar. Às vezes (Mbappé) ficou em posição de impedimento, mas ele teve três ou quatro chances de marcar e precisava de um toque de finalização melhor."

Mbappé foi ridicularizado pela imprensa espanhola após o jogo, com o Diario Sport afirmando que ele "fez um papel histórico de idiota. O jornal catalão acrescentou: "Foi uma de suas piores noites no futebol profissional. O francês foi lento, nervoso e impreciso. Ele participou muito pouco do jogo ofensivo."

As estatísticas corroboram essa crítica contundente. Mbappé só tentou 15 passes em seus 90 minutos em campo, nenhum dos quais foi progressivo, e tocou na bola apenas 27 vezes no total. Ele também perdeu a posse em nove ocasiões, resultando em um desastroso total esperado de gols (xG) de 0,58.

Uma parte dos madristas até vaiou Mbappé à medida que sua linguagem corporal piorou perto do final da partida. Ele parecia um homem completamente esgotado e sem confiança, o que deve ser uma grande preocupação para Ancelotti.

Inicialmente aclamado como o substituto a longo prazo de Karim Benzema, que deixou Madrid em 2022, Mbappé marcou respeitáveis oito gols em suas primeiras 14 partidas pelo clube, mas não tem sido tão influente quanto seu compatriota. "Ele está marcando gols, mas não está jogando tão bem, então é isso que vão apontar", disse a lenda francesa Thierry Henry à CBS Sports na semana passada sobre as dificuldades de Mbappé em conquistar os torcedores madridistas.

"Não é suficiente em clubes como esse. Ele está jogando o melhor que vimos dele desde seus dias no Paris Saint-Germain? Não, ele ainda precisa aprender - e eu sei que é estranho dizer isso - ou jogar melhor como um nove, o que é muito difícil para ele no momento."

Na última temporada, Jude Bellingham inesperadamente se destacou para preencher o vazio deixado por Benzema e liderar a linha em sua primeira temporada no Madrid, marcando 23 gols em todas as competições. Joselu e Brahim Diaz também fizeram contribuições vitais, mas a evolução de Bellingham para uma potencial arma ofensiva elevou Los Blancos a outro nível, à medida que ele estabeleceu uma forte relação com Vinícius Jr e Rodrygo.

A chegada de Mbappé interrompeu essa harmonia. Ancelotti colocou o jogador de 25 anos diretamente como centroavante, apesar de ter sido utilizado principalmente como ponta-esquerda no PSG, e Bellingham tem sido a principal vítima das tentativas do italiano de acomodar o mais novo Galáctico do Real Madrid. O inglês tem sido forçado a assumir posições mais recuadas, até operando como lateral-direito contra o Barça, e, como consequência, ainda não conseguiu abrir sua conta de gols na temporada 2024/25.

"Bellingham é uma sombra do jogador da última temporada. E a culpa não é dele, mas da maneira como está sendo gerenciado," escreveu o jornalista espanhol Juan Ignacio Garcia-Ochoa na Marca. "Todo jogo ele joga em uma posição que não é a dele e o garoto, embora se dedique ao máximo, não brilha. Jogar do lado direito, atuando como lateral por muitos minutos, é uma piada de mau gosto que Ancelotti deve corrigir imediatamente."

O Madrid não está mais valorizando os pontos fortes de Bellingham, porque a equipe é construída em torno de Mbappé. Isso seria um sacrifício aceitável se o ex-Mônaco estivesse correspondendo à altura de sua reputação como o verdadeiro diferencial, mas ele parece um peixe fora d'água no momento e ainda está lutando para se entrosar com seus novos companheiros de equipe.

Quando a transferência de Mbappé para Madrid foi finalmente confirmada, o primeiro pensamento da maioria das pessoas foi: como ele se encaixaria na mesma equipe que Vinícius. O astro brasileiro certamente não ia ser removido de seu lugar na ponta esquerda depois de emergir como o favorito para a Bola de Ouro de 2024 com um total de 37 participações em gols pelos merengues na última temporada.

Mbappé, no entanto, tem abraçado suas novas funções com muito entusiasmo, mas frequentemente é pego ocupando os mesmos espaços que Vinícius porque ele naturalmente se desloca em direção à linha lateral. Tem havido poucos sinais de que a dupla está formando uma parceria eficaz, com Vini criando apenas oito chances para Mbappe até agora, enquanto foi favorecido com apenas três oportunidades em retribuição, de acordo com Opta.

Vinícius gostava de se conectar com Benzema e Bellingham quando estava à frente; isso acontecia naturalmente à medida que mantinham seus egos sob controle para o bem maior da equipe. Em forte contraste, parece que Mbappé e Vinicius estão lutando pelo destaque no momento, e ambos têm sido culpados por negligenciar suas funções defensivas.

Ancelotti também os escalou juntos na frente em alguns momentos, inclusive contra o Barça na ausência do lesionado Rodrygo, mas a mudança de um 4-3-3 para um 4-4-2 não resolveu o problema. Mbappé e Vinicius são muito semelhantes para trabalharem juntos, e alguém precisará ceder eventualmente.

Deve-se notar também que Mbappé parece estar enfrentando dificuldades do ponto de vista físico. Ele costumava ganhar jogos sozinho para o PSG através da pura força bruta, mas não parece tão confortável em sua própria pele no Bernabéu.

Isso pode ser em parte devido ao fato de que agora ele joga pelo maior clube do futebol mundial, onde a pressão para entregar resultados é maior do que em qualquer outro lugar, mas a maneira hesitante com que Mbappé tem conduzido as coisas em Madrid sugere que ele não está em condições físicas ideais. Isso é compreensível, considerando que ele se juntou ao clube após fraturar o nariz durante a campanha da França nas semifinais da Euro 2024, com o Real Madrid decidindo, em última análise, não agendar uma cirurgia para corrigir o trauma facial.

Sem surpresa, Mbappé não conseguiu marcar em nenhum dos seus três primeiros jogos de La Liga e parecia visivelmente enferrujado. Ele silenciou temporariamente seus críticos ao marcar cinco gols em suas quatro partidas seguintes no Campeonato Espanhol, mas então sofreu uma lesão na perna que o deixou de fora do empate do dérbi do Real contra o Atlético de Madrid.

Ele se recuperou a tempo de voltar a campo a partir do banco contra o Lille na Champions League três dias depois e voltou a ser titular em La Liga contra o Villarreal, mas não teve um grande impacto em nenhum dos jogos. Mbappé, em seguida, se recusou a se juntar à seleção francesa durante a Data FIFA de outubro para se concentrar em recuperar a plena forma, o que gerou muita controvérsia.

Como capitão da França, Mbappé tem mais dever do que ninguém de mostrar serviço à Didier Deschamps, mas ele colocou suas próprias necessidades à frente da equipe. A decisão também não deu certo, porque, em vez de criar mais ritmo em jogos relativamente fáceis da Liga das Nações contra a Bélgica e Israel, Mbappé voltou a ficar retraído.

Ele marcou seu melhor gol até agora pelo Real Madrid em uma vitória por 2 a 1 sobre o Celta de Vigo em seu retorno às atividades pelo clube, mas também perdeu a bola 13 vezes e perdeu seis de seus oito duelos aéreos, o que deixa alguns torcedores questionando se ele tem o que é preciso para ter sucesso na capital espanhola.

Claro, Mbappé não se tornou de repente um péssimo jogador de futebol da noite para o dia. O Real Madrid insistiu em ter o francês por mais de três anos por causa da sua consistência no PSG, e ele é quase imparável quando está em boa forma.

O problema é que isso não tem sido o caso há algum tempo. "Mbappé não é mais tão explosivo ou decisivo como era", disse o lendário ex-zagueiro da França Bixente Lizarazu ao L'Equipe no mês passado. "Ele continua sendo um ótimo artilheiro, um ótimo jogador, é claro, mas não é mais assustador como antes."

Mbappé deveria aumentar o fator medo quando chegasse ao Real Madrid, não reduzi-lo. A aura de invencibilidade deles se foi após a humilhante derrota para o Barça, e Ancelotti precisa encontrar uma maneira de extrair o melhor de Mbappé novamente se os merengues quiserem se recuperar rapidamente.

Mas como o ex-treinador do Milan e Chelsea apontou, isso está longe de ser um momento de crise. "Da última vez que perdemos 4 a 0 para o Barcelona em casa, vencemos o Campeonato Espanhol e a Champions League. Não vamos parar de lutar," disse Ancelotti no fim de semana. O Real Madrid viu o fim de seus 42 jogos invictos no Bernabéu, mas a guerra está longe de acabar.

Los Blancos são alvos da inveja de quase todos os clubes do continente com sua profundidade de elenco, e todos ainda esperam vê-los novamente disputando, até o final, os grandes prêmios em maio. No entanto, para replicar o sucesso da temporada passada, o Real precisará que o "assustador" Mbappé se levante novamente, antes tarde do que mais tarde.