Jude Bellingham, resgate de Toni Kroos e superando lesões: como Carlo Ancelotti devolveu La Liga ao Real Madrid

Por onde começar senão com o jogador mais impactante do mundo atualmente? A evolução de Bellingham no Real Madrid tem sido rápida e pouco surpreendente. Sempre houve a possibilidade de um jogador bom se tornar um jogador do mais alto nível em um clube de ponta, mas o que poucos imaginavam foi a velocidade com que isso aconteceu.

Bellingham era um meia inteligente quando chegou à capital espanhola, mas Ancelotti mudou rapidamente sua posição, adaptando o inglês a quase um falso nove - armando o ataque enquanto também fazia gols com uma bela presença de área.

O resultado, é claro, foi uma campanha que o coloca no topo das discussões para o prêmio de Bola de Ouro. O inglês tem a chance de terminar a temporada como o artilheiro de La Liga, e foi, em partes, com base em suas atuações que Los Blancos conquistaram o campeonato, enquanto também são favoritos para conquistar a Liga dos Campeões. E a parte assustadora? Ele tem muito a melhorar pela frente…

O que fazer para transformar um time sem um centroavante de ofício de alto nível em uma equipe que não economiza na frente do gol? Obviamente, o que Ancelotti fez não foi totalmente uma inovação, já que outros times sem um camisa nove também já tiveram sucesso para balançar as redes. No entanto, é de se admirar, já que o Real não tem um finalizador nato para colocar a bola para dentro.

O italiano, em meio à adversidade, matou a charada. Bellingham é o centro das atenções, é claro, mas a configuração ao redor dele é de extrema importância. O treinador utiliza um trio de meio-campo bem equilibrado, recuando Federico Valverde e o encarregando de cobrir boa parte do setor. Isso permite espaço para que Toni Kroos dite o ritmo do jogo, e ele geralmente tem Aurelien Tchoaumeni ou Eduardo Camavinga ao seu lado para mais solidez defensiva e ofensiva.

À frente de Bellingham, Vinicius Jr e Rodrygo formam a dupla de ataque, correndo tanto pelas pontas quanto pelo centro - mas em posições um pouco mais fechadas do que em anos anteriores. O resultado é um time bem equilibrado, compacto o suficiente no meio para se defender quando necessário e velocidade suficiente no contra-ataque para marcar gols oportunos.

Havia motivos para acreditar que a temporada poderia já estar acabada logo no início. Menos de 72 horas antes da estreia de Los Blancos em La Liga, o goleiro Thibaut Courtois rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho em um treino - o tirando de combate para a temporada. No fim de semana seguinte, Éder Militão sofreu exatamente a mesma lesão, deixando o time de Ancelotti sem seu goleiro titular e melhor zagueiro desde os primeiros compromissos.

Algumas semanas depois, Tchoaumeni quebrou o pé. Então, Bellingham sofreu uma grave entorse no tornozelo. Vinicius e Carvajal, também estiveram no departamento médico, enquanto David Alaba também sofreu uma lesão no joelho que deu fim à sua temporada.

Em certo momento, o Real podia contar com apenas dois zagueiros e, no ataque, o reserva Joselu jogando por muito mais do que se imaginava. Porém, nada disso realmente importou. Los Blancos foram gerenciados cuidadosamente ao longo da campanha, e embora as perdas em certas áreas tenham sido definitivamente sentidas, os resultados continuaram a chegar.

Há mais de um ano, Ancelotti dava indícios de que o tempo de Kroos no Santiago Bernabéu estava acabando. Em uma coletiva de imprensa, o técnico destacou que tanto o alemão quanto Modric deviam aceitar "um momento de transição" na capital espanhola, parecendo sugerir que uma nova geração, em breve, tomaria o lugar da dupla veterana. E embora o croata talvez tenha se rendido a essa realidade, Kroos fez de tudo para adiar sua saída.

O alemão tem sido magistral este ano, reinventado em um papel que minimiza suas responsabilidades defensivas, ao mesmo tempo em que maximiza o espaço para ele ditar o ritmo do jogo no meio de campo. Seu percentual de passes certos e números de passes verticais têm sido impressionantes (como sempre). Mas ele também tem sido mais um criador de jogadas do que nos últimos anos. Suas sete assistências em La Liga são seu recorde de passes para gol desde 2021, enquanto sua bela assistência para Vinícius na semifinal da Liga dos Campeões mostrou que ele ainda pode ser uma ameaça no último terço do campo.

Tudo isso resultou em seu retorno à seleção da Alemanha, um papel de destaque neste time vitorioso e uma extensão do que tem sido uma carreira de futebol que ainda não temos dimensão.

Neste ano, o Real Madrid não teve uma boa regularidade no início das partidas. Com muita frequência, uma defesa improvisada foi suscetível a muitos contra-ataques, ou o meio de campo adormeceu e chances foram criadas. O controle do jogo é a marca registrada dos Merengues. Ainda assim, nem sempre pode ser um estilo visível para quem está de fora e, em várias ocasiões, a equipe precisou correr atrás do resultado na temporada.

É uma tarefa que eles assumiram com relativa facilidade. Bellingham marcou em viradas no fim do jogo contra Getafe, Union Berlin e Barcelona. Modric, Lucas Vazquez e Dani Carvajal também contribuíram com gols, enquanto o garoto Nico Paz marcou deixou seu cartão de ingresso no Bernabéu com um belo gol para vencer o Napoli.

Some tudo isso, e o maior campeão de La Liga conquistou mais de 10 pontos com gols tardios no Espanhol, avançando para a fase eliminatória da Liga dos Campeões com folga graças a gols também ‘achados’. Chame de sorte, mentalidade ou até de pacto, o Madrid conseguiu marcar nos momentos mais importantes na maioria das vezes.

A parte que assusta é que isso pode ser apenas o começo. Ancelotti assinou um novo contrato que o manterá no clube até pelo menos 2026, encerrando as especulações de que ele poderia assumir o comando da seleção brasileira no meio deste ano. E os próximos dois anos serão marcados por uma geração de novos talentos chegando à capital. Mbappé obviamente o destaque da nova onda, está praticamente selando uma transferência antecipada para Madrid. Como companhia, ele terá Endrick, do Palmeiras, que está de malas prontas para a Espanha.

E outros ainda podem segui-los. Alphonso Davies, jogando pouco e em fim de contrato no Bayern de Munique, foi vinculado. Constantemente surgem rumores sobre Reece James. Enquanto isso, a nova era galáctica só gera mais expectativa. Esta deveria ter sido uma temporada ruim em Madrid, mas ao invés disso, parece ser o início de tempos gloriosos.