Jadon Sancho está em casa: astro inglês começa a respirar mais leve no Chelsea após calvário pelo Manchester United

Hoje é mais fácil do que nunca acompanhar o desenvolvimento de jovens talentos nas academias de futebol. Muito antes de Jadon Sancho fazer sua estreia profissional, ele já era visto como o próximo grande ponta da Inglaterra dentro desses círculos especializados.

Sua trajetória começou com uma decisão ousada ainda jovem. Sancho trocou o Watford, onde frequentava uma escola interna para evitar longos trajetos diários, pelo Manchester City, aos 14 anos. Apenas três anos depois, aos 17, desafiou o City em busca de mais oportunidades no time principal e tomou a corajosa decisão de se mudar para a Alemanha, juntando-se ao Borussia Dortmund.

No Signal Iduna Park, Sancho rapidamente se destacou. Suas atuações na Bundesliga chamaram a atenção, mesmo que, na época, os jogos do Dortmund não fossem amplamente assistidos na Inglaterra. Ainda assim, suas impressionantes estatísticas e compilações de jogadas falavam por si: Sancho era um talento especial, destinado ao estrelato.

Em 2019, ele conquistou o prêmio NXGN, consolidando sua reputação como um dos melhores jovens jogadores do mundo. A sensação de inevitabilidade em torno de sua ascensão era comparável à de Eden Hazard em seus dias de Lille — uma comparação totalmente justificada, dada a qualidade que Sancho demonstrava em campo.

O Manchester United já demonstrava interesse em Jadon Sancho dois anos antes de finalmente contratá-lo em 2021. Disseram que tinham um plano claro para ele, começando em sua posição preferida, na ponta-esquerda. Por isso, foi tão desconcertante quando, ao assinar, o clube não seguiu esse plano.

Os Red Devils desembolsaram £73 milhões de libras e, teoricamente, deveriam ter construído o ataque em torno de sua nova estrela. No entanto, a execução foi aquém do esperado. Sancho foi deslocado de um flanco para o outro e raramente teve uma sequência de jogos para ganhar ritmo, enquanto Ole Gunnar Solskjaer tentava entender como tirar o melhor proveito da contratação de Cristiano Ronaldo, que foi tanto surpreendente quanto oportunista. A relativa falta de velocidade de Sancho, especialmente em comparação com a intensidade da Premier League, também se mostrou um desafio dentro do estilo de jogo de transição rápido do United.

A situação piorou quando Solskjaer foi demitido em novembro de 2021, sendo substituído por Ralf Rangnick de forma interina. A sorte de Sancho não melhorou com essa mudança. No entanto, a chegada de Erik ten Hag trouxe uma nova esperança para o jogador, que rapidamente começava a ser apontado como um dos maiores fracassos da Premier League. Apesar de uma temporada marcada por problemas de condicionamento físico, afastamento por questões de saúde mental e a boa fase de Marcus Rashford, que impediu Sancho de jogar na esquerda, ele ainda conseguiu um desempenho respeitável, com nove contribuições para gols em 1.700 minutos de competição.

A carreira de Jadon Sancho no Manchester United praticamente terminou depois que ele reagiu com raiva a uma insinuação de Erik ten Hag, que sugeriu que ele não estava treinando o suficiente para merecer um lugar na equipe para o jogo de setembro de 2023. Após um desabafo nas redes sociais, Sancho foi afastado do time principal e proibido de treinar nas instalações de Carrington.

Embora seja fácil, com o benefício da retrospectiva, criticar Ten Hag pela maneira como lidou com a situação, o treinador ainda gozava de grande apoio após uma temporada bem-sucedida em Old Trafford. Sua decisão de cortar Cristiano Ronaldo do elenco, um ano antes, foi amplamente aceita pelos torcedores, pois representava um sinal de que os jogadores não mais dominavam o vestiário. Dessa forma, a decisão de afastar Sancho, aparentemente indisciplinado, também foi vista como uma postura firme e correta.

Sancho, então, foi relegado à obscuridade por vários meses. Quando a janela de janeiro chegou, ele foi emprestado de volta ao Borussia Dortmund, onde teve a chance de reconstruir sua reputação e, para o United, seu valor de mercado. Embora seus números não tenham sido tão bons quanto em sua primeira passagem (três gols e três assistências em 21 jogos), seu desempenho e comportamento melhoraram consideravelmente, ajudando o Dortmund em sua campanha até a final da Champions League.

Apesar disso, o Dortmund decidiu não seguir com o interesse em um contrato permanente e Sancho foi reintegrado ao elenco do United durante a pré-temporada, após aparentar ter feito as pazes com Ten Hag. No entanto, ele foi novamente omitido das escalações iniciais da Premier League e colocado à venda, apontando para um final estranho de um período conturbado.

Em 20 de agosto, foi sugerido pela primeira vez que o Manchester United percebeu o interesse do Chelsea em contratar Jadon Sancho, apesar de o clube londrino já ter adicionado Pedro Neto e João Félix ao seu elenco. O tempo para fechar o negócio era curto, mas os Blues conseguiram garantir um empréstimo inicial, que foi confirmado quase 24 horas após o fechamento da janela de transferências.

Essa movimentação lembrava a abordagem, por vezes caótica, do Chelsea, mas ainda havia um método por trás dela. Sancho se encaixava melhor na filosofia de posse de bola de Enzo Maresca, que exige que seus alas joguem abertos e enfrentem os laterais adversários, em vez de correrem pelas costas dos defensores. Além disso, uma mudança para Londres poderia oferecer grandes benefícios para o jogador fora de campo.

Ainda mais significativo foi o fato de o Chelsea ter deixado o United em uma posição desfavorável nas negociações, concordando com um empréstimo de um ano, com uma obrigação de compra de £25 milhões de libras, caso o Chelsea terminasse a Premier League em 14º lugar ou acima. Os Red Devils, que estavam lidando com cortes de custos impulsionados pela INEOS, aceitaram uma perda de quase £50 milhões de libras, aliviando a pressão sobre Sancho desde o início de sua nova jornada.

Os novos contratados do verão europeu do Chelsea, como Pedro Neto, Joao Félix, Madueke, Nkunku e Mudryk, indicavam que Sancho poderia ter um tempo limitado de jogo, pelo menos inicialmente. No entanto, essa acabou sendo a situação ideal para ele.

Enzo Maresca tem gerido com sucesso o desafio de equilibrar as intensas partidas da Premier League com a rotina da fase de grupos da Conference League. Os únicos lugares garantidos em seu ataque são para Cole Palmer e Nicolas Jackson, o que significa que Sancho tem estado em uma boa posição para receber oportunidades, independentemente de sua forma, e que boas performances são recompensadas.

Após a vitória de domingo sobre o Tottenham, Sancho comentou sobre a equipe: "Desde o primeiro dia, eles me fizeram sentir bem-vindo. Sei que tenho muito a provar e estou trabalhando duro todos os dias no treinamento. Assim que eu tiver a minha oportunidade, vou tentar mostrar o que posso fazer. Hoje estou feliz por ter marcado e ajudado a equipe a conquistar os três pontos."

A vitória sempre ajuda a curar as tensões, e a gestão do elenco por Maresca pode gerar algumas divisões, mas, por enquanto, Sancho está se beneficiando desse sistema. Ele é um ajuste tático e uma peça importante na equipe, aproveitando seu estilo de jogo e, aparentemente, mais feliz no Chelsea. A estratégia do clube de transformar uma situação difícil em uma oportunidade parece estar funcionando, quase como um milagre tático.

A vitória sobre o Tottenham deixou o Chelsea a apenas quatro pontos do líder Liverpool na Premier League, embora os Reds ainda tenham um jogo a menos após o adiamento do derby de Merseyside. Apesar das falhas defensivas e da imaturidade geral do elenco nesta fase do projeto, é difícil imaginar que os Blues terminem a temporada em primeiro lugar, mas ainda assim podem ser concorrentes dignos. Sancho tem sido uma peça importante nesse sucesso recente, marcando dois gols nos últimos dois jogos e mostrando atuações impressionantes nesta temporada.

Enquanto isso, no Manchester United, o novo treinador Ruben Amorim já enfrenta o desafio de tentar unir um clube que continua fragmentado de várias maneiras. Os Red Devils sofreram derrotas para Arsenal e Nottingham Forest na semana passada, Dan Ashworth deixou o cargo de diretor esportivo após apenas cinco meses e as operações de Sir Jim Ratcliffe estão sob intenso escrutínio.

Sancho, por sua vez, fez a mudança de Old Trafford para Stamford Bridge no momento certo. Embora não consiga atingir as expectativas que recaíam sobre ele, ainda pode se provar um jogador-chave para o Chelsea, uma equipe que busca grandes conquistas. Esse resultado parecia improvável há alguns meses, mas agora Sancho está novamente se destacando, e sua contribuição será crucial para o futuro da equipe.