Fim da linha para Ange Postecoglou? Flerte do Tottenham com a zona de rebaixamento não pode ser ignorado, mas troca de técnico pode não mudar a realidade

Não importa qual estratégia o Tottenham adotou na era pós-final da Champions League, parece sempre acabar se tornando uma empreitada sem sucesso. Eles seguiram o caminho do 'vencedor em série', ao escolherem José Mourinho e Antonio Conte, apenas para ambos deixarem o clube em um estado pior do que o encontraram. Nuno Espírito Santo, que levou o Wolverhampton a campanhas inéditas na Premier League e agora está em terceiro na tabela com o Nottingham Forest, foi rapidamente considerado um fracasso e um erro.

Agora é a vez de Postecoglou, que deveria ser o rosto de uma revolução. Para dar algum crédito ao afável australiano, ele teve esse papel de forma magnífica em sua primeira temporada, apesar dos enormes desafios que enfrentava. Harry Kane, o maior artilheiro de todos os tempos do clube e, provavelmente, o melhor jogador de todos os tempos, participou de toda a pré-temporada antes de ser vendido para o Bayern de Munique alguns dias antes do início da campanha do Tottenham na Premier League, e um substituto direto para ele não seria contratado por mais um ano.

Isso foi além de já encontrar o clube de joelhos e em seu ponto mais baixo desde que Harry Redknapp os afastou da batalha contra o rebaixamento para um oitavo lugar em 2008/09. Qualquer conexão entre a equipe e os torcedores havia completamente evaporado, mas ambas as partes pareciam dispostas a resolver essa questão.

O primeiro jogo de Postecoglou em casa, uma vitória por 2 a 0 contra o Manchester United em agosto de 2023, estava entre as atmosferas mais estrondosas mostradas no novo estádio bilionário do Tottenham. Três meses após o início da temporada, os Spurs estavam na liderança e eram os favoritos dos que não tinham um time por seu estilo arrojado e intransigente. Mesmo quando essa casa de cartas desabou com uma derrota por 4 a 1 para o Chelsea, com dois jogadores a menos, os torcedores se sentiram energizados e aplaudiram o esforço do time. Havia algo substancial com o que trabalhar.

O Tottenham terminou a temporada em quinto - várias posições acima das previsões dos pessimistas - e estava a um triz de se classificar para a Champions, enquanto o estilo de jogo era completamente irreconhecível em comparação aos últimos cinco anos. Postecoglou provavelmente atingiu o teto com o que estava disponível para ele após um ano, e os ânimos estavam altos rumo à sua segunda campanha, onde tudo desmoronou novamente.

Assim como muitos de seus antecessores, Postecoglou não conseguiu avançar no segundo ano com a mesma trajetória ascendente. Neste ponto, isso não é coincidência.

No geral, o Tottenham não tem um elenco ruim. Ao contrário, possui alguns bons jogadores, mas nenhum deles é realmente de alto nível. Dejan Kulusevski cresceu como meia este ano, enquanto os cinco titulares de defesa dos Spurs, no papel, deveriam estar entre os melhores da Premier League.

Ainda assim, falta dinamismo e engenhosidade. Todos os pontas, exceto Mikey Moore de 17 anos e o recém-contratado Wilson Odobert, são extremamente previsíveis. Os meio-campistas preferem correr riscos nos campos defensivo ou intermediário, em vez de no ofensivo. Essa falta de criatividade se manifestou em 11 das suas 12 derrotas na Premier League sendo por um gol, com 10 delas ocorrendo no final de partidas em que os Spurs mal conseguiram criar uma chance.

Esse é o fator adicional de perder Kane, ao mesmo tempo que se avança para uma fase diferente da carreira de Son Heung-min aos 32 anos. Ninguém disponível para Postecoglou consegue criar algo quando tudo parece perdido. Não há quem pegue um jogo pelo "colarinho" e vença do jeito difícil. O time está tentando entrar na área caminhando com a bola, mas ao mesmo tempo sendo superado. É uma receita para o desastre.

A salvação a que Postecoglou pode recorrer é que ele não teve um elenco completo para trabalhar durante toda a temporada. Mesmo nos seus melhores momentos em 2024/25 - goleadas sobre o Manchester United e o Manchester City fora de casa, assim como uma impressionante vitória em casa contra o Liverpool, pelas semifinais da Copa da Liga Inglesa - ele teve que remendar o time de alguma forma. O Tottenham no seu melhor estilo fluido é definitivamente candidato ao G4.

Infelizmente, as lesões se acumularam e Postecoglou teve que lidar com um elenco incapaz de atender à demanda. Novamente, ele não é o primeiro treinador do Tottenham a sofrer com uma lacuna significativa na qualidade entre os titulares e os reservas.

Atualmente, o grupo dos 10 titulares lesionados do Tottenham - Guglielmo Vicario; Cristian Romero, Micky van de Ven, Destiny Udogie; Wilson Odobert, Yves Bissouma, Rodrigo Bentancur, Timo Werner; Brennan Johnson, Dominic Solanke - poderia muito bem colocar o time que começou a viagem de domingo para enfrentar o Everton na parede.

O dedo da culpa foi apontado na direção de Postecoglou, mas esta é uma suposição inconclusiva. Não sabemos o que acontece em seu complexo de treinamento Hotspur Way, quais dados estão disponíveis para eles e se isso é uma questão de o técnico simplesmente levá-los longe demais desde o início. O que definitivamente não ajudou foi a falta de rotação misturada com a alta intensidade da sua pressão, mas isso faz parte de um ciclo auto-reprodutivo aqui.

Postecoglou sempre destacou que sua natureza teimosa se deve à sua crença de que isso beneficiará a equipe e os jogadores a longo prazo. Há um método nisso, e você até poderia se encontrar defendendo essa noção se o Tottenham estivesse, digamos, em 10º lugar e lutando na competitiva faixa média superior da tabela. Após oito derrotas em 10 partidas e estagnando em 15º, isso não cola. Você não pode continuar perdendo e esperar melhorar sem agir.

O time não consegue segurar uma vitória, o que pode ser atribuído à composição de seu elenco. Todas as suas vitórias foram merecidas e enfáticas, enquanto as derrotas foram fracas e igualmente justificadas. Se o Tottenham estiver perdendo com 20 minutos para o fim, você já sabe que eles não vão virar o jogo. Se a vantagem é pequena, é justo supor que será igualada. Se esta equipe não dispara na liderança do placar, tem pouca chance de conquistar os três pontos.

Na carreira recente de Postecoglou, ele não teve que lidar com uma situação como esta, pois geralmente está mais acostumado a batalhar na outra ponta da tabela. Bom para ele, mas agora o australiano precisa mostrar alguns instintos de sobrevivência.

A menos que todos os lesionados do Tottenham se recuperem magicamente da noite para o dia, Postecoglou está à beira da demissão. A viagem para enfrentar o Everton deveria ser o início de uma sequência de jogos mais acessível, no entanto, eles falharam nesse teste em 45 minutos. Nos próximos quatro jogos, os Spurs irão viajar para Hoffenheim e Brentford, com Leicester e Elfsborg como seus oponentes de volta ao Tottenham Hotspur Stadium.

Depois vem o que está sendo considerado como o dia de julgamento para Postecoglou - o segundo jogo da semifinal da Copa da Liga Inglesa contra o Liverpool. O Tottenham lutou arduamente para levar uma vantagem de um gol para Anfield, embora este seja notoriamente um local que traz más lembranças no passado e presente. É difícil imaginá-los chegando a Wembley, e tal eliminação pode ser o prego no caixão.

Por todas as contas, Postecoglou não perdeu o vestiário. Aqueles que estão aptos a jogar continuam se esforçando ao máximo, assumindo os mesmos riscos e cumprindo ordens. Isso não acontecia com Mourinho, Nuno ou Conte, e é por isso que essa dinâmica é tão estranha. Independentemente disso, este é um negócio de resultados e é difícil discordar de quem diz que Postecoglou merece ser demitido.

Trocar de técnico não mudará drasticamente a sorte do time. Isso é tanto uma falha institucional quanto futebolística. Todas as decisões que o clube tomou desde que chegou à final da Champions League em 2019 deram errado mais cedo ou mais tarde.

O elenco que iniciou a temporada já estava bastante limitado, apenas ampliando as preocupações sobre o recrutamento dos Spurs. Daniel Levy buscou diminuir seu poder e distribuir responsabilidades com as contratações de Scott Munn e do diretor esportivo Johan Lange, mas ainda assim o Tottenham está seguindo o mesmo velho roteiro.

Mourinho e Conte exigiram mais jogadores para o presente, o que se mostrou catastrófico para as finanças tanto a curto quanto a longo prazo, dados os meios-termos que foram realmente implementados. Postecoglou apoiou a redução da idade média da equipe, mas talvez não de maneira tão extrema quanto foi realizada. Isso deixou o Tottenham com uma equipe preparada para o futuro, mas que negligencia o presente.

Para começar, o clube precisa de mais jogadores experientes antes que a janela de transferências de janeiro se feche. Como Postecoglou enfatizou, isso não é nem para salvar sua própria pele, mas sim para ajudar o elenco atual a suportar a enorme carga que pesa sobre eles. Essa é a chave para reverter o declínio imediato, mas os problemas ainda são mais profundos.

Postecoglou poderia ser demitido e ter poucas reclamações. Não há mais sentido em debater isso, apesar das circunstâncias atenuantes. Seria extremamente difícil atrair um substituto pronto neste momento, veja bem. Este é um trabalho menos atraente agora do que há um ano e meio, quando o australiano assumiu, e uma Premier League extremamente competitiva ameaça manchar o status de Big Six do clube. A imagem de demitir o homem encarregado de liderar mudanças a longo prazo também dificultaria vender os benefícios a quem quer que seja o próximo na fila.

Reportagens afirmam que ele receberá mais tempo e a diretoria quer ajudá-lo a limpar essa bagunça, mas não parece ter oferecido ativamente uma solução fora dessa palavra. Se o clube realmente quer mudança, não pode se tratar apenas da pessoa no banco de reservas. Esta é uma cultura que não conseguiu se melhorar desde que expandiu suas ambições em uma escala de infraestrutura. A Premier League alcançou o Tottenham e eles não fizeram o suficiente para avançar em nenhuma outra frente.