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Madrid struggling to replace Kroos GFXGetty

Esqueça a defesa ou a adaptação de Kylian Mbappé: maior problema do Real Madrid é a falta de substituto para Toni Kroos

Aparentemente, ninguém estava satisfeito. Pelo menos, foi o que Toni Kroos revelou. Em uma entrevista ao The Athletic, em outubro de 2024, o alemão falou abertamente sobre sua surpreendente decisão de se aposentar no final da última temporada. O anúncio, feito em 21 de maio, pegou muitos de surpresa. Kroos vivia sua melhor temporada em anos — talvez a melhor de sua carreira.

Aos 34 anos, ele era o coração pulsante do meio-campo do Real Madrid. Embora Jude Bellingham e Vinícius Jr. fossem os responsáveis pelos gols, era Kroos quem ditava o ritmo do time. Seu contrato estava prestes a expirar, mas havia uma sensação de que ele poderia continuar. O Real Madrid, por sua vez, não escondia o desejo de renovar. Uma extensão contratual estava sobre a mesa, esperando apenas por sua assinatura.

Mas Kroos recusou. Ele já havia tomado sua decisão: sua carreira no futebol havia chegado ao fim. Foi uma personificação perfeita do ditado popularizado por Jamie Carragher semanas antes: Kroos deixou o futebol antes que o futebol o deixasse. De certa forma, sua escolha fazia sentido. O único caminho a partir daquele momento parecia ser o declínio. O Real Madrid estava iniciando uma nova era, com jovens superestrelas atléticas assumindo o protagonismo.

Kroos pendurou as chuteiras enquanto ainda tinha algo a oferecer. Seis meses depois, porém, o Real Madrid deve estar lamentando sua ausência. Os merengues deveriam estar dominando LaLiga e firmando sua posição de destaque na reformulada Champions League. Em vez disso, tropeçam em ambas as competições.

Os problemas são muitos. Kylian Mbappé ainda não encontrou entrosamento com seus novos companheiros, Vinicíus Jr. e Rodrygo lidaram com lesões, e a defesa tem sido um verdadeiro caos. No entanto, no centro de tudo está a peça que falta: o regista que controlava o jogo e ditava o ritmo.

Há várias questões a serem resolvidas no Santiago Bernabéu, mas o que o Real Madrid mais sente falta é de Kroos.

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  • Manchester City FC v Real Madrid: Semi-Final Second Leg - UEFA Champions LeagueGetty Images Sport

    Sinais de declínio

    O Real Madrid teve uma temporada abaixo das expectativas em 2022/23 — pelo menos, pelos seus padrões. O time não conseguiu conquistar LaLiga e foi eliminado da Chmapions nas semifinais por um Manchester City avassalador. Um dos principais problemas daquela temporada estava no meio-campo.

    A nova contratação, Aurélien Tchouaméni, nunca conseguiu se firmar completamente. Entre lesões e questões pessoais, ele acabou sendo afastado da equipe titular. Isso levou Kroos a jogar como camisa 5, enquanto o incansável Eduardo Camavinga foi deslocado para a lateral esquerda.

    Pela primeira vez na carreira, Kroos parecia perdido em campo. Com 32 anos, ele já não tinha a velocidade ou o vigor físico de seus colegas de equipe. O cenário era um desastre iminente: erros individuais começaram a se acumular, e algumas de suas posições em campo deixavam muito a desejar. O Real Madrid, frequentemente exposto em transições defensivas, sofria com a falta de equilíbrio no meio-campo. Ao final da temporada, houve quem pedisse a aposentadoria de Kroos. Com apenas um ano restante em seu contrato, poucos o teriam culpado caso ele decidisse parar.

    Mas Kroos decidiu ficar. Desde o início da pré-temporada, havia uma sensação de que algo especial poderia estar por vir. Ele exibia uma atitude confiante, por vezes até arrogante, criticando publicamente jogadores que se transferiram para a Arábia Saudita e sugerindo que Jude Bellingham, a nova contratação, talvez não começasse como titular. Insolente? Talvez. Mas uma coisa era certa: Kroos estava determinado a provar seu valor.

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  • FC Bayern München v Real Madrid: Semi-final First Leg - UEFA Champions League 2023/24Getty Images Sport

    Incrível reviravolta

    E foi exatamente o que aconteceu. Kroos teve uma temporada revigorante em 2023/24, beneficiando-se da mudança tática promovida pela contratação de Jude Bellingham. A chegada do inglês levou Carlo Ancelotti a adotar um meio-campo com quatro jogadores. Embora os gols de Bellingham tenham roubado os holofotes, sua incrível ética de trabalho foi igualmente impactante, dando ao Real Madrid a energia que tanto precisava no setor.

    Além disso, a mudança de Federico Valverde para um papel mais defensivo reduziu a área que Kroos precisava cobrir. Com o equilíbrio finalmente restabelecido, a única tarefa de Kroos era aquilo que ele fazia de melhor: distribuir passes.

    E ninguém passa a bola como Kroos. Seus números não foram apenas os melhores da temporada; estão entre os mais impressionantes da história do futebol. De acordo com dados da FBRef, ele figurou entre os 1% melhores meio-campistas do mundo em categorias como precisão de passes, número de passes realizados e passes progressivos. Praticamente todas as jogadas passavam por ele, e sua influência também se refletiu nos números ofensivos. Kroos alcançou sua maior marca de assistências (10) em quatro anos e registrou um aumento significativo em ações de criação de jogadas.

  • Spain v Germany: Quarter-Final - UEFA EURO 2024Getty Images Sport

    Decisões a tomar

    Kroos chegou a considerar a continuidade de sua carreira por algum tempo. Ele admitiu posteriormente que, embora cogitasse a aposentadoria desde o início de 2024, levou até abril para tomar uma decisão final — e mais um mês para comunicá-la oficialmente ao clube.

    As razões para essa hesitação podem ser muitas. Suas atuações estavam em alta, e o Real Madrid não parecia prestes a perder mais ninguém no meio-campo central. Bellingham ainda tinha espaço para evoluir, enquanto Valverde e Luka Modric continuavam prontos para contribuir.

    Em um nível mais pessoal, ainda havia muito futebol a ser jogado. Julian Nagelsmann havia convocado Kroos de volta à seleção alemã para a Euro 2024, o que impulsionou ainda mais suas atuações. A Alemanha apresentou um desempenho promissor, e, se não tivesse cruzado com a Espanha nas quartas de final, havia uma grande chance de os anfitriões conquistarem o título.

    Mesmo após anunciar sua aposentadoria, Kroos foi repetidamente questionado sobre a possibilidade de reverter sua decisão. Seria difícil se afastar de uma seleção alemã renovada, com Nagelsmann sob um contrato de longo prazo. E, com Mbappé chegando ao Real Madrid, quem não gostaria de participar, de alguma forma, da nova era do clube? Apesar disso, Kroos manteve-se firme em sua decisão de pendurar as chuteiras.

  • Valencia CF v Real Madrid CF - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    O herdeiro aparente

    Com Valverde, o Real Madrid acreditava ter um substituto à altura. Kroos chegou a entregar sua icônica camisa 8 ao uruguaio após a vitória na final da Champions em Wembley, efetivamente o apontando como seu herdeiro.

    A decisão parecia acertada. Valverde é um jogador diferente, mas sua versatilidade e técnica são inegáveis. Sempre houve a sensação de que ele estava destinado a atuar em uma posição mais recuada, com as demandas do time, até então, o desviando de seu melhor papel.

    No entanto, a realidade foi outra. Valverde não é Kroos. O uruguaio é um meio-campista frenético, alguém que personifica a expressão "ação total". Ele se sente mais confortável chutando de longa distância do que controlando o ritmo do jogo no meio-campo. Prefere conduzir a bola em alta velocidade a distribuí-la com calma.

    Os números deixam isso evidente. Valverde está no 83º percentil em precisão de passes e no 71º em passes progressivos. Não é uma crítica; ele é um jogador de futebol excepcional, mas de um perfil completamente diferente de Kroos, que figura entre os maiores da história nesse quesito.

  • Valencia CF v Real Madrid CF - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    Perdendo o controle

    Mas a ligeira regressão do Real Madrid em 2024/25 não pode ser atribuída a um único fator. É um cenário complexo e difícil de definir. Se fosse simples, o clube estaria vencendo todas as semanas.

    Lesões, por exemplo, não ajudaram, mas parte do problema remonta a questões semelhantes às enfrentadas em 2022/23: o Real Madrid não controla os jogos com a mesma eficiência. Sem seu principal articulador no meio-campo, a equipe é frequentemente desmontada em transições. Foi assim que o Barcelona os atropelou em Clássicos consecutivos e como Lille e Liverpool conseguiram superá-los na Champions.

    Um dos problemas está em perder a bola em zonas críticas. O time não completa passes com a mesma frequência, sofre mais perdas de posse e, como consequência, precisa se esforçar mais para recuperá-la. Outro fator crucial é a desvantagem numérica em momentos decisivos.

    E aqui entra o impacto indireto da presença de Mbappé. Ancelotti tem enfrentado dificuldades para encaixar todos os seus craques ofensivos no mesmo esquema. Sua solução tem sido um 4-3-3, com Vinícius, Mbappé e Rodrygo no ataque, enquanto Bellingham, Valverde e, quando disponível, Camavinga, ocupam o meio-campo. O problema é que, ao invés de defender com quatro homens no setor, o Real Madrid agora conta com apenas três.

    Adicione a isso a atitude despreocupada de Mbappé em relação a tarefas defensivas e conceitos como "pressão". A estrutura tática se desorganiza rapidamente. Bellingham, sobrecarregado, tenta cobrir espaços deixados por Mbappé, mas ao ser superado, o time se vê em situações de dois contra quatro na defesa. O resultado? O time frequentemente acaba sendo dominado.

  • Trent Alexander-ArnoldGetty Images

    Uma solução?

    Historicamente, a solução seria desacelerar o jogo e manter a posse de bola. Foi isso que Kroos trouxe ao time. O Real Madrid ainda podia ser pego no contra-ataque – praticamente a única maneira de vencê-los no ano passado – mas com uma vantagem numérica e um mestre dos passes no meio-campo, frequentemente sufocavam os adversários. Em termos simples: você não pode ser atingido na transição se sempre tiver a bola.

    E isso pode acontecer novamente, mas os reforços terão que vir de outra parte, e uma possível solução pode estar a caminho. Parece cada vez mais certo que Trent Alexander-Arnold deixará o Liverpool e se transferirá para o time como agente livre. Sua melhor posição se tornou um tema de debate na imprensa inglesa, um assunto frequentemente dissecado.

    O produto da base do Liverpool não é nem meio-campista central nem lateral direito tradicional. Mas, se usado corretamente, ele poderia ser o substituto perfeito para Kroos. É fácil imaginar Alexander-Arnold começando como lateral, mas se deslocando para o meio-campo sempre que o Real Madrid tiver a posse, lançando passes de profundidade. Ele já desempenha esse papel com grande sucesso tanto no Liverpool quanto na seleção inglesa. Embora sua porcentagem de passes completados (74,1%) seja consideravelmente menor que a de Kroos, isso acontece porque ele é incentivado a fazer passes de maior risco. Seus passes progressivos por 90 minutos (8,28) são os mais altos entre todos os laterais do futebol mundial.

    Novamente, essa adaptação não seria perfeita, e há preocupações defensivas que acompanham a contratação de Alexander-Arnold. Mas, se o Real Madrid deseja alguém para ditar o ritmo do jogo a partir da linha de fundo, dar velocidade ao time e garantir o controle, Alexander-Arnold pode ser o substituto mais próximo que o futebol tem para Kroos. Sua chegada – seja nas próximas semanas ou no verão de julho – pode ser a solução para um problema que se torna mais evidente a cada jogo.