Endrick corre risco de prejudicar desenvolvimento com pouco espaço no Real Madrid - chegou a hora de um empréstimo?

É difícil definir exatamente o que seria considerado um sucesso para Endrick – especialmente nos primeiros dias de sua carreira no Madrid. Afinal, em um vestiário tão competitivo, que inclui astros como Vinícius Jr., Kylian Mbappé, Rodrygo e Jude Bellingham, minutos no banco eram o desfecho mais provável.

Nos primeiros momentos, ele aproveitou bem as chances. Endrick teve apenas cinco minutos em sua estreia – contra o Valladolid, no dia 25 de agosto –, mas impressionou já de cara. Agitou o jogo desde o primeiro momento em que pisou no gramado, cheio de energia e pressionando os adversários. E, como resultado, foi recompensado. Cinco toques – um para dominar a bola, três para girar e cortar para dentro, e o último para finalizar – garantiram um belo gol de estreia - sim, o goleiro provavelmente deveria ter defendido, mas isso não importava; Endrick havia chegado.

O que se seguiu foi uma série de boas aparições saindo do banco. Sua entrada permitiu minutos de descanso a Rodrygo, Mbappé ou Vinícius e deu trabalho às defesas adversárias nos minutos finais. Foram necessários apenas 12 para que ele finalizasse cinco vezes – desempenho que rendeu uma convocação para a seleção brasileira na Data Fifa de setembro.

Isso foi reforçado, um mês depois, com um bonito gol contra o Stuttgart, ajudando a garantir a vitória por 3 a 1 na Champions League. O garoto havia se consolidado, imaginava-se.

Mas então algo aconteceu. Energia nunca faltou, mas a fluidez com a bola desapareceu. Aquele toque inicial elegante e os movimentos ágeis já não estavam lá. Passes errados começaram a surgir, e, com isso, sua confiança despencou. Ele jogou nas 6ª, 7ª e 8ª rodadas da LaLiga, mas depois acabou no banco por longos períodos.

Na verdade, foram quase seis semanas até que o brasileiro fosse reintegrado ao elenco na competição, apesar de não haver nenhuma lesão que justificasse sua ausência. Algo estava errado. Carlo Ancelotti insistiu que isso fazia parte do amadurecimento de um jogador jovem, além de destacar que Mbappé, Vinícius e Bellingham precisavam de tempo para se entrosar. Havia ainda o fato de Rodrygo também estar lutando por minutos em campo. Como Endrick poderia, então, encontrar espaço nesse time?

É curioso que Ancelotti tenha reclamado, nas últimas semanas, da profundidade do elenco do Madrid. De fato, o time está desfalcado na defesa – e agora parece evidente o erro de não contratar um zagueiro no início da temporada. Mas, no ataque, estão muito bem servidos. Não é apenas o trio titular ou o fato de que, muitas vezes, Rodrygo acaba no banco. Brahim Díaz (excelente) e Arda Güler (promissor) também mostraram que merecem minutos por mérito próprio.

Até Luka Modric, utilizado em uma posição mais avançada quando o Madrid adota o 4-4-2 losango, tem reduzido o tempo de Endrick em campo. Olhando de forma ampla, o jovem tem poucos motivos para reclamar. Há qualidade demais no elenco para que ele espere ser titular com facilidade.

E talvez essa seja a pergunta do milhão: isso algum dia foi realmente uma boa ideia? É claro que fazia muito sentido o Madrid contratar Vinícius Jr., por exemplo. À época, também havia boas opções na posição, mas o brasileiro teve tempo para se desenvolver nas categorias de base. Ele também era muito mais cru. Não havia pressa. E, apesar de enfrentar muitas críticas, o clube gerenciou bem seus minutos e o protegeu dos holofotes quando necessário.

Endrick, no entanto, chegou à Espanha mais completo – e com expectativas mais altas. De certa forma, Vinícius tem uma parcela indireta de culpa nisso. Havia a busca pelo próximo grande brasileiro, e Endrick parecia ser esse nome. Mas, por muito tempo, falou-se sobre um empréstimo, tanto quando ele assinou o contrato, em dezembro de 2022, quanto no último meio de ano, quando ficou claro que os Merengues contratariam Mbappé. Uma temporada extra no Palmeiras, uma passagem por outro clube europeu... Essas poderiam ter sido saídas inteligentes para deixá-lo fora dos holofotes por enquanto.

Para a surpresa de um total de zero pessoas, rumores de clubes interessados começaram a surgir. Desta vez, porém, alguns são um tanto estranhos – ou, no mínimo, inusitados. A Roma apareceu como uma possível candidata, no início de novembro. Em muitos aspectos, fazia sentido - um clube italiano de meio de tabela em dificuldades que poderia se beneficiar de um impulso para colocar a temporada nos trilhos. Ele talvez não fosse titular lá, mas certamente teria mais minutos. Para a Roma, seria uma decisão de baixo risco e alto retorno, além de ajudar na venda de camisas.

Mais recentemente, no entanto, as coisas ficaram confusas. O Southampton, ameaçado pelo rebaixamento, teria entrado na disputa, embora seja difícil encontrar um time na Premier League que ofereça menos oportunidades de gol para ele. O Real Valladolid também demonstrou interesse, embora os relatos possam estar ligados ao fato de o clube ter Ronaldo, lenda brasileira, como coproprietário. De qualquer forma, tudo isso aponta para a possibilidade de Endrick sair – pelo menos temporariamente.

É, no mínimo, curioso afirmar que um jogador de 18 anos, que está em um clube há apenas seis meses, já se encontra em uma encruzilhada. Endrick é claramente um bom jogador e ainda pode se tornar excelente. O Real Madrid, no entanto, é um lugar perigoso para jovens talentos – e sempre esperávamos que houvesse um período de adaptação.

O que não era previsível, contudo, era baixíssima minutagem que ele teria. Talvez a melhor política, então, seja realmente uma saída temporária. Endrick, na verdade, não deveria ter chegado ao Real agora. Não havia espaço para ele, e, embora os Merengues tenham dinheiro para investir em jovens do seu calibre, ele é muito jovem para ter sucesso já.

O que acontecerá a partir de agora, é difícil de prever. O Madrid não costuma emprestar jogadores – especialmente os jovens. Um olhar para o histórico recente de transferências do clube sugere que eles preferem mandar suas joias para as categorias de base ou vendê-los com uma cláusula de recompra amigável. Ambas as opções são um pesadelo de relações públicas. Um jogador de oito dígitos, aclamado como um futuro ídolo do futebol brasileiro atuando em um time reserva não é exatamente uma boa imagem. Tampouco é vender para um clube de meio de tabela – mesmo que o Madrid possa comprá-lo de volta por um preço baixo.

Isso deixa os Blancos com uma decisão difícil: deixar o jogador encostado ou emprestá-lo para se desenvolver. A segunda opção é a única que beneficia Endrick.