Didier Deschamps ameaça preparação da França para a Copa do Mundo ao ignorar Kylian Mbappé

Mbappé era o prodígio do futebol francês após ajudar seu país a vencer a Copa do Mundo de 2018 na Rússia enquanto ainda era adolescente. No momento em que Les Bleus foram eliminados da Euro 2020 nas oitavas de final pela Suíça, no entanto, a opinião pública havia mudado. Houve, sem dúvida, um elemento racial em algumas das críticas que Mbappé recebeu por suas fracas atuações na França, mas também havia preocupação legítima com seu comportamento cada vez mais petulante em campo.

A forma como o atacante conduziu o time de Didier Deschamps à final da Copa do Mundo de 2022 ajudou a reparar sua reputação, mas a sensação na França persistia de que, ao atender constantemente a todos os seus caprichos, o PSG teria criado um monstro, uma estrela egocêntrica que se sentia maior não apenas que seu clube - mas também que seu país.

Consequentemente, a decisão de Deschamps de entregar a braçadeira de capitão a Mbappé após a aposentadoria de Hugo Lloris do futebol internacional foi intensamente debatida, e as atuações decepcionantes do atacante na Euro 2024 lançaram mais dúvidas sobre suas habilidades de liderança. No entanto, Mbappé insistiu, antes da estreia da França na Nations League contra a Itália, em 6 de setembro, que não estava prestando atenção às críticas que recebia.

"Estou em um estágio da minha vida e da minha carreira em que não percebo mais," ele disse. "Eu venho, jogo, tento fazer o meu melhor, ajudar o time. O que as pessoas pensam é o menor dos meus problemas."

De certa forma, isso é provavelmente verdade, pois Mbappé tem problemas maiores neste momento. Mas também é muito duvidoso que ele não tenha sido afetado pela queda dramática em sua popularidade.

Mbappé não está jogando com seu habitual nível de confiança relativo ao talento que tem. A atitude parece ter cedido lugar à dúvida própria desde que se transferiu para o Santiago Bernabéu, o local mais exigente do futebol mundial.

Ele ainda está com uma média de um gol a cada dois jogos em todas as competições pelo Real Madrid, mas muito mais era esperado do jogador mais bem pago da Europa, que está atrás de Robert Lewandowski, de 36 anos, por oito gols na artilharia do Campeonato Espanhol. De fato, a mudança dos sonhos tem sido um pouco um pesadelo até agora, com Mbappé sendo bastante criticado por suas fracas atuações e estar sempre impedido.

Sempre houve dúvidas sobre como ele se encaixaria na já montada linha de ataque do Madrid, mas não se pensou que sua chegada poderia ser tão problemática, particularmente para Jude Bellingham, cujo desempenho caiu significativamente nesta temporada.

Assim como na Euro 2024, agora a dúvida que paira é sobre a capacidade de Mbappé de liderar o ataque merengue, o que não é bom - porque não é como se ele merecesse começar em sua posição preferida na ponta esquerda à frente de Vinícius Júnior, que está superando cada vez mais ele em desempenho.

Curiosamente, muitos seguidores de Mbappe não estão nem um pouco surpresos.

"Apesar das estatísticas impressionantes, Kylian tem sido mediano e insuficiente por vários meses, seja na equipe francesa, no PSG ou em Madrid," disse o vencedor da Copa do Mundo Christoph Dugarry à RMC Sport. "Por vários meses, seja na seleção francesa, com o Paris Saint-Germain ou atualmente em Madrid, ele precisa melhorar em seu papel como atacante, nos duelos, no desafio físico quando você joga nessa posição, em seu jogo de cabeça e sua qualidade técnica."

"Ele faz cada vez menos diferença e precisa se questionar. Terá que melhorar porque também estamos vendo as limitações técnicas de Mbappé. Sabemos que ele não está entre os 10 jogadores mais técnicos. E hoje, suas limitações são evidentes com um jogador como Vinicius ao lado dele."

Como apontou Bixtente Lizarazu, ex-companheiro de equipe de Dugarry, enfrentar Mbappé costumava ser o teste mais aterrorizante no futebol para um defensor - mas não agora.

"Talvez ele esteja menos sereno do que o habitual, mais tenso porque está levando tempo para encontrar a melhor versão futebolística de si mesmo," disse o ex-lateral do Bayern de Munique ao L'Equipe. "Mas Mbappé já não é tão explosivo ou decisivo como era. Continua sendo um excelente goleador, um ótimo jogador, é claro, mas já não é tão assustador como antes."

A questão é, por quê?

Ibrahima Konaté frequentemente disse a Mbappé, "Quero seu nível de futebol, mas não sua vida" - uma visão bem reveladora sobre o nível de estresse e tensão que seu colega de seleção enfrenta.

"Às vezes me coloco no lugar dele, e se eu tivesse toda essa atenção em torno de mim, não sei se teria aguentado," declarou o defensor do Liverpool a repórteres no mês passado. "Ele conseguiu fazer isso e continua a fazê-lo. Ele pode ter um colapso psicológico em sua vida, não faço ideia, mas gostaria de discutir isso com ele. Mas você tem que se colocar no lugar dele. Tudo que gira em torno dele é... Ele não tem vida! Ele não tem vida! E deve ser difícil para ele."

Dayot Upamecano também insinuou que, psicologicamente, Mbappé está enfrentando dificuldades no momento.

"O aspecto mental é muito importante para nós, jogadores de futebol," afirmou o zagueiro após o camisa 9 do Real Madrid ser deixado de fora do elenco para os jogos da Nations League de outubro. "Não entrarei em detalhes. Mas ele é nosso capitão e espero vê-lo em breve."

Da forma como está, será apenas em março que possivelmente Mbappé retorne à seleção francesa, mas há especulações de que ele pode não voltar - pelo menos enquanto Deschamps permanecer no comando.

Deschamps foi perguntado inúmeras vezes sobre a ausência de Mbappe nas duas últimas pausas da Data Fifa, mas ainda não deu uma resposta satisfatória. Ainda estamos aguardando uma explicação clara e definitiva para a ausência do capitão da França - e o treinador sabe disso também.

"É uma escolha pontual para esta convocação com os dois jogos que nos esperam, é minha decisão e é melhor assim - mas eu posso entender que isso não é suficiente para vocês", esclareceu o técnico de Les Bleus em entrevista. "Mas eu não vou entrar em uma discussão que leva a interpretações. Eu não quero contar mais."

O treinador campeão da Copa de 2018, no entanto, descartou a ideia de que a exclusão do atacante tivesse algo a ver com alegações feitas na imprensa sueca de que o jogador estava sendo investigado por um suposto estupro em um hotel onde ele e seus amigos ficaram durante uma viagem a Estocolmo no mês passado. Alegações essas que o próprio Mbappé prontamente desmentiu como "notícias falsas". Também não tem nada a ver com afirmações de que o parisiense só queria ser convocado para jogos importantes de agora em diante para permitir que ele se concentrasse em sua candidatura à Bola de Ouro de 2025.

"Tive várias conversas com Kylian", Deschamps explicou. "Pensei nisso e tomei esta decisão [de deixá-lo fora da equipe]. Acho que é melhor assim. Não vou discutir. O que posso dizer, duas coisas: Kylian queria vir, e não são os problemas extracampo que entram em jogo a partir do momento em que a presunção de inocência existe.

"Só tenho decisões difíceis. Tive que tomar decisões importantes e difíceis várias vezes, o que você quiser. Por trás de cada jogador, há um ser humano também. Quando faço listas para uma competição, não faço apenas pessoas felizes. Repito, é minha responsabilidade tomar decisões, e assumo isso plenamente. Vivo com isso e cada vez tenho que tomar decisões mais ou menos duras. Tudo depende da sensibilidade de cada pessoa."

O técnico da França admitiu que ele e Mbappé nem sempre "concordam em tudo" e houve especulação sobre a relação de trabalho da dupla nos últimos meses, com alguns relatos alegando que ela está tensa, e outros alegando que ela se rompeu completamente.

Significativamente, assim que Deschamps alegou que a decisão de omitir Mbappé da última convocação foi sua - e somente sua - histórias apareceram na imprensa francesa desafiando essa afirmação, com uma fonte próxima ao jogador dizendo ao L'Equipe que a situação era "muito mais complexa".

"Fazer as pessoas acreditarem que é decisão do treinador é falso", explicou. "Mas o mais importante, antes de tudo, é que Kylian possa redescobrir a felicidade jogando futebol. O resto virá."

No entanto, outra fonte argumentou que trazer Mbappé de volta ao seu melhor seria mais fácil dizer do que fazer. "Chame como quiser, mas Kylian tem tido um problema mental há vários meses. Isso não se resolve assim tão facilmente," alertou a fonte. "Você precisa de tempo e trabalho, algo que ele está realizando com especialistas."

Quanto tempo isso pode levar vai variar do palpite de cada um. O que está claro é que o estado atual das coisas não é bom para ninguém - e especialmente para o astro. A qualidade, o caráter e o compromisso do capitão da França com a causa estão sob mais críticas do que nunca. Ele diz que não se importa, é claro, mas é fácil entender por que Konaté nem consideraria trocar de lugar com Mbappé agora.