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Demissão de diretor mostra que Manchester United vive caos ainda maior sob Sir Jim Ratcliffe

Dan Ashworth passou tanto tempo em licença remunerada quanto trabalhando para o Manchester United. Agora, reflita sobre isso por um minuto. O cara que o United acreditava ser tão talentoso a ponto de estar disposto a esperar cinco meses para que ele começasse a trabalhar e pagar até £3 milhões para tirá-lo do Newcastle foi considerado inapto para o cargo apenas cinco meses depois de começar a trabalhar.

A verdade é que Ashworth é o mais recente nome a sofrer as consequências de trabalhar no Manchester United e ver suas conquistas impressionantes em clubes anteriores ficaram à sombra do fracasso no Old Trafford. Raphael Varane e Casemiro já passaram por isso, assim como José Mourinho, Louis van Gaal e Erik ten Hag.

Mas parece que nem mesmo os executivos estão a salvo. E é o maior dos cartolas do clube que termina essa história ainda mais machucado: Sir Jim Ratcliffe.

  • Dan AshworthGetty

    Indo contra o próprio discurso

    Muito antes de Ratcliffe sequer considerar comprar sua participação no United, o bilionário já criticava a política de contratações do clube. Já em 2019, ele descreveu o clube "'gastão' burro". E, quando assumiu o controle das operações de futebol do clube, no final do ano passado, afirmou que o segredo para recolocar o United na elite era corrigir as contratações. Ele mencionou a palavra seis vezes em uma entrevista coletiva com jornalistas em fevereiro.

    "Contratações no futebol moderno são muito importantes. O Manchester United claramente gastou muito dinheiro, mas não fez tão bem quanto outros clubes. Então, quando falei sobre ser referência em todos os aspectos do futebol, as contratações estão claramente no topo dessa lista. Estou pensando melhorar nisso para o futuro. Não há muito o que eu possa fazer sobre o que aconteceu no passado. Nosso pensamento é sobre como nos tornarmos referência em contratações daqui para frente. E isso significa que você precisa das pessoas certas">

    No entanto, depois de falar tanto sobre a importância de encontrar as pessoas certas, parece que Ratcliffe e seu colega de INEOS Sir Dave Brailsford cometeram um erro em uma das decisões mais importantes que poderiam tomar: o diretor esportivo. O United vinha correndo atrás dos principais clubes da Europa há anos, decidindo nomear um diretor esportivo apenas em 2021, promovendo John Murtough internamente. Antes dele, o CEO Ed Woodward, cuja formação era em contabilidade e banco de investimentos, realizava a maior parte do trabalho nessa área.

    Contratar Ashworth, que desempenhou um papel importante no sucesso da Inglaterra e do Brighton, foi visto como um passo na direção certa, enfim. Seu status parecia justificar o enorme esforço que o clube fez para tirá-lo do Newcastle, o que quase causou problemas quando se descobriu que haviam abordado ele enquanto ainda trabalhava nos Magpies. Mas nem mesmo um dos melhores profissionais do esporte foi considerado bom o suficiente para Ratcliffe.

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  • Sir Jim Ratcliffe Manchester United 2024-25AFP

    Interferência direta

    Ashworth teria sido informado da decisão logo após a derrota por 3 a 2 do United para o Nottingham Forest - jogo ao qual ele levou sua família. Ainda assim, em retrospectiva, havia uma pequena pista em uma entrevista que Ratcliffe concedeu ao United We Stand. O co-proprietário elogiou as recentes contratações feitas no último ano, chamando Rúben Amorim de "um técnico fantástico" e Omar Berrada de "um grande CEO". No entanto, não houve menção a Ashworth, que, naquela entrevista de fevereiro, havia descrito como "claramente um dos melhores diretores esportivos do mundo" e "uma pessoa muito competente".

    Foi revelado que Ratcliffe não ficou impressionado com a abordagem de Ashworth para nomear um sucessor para Erik ten Hag. O bilionário teria ficado "desapontado" pelo fato de o diretor esportivo não considerar candidatos além daqueles com quem ele já havia trabalhado, como Eddie Howe, Graham Potter e Gareth Southgate, o que levou Ratcliffe a encarregar Berrada de liderar a busca por um novo técnico. Amorim pode se mostrar uma excelente escolha, mas apenas o tempo dirá se Ratcliffe estava certo ao descartar as sugestões de Ashworth.

    No entanto, parece que ele não estava disposto a confiar em Ashworth para fazer o trabalho para o qual foi contratado. Ratcliffe claramente queria ter voz em um processo que Ashworth deveria liderar. E isso não é um bom sinal. Com formação em petroquímica, Ratcliffe encara o esporte muito mais como um hobby do que como sua área de expertise. Interferir no trabalho de Ashworth estabelece um precedente preocupante.

  • Jim Ratcliffe Erik ten Hag Dave BrailsfordGetty

    Decisão de manter Ten Hag

    Outro aspecto intrigante do rompimento na relação entre Ratcliffe e Ashworth está relacionado à decisão de manter Ten Hag, no meio deste ano. Ratcliffe claramente tinha grandes dúvidas sobre a adequação do holandês ao cargo após o time terminar a Premier League em 8° - o pior desempenho do clube em 34 anos. Vale lembrar, antes da final da FA Cup, já haviam reportagens indicando que o clube havia tido conversas com Kieran McKenna, além de contatado Thomas Tuchel e Thomas Frank.

    No final das contas, Ratcliffe decidiu mudar de ideia e não apenas manteve Ten Hag no comando, mas também renovou seu contrato. Essa decisão, assim como as conversas com outros possíveis técnicos, ocorreu antes de Ashworth começar oficialmente a trabalhar, no dia 1° de julho. Em uma entrevista em setembro, Ashworth, assim como Berrada, fez questão de destacar que não participou da decisão sobre Ten Hag, já que ainda não trabalhava para o clube na época. Essas declarações, segundo o Daily Mail, teriam "sido recebidas como um balde de água fria" por Ratcliffe.

    É uma explicação curiosa para Ratcliffe se voltar contra Ashworth, especialmente porque Berrada também se esquivou da responsabilidade pela decisão de manter a confiança em Ten Hag. Ambos os homens não deveriam estar envolvidos nesse processo e, caso admitissem envolvimento, poderiam até enfrentar problemas legais devido às suas obrigações contratuais com Newcastle e Manchester City, respectivamente. A conclusão, portanto, é que essa decisão deveria recair sobre Ratcliffe.

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  • MONACO-RED CROSS-GALA-CHARITYAFP

    £25 milhões em multas rescisórias

    O chefe da INEOS teve cinco meses para observar Ten Hag de perto e decidir se ele era o homem certo para o cargo ou não. Ele estava prestes a concluir que não era, mas a vitória surpreendente na final da FA Cup sobre o City dificultou politicamente a demissão de Ten Hag. Ratcliffe acabou recuando de uma decisão que seria impopular naquele momento - mesmo sabendo que era a correta.

    Conceder mais um ano a Ten Hag não apagou o fato de que todos sabiam que Ratcliffe não acreditava, na realidade, no treinador. Ele só adiou o problema para a temporada seguinte, aumentando o custo de demiti-lo - foram £10,4 milhões investidos na multa rescisória, segundo os relatórios do clube - e obrigando o United a pagar outros £11 milhões para tirar Amorim do Sporting. Nos 11 anos desde a saída de Sir Alex Ferguson, o United já gastou aproximadamente £70 milhões em técnicos - quase um terço desse valor só sob Ratcliffe.

    A decisão de demitir Ashworth pouco mais de um mês após a saída de Ten Hag significa que, apenas no último ano, o United gastou cerca de £25 milhões em multas rescisórias para dois cargos. Agora, o clube terá que desembolsar ainda mais para substituir Ashworth, se a ideia for adquirir outro diretor "referência no mercado".

  • Ruben Amorim Dan Ashworth Getty

    Corte de gastos? Que corte de gastos?

    A indecisão de Ratcliffe sobre Ten Hag, em comparação à demissão quase que implacável de Ashworth, deixou o clube com um baita rombo financeira, ao mesmo tempo em que o co-proprietário pregava a necessidade de o clube ser mais eficiente. Ele demitiu 250 funcionários, a um grande custo pessoal para muitas pessoas que serviram orgulhosamente o clube por décadas. Essa medida economizou cerca de £30 milhões, mas toda essa economia foi anulada pelas demissões de Ten Hag e Ashworth e a consequente contratação de Amorim.

    Ele também encerrou o papel de Sir Alex Ferguson como embaixador, um grande insulto a uma das figuras mais importantes de toda a história do clube, economizando meros £2 milhões. Mais recentemente, ainda aumentou consideravelmente os preços dos ingressos, cobrando £66 por jogo de crianças e idosos, em medida unilateral e sem qualquer consulta. Tudo isso por apenas £1,5 milhão.

    Em outras palavras, funcionários de longa data e torcedores comuns estão pagando a conta pelos erros de Ratcliffe. Isso não deveria ser surpresa, claro, dado como ele enxerga o mundo. Quando a refinaria de petróleo da INEOS em Grangemouth, na Escócia, enfrentava dificuldades financeiras, ele ameaçou fechá-lo caso os trabalhadores não aceitassem suas reformas. Em 2020, mudou sua residência fiscal para Mônaco, economizando cerca de £4 bilhões, fazendo com que um dos homens mais ricos do Reino Unido não pagasse impostos ao país onde fez sua fortuna.

    Ratcliffe também continua fazendo declarações desajeitadas em entrevistas, como desrespeitando o time feminino e afirmando que assistir ao United não deveria custar menos do que assistir ao Fulham, ignorando todas as disparidades financeiras entre Manchester e o oeste de Londres.

  • Sir Jim Ratcliffe HIC 2:1

    Tapando o sol com a peneira

    Ratcliffe afirmou que precisará de tempo para levar o United ao patamar que deseja, avaliando, em fevereiro, que 2028 seria um bom prazo para ver essa transformação em ação. Berrada chegou a afirmar que o clube deveria conquistar o título da Premier League até 2028, ano em que também será comemorado o aniversário de 150 anos da fundação do clube. No entanto, Ratcliffe já está ficando sem tempo após um primeiro ano desastroso.

    Quando Ratcliffe finalmente adquiriu sua participação no clube, em 24 de dezembro do ano passado, o United ocupava o 8º lugar na Premier League. Doze meses depois, está em 13º, 16 pontos atrás do Liverpool, clube que Ratcliffe afirmara querer "derrubar de seu pedestal", junto com o City. O time perdeu mais jogos, seis, do que venceu e tem saldo de gols de apenas um gol. Qual a evolução aqui exatamente?

    O clube gastou £177 milhões em quatro jogadores na janela de meio do ano e demitiu o técnico e o diretor esportivo que os contrataram - o que não é exatamente uma boa notícia para essas contratações. Ademais, cortes foram feitos que nem mesmo a família Glazer - odiada pela falta de investimento no clube - se sentiu à vontade para fazer.

    Ratcliffe é frequentemente descrito pela mídia como um homem com pressa pela mudança, mas talvez fosse melhor ele tirar um tempo para reavaliar os passos que está tomando.

    Ele sempre falou da importância de "caminha em direção à solução". Mas, um ano após o início de sua gestão, ele não parece estar trilhando o caminho certo.

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