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Luis Enrique Xavi BarcelonaGOAL

Críticas, declarações e muito "climão": como os ícones do Barcelona Luis Enrique e Xavi Hernández se deram durante os anos

São duas lendas da era moderna do Barcelona. Juntos, foram peças essenciais para a conquista da Champions League 2014/15, a última grande alegria do clube blaugrana, há quase uma década. Nas vezes em que estiveram juntos em campo, sempre houve sorrisos e abraços entre eles. No entanto, as tensões entre Luis Enrique e Xavi Hernández continuam a aumentar.

O lançamento do mais recente capítulo de 'No tenéis ni p... idea', um documentário da Movistar+ que revisita o primeiro ano de Luis Enrique como treinador do Paris Saint-Germain, reacendeu a polêmica. No episódio, é relembrado confronto das quartas de final da última Champions entre PSG e Barça, e o técnico do time parisiense aproveita para fazer críticas duras ao seu colega de profissão.

"Em Paris, Ter Stegen bateu o recorde de chutões. Foram 24. Se você é pró-Xavi, fala do terceiro homem, mas um analista comum diz a verdade: isso é um chutão. Jogam como o Eibar. Se na minha época isso acontecesse, cuidado: ‘empalados’ não, seria muito pior. Como o jogo mudou...", afirmou Luis Enrique, durante o episódio que retratava o confronto.

E isso não foi tudo: "O Barça de Xavi não é um time bom defensivamente. Não é uma equipe dominante nem de posse de bola. Se isso tivesse acontecido na nossa época, não teria sido apenas uma crítica, teria sido muito pior", analisou. E concluiu: "Eles não teriam nos vencido nem com 11 nem com 12 jogadores", referindo-se à expulsão de Ronald Araújo, que foi decisiva para que o PSG revertesse o placar adverso.

Mas, de onde vem tanta animosidade? Luis Enrique e Xavi estão realmente em conflito?

  • Luis Enrique Xavi Barcelona 2004CHRISTOPHE SIMON/AFP via Getty Images

    Um relacionamento de longa data

    Os técnicos não são dois desconhecidos. Muito pelo contrário: sua relação tem mais de 25 anos.

    Os primeiros encontros aconteceram em julho de 1998, quando Louis Van Gaal promoveu ao time principal do Barcelona um promissor jovem da base chamado Xavi Hernández. O meio-campista se juntava a um elenco que acabara de conquistar a dobradinha de LaLiga e Copa do Rei na temporada 1997/98, com Luis Enrique como uma de suas principais estrelas, em sua segunda temporada com a camisa blaugrana, após sua polêmica saída do Real Madrid em julho de 1996.

    Como jogadores, foram companheiros por seis anos, período em que ambos foram titulares com regularidade, até que Luis Enrique se aposentou em 2004, após ser perseguido por lesões. Voltariam a se reencontrar exatamente uma década depois, quando ele retornou ao clube blaugrana, desta vez como treinador.

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  • Luis Enrique Xavi Real Madrid CF v FC Barcelona - La Liga 10252014Getty Images Sport

    Um líder no vestiário

    Quando Luis Enrique assumiu o comando técnico do Barcelona, Xavi estava de saída. Após uma decepcionante temporada 2013/14, em que havia perdido o status de titular absoluto, e uma Copa do Mundo de 2014 no qual ficou no banco enquanto a Espanha era eliminada precocemente na fase de grupos, após derrota para o Chile, o jogador sentia que sua carreira no mais alto nível estava chegando ao fim, apesar de ainda ter dois anos de contrato com o clube.

    Durante a Copa do Mundo, Dani Alves chegou a confirmar a saída do meio-campista em uma coletiva de imprensa: "Sim, é verdade, o Xavi vai embora. É uma grande tristeza, com sua saída perco um dos meus ídolos no futebol." A imprensa também relatava que Xavi planejava anunciar sua decisão no final de junho, e o clube já preparava um jogo de despedida para ele.

    No entanto, algo mudou nos dias seguintes, e a chama do futebol reacendeu dentro dele. O principal responsável por essa mudança foi ninguém menos que Luis Enrique: seu ex-companheiro e agora treinador o convenceu de que ele ainda poderia ser importante para o elenco e garantiu que teria as mesmas chances que qualquer outro para lutar por um lugar no time titular. "Se você ficar, ótimo. Mas se eu não te escalar, não enche o saco", brincou o técnico, conforme relatado em uma crônica de Luis Martín publicada pelo El País em 22 de julho daquele ano.

    Na temporada 2014/15, Xavi foi a segunda opção do treinador, atrás do recém-chegado Ivan Rakitic, mas sempre esteve à disposição: participou de 31 dos 38 jogos de LaLiga (19 como titular) e de dez dos 13 jogos da Liga dos Campeões, embora apenas dois como titular. Sua importância no vestiário, no entanto, foi crucial, especialmente quando atuou como mediador entre Luis Enrique e Lionel Messi após o famoso incidente em San Sebastián, que quase custou o cargo do técnico apenas seis meses depois de sua chegada.

    Embora seu papel em campo tenha sido secundário, Xavi foi o capitão na conquista do Triplete. Por isso, o clube quis abrir negociações para renovar o contrato que expiraria um ano depois, mas o jogador não só recusou a proposta como decidiu encerrar sua trajetória no auge: no dia 21 de maio, antes das finais da Copa do Rei e da Liga dos Campeões, ele anunciou que deixaria o clube ao final da temporada.

    "Conversei muito sobre futebol com o Luis Enrique. No início da temporada, disse que iria embora, e me pediram para ficar. Ele foi muito honesto comigo, sempre direto, e eu sou grato por isso, mas é difícil não ser titular após 15 anos. Tive que ser humilde e tentei unir o grupo", declarou na coletiva em que comunicou sua decisão.

    Segundo versões relatadas por Alex Pinantel no Relevo, essa forma de saída do capitão não agradou totalmente a Luis Enrique. Será que a semente da discórdia foi plantada aí?

  • Luis Enrique GFX HDGetty

    As primeiras críticas

    Sem Xavi como líder do elenco, Luis Enrique conquistou a dobradinha de LaLiga e Copa do Rei em 2015/16, mas começou a ouvir os primeiros sinais de questionamento: a falta de um maestro e a diminuição dos minutos em campo do outro cérebro blaugrana, Andrés Iniesta, eram difíceis de engolir para uma torcida que se orgulhava tanto das vitórias quanto do domínio da posse de bola que o Barça exibia em cada partida.

    As críticas aumentaram com o passar dos meses, e por isso, não foi exatamente uma surpresa quando, em março de 2017, antes do jogo de volta das oitavas de final da Liga dos Campeões, onde precisava reverter o humilhante 0 a 4 sofrido contra o PSG, o treinador anunciou que deixaria o clube ao final da temporada 2016/17: “O motivo é a maneira como eu vivo essa profissão, eu dou tudo de mim. Isso significa poucas horas de descanso, de desligar”.

    Luis Enrique nunca lidou bem com os questionamentos, muito menos com as dúvidas sobre seu alinhamento com o DNA do clube. Por isso, as declarações de Xavi no início de 2018, em entrevista ao El País, devem ter sido como uma facada: “Luis Enrique fazia um bom trabalho, mas não era o que eu gostava. No Barça, jogávamos no contra-ataque, Luis Enrique convidava o adversário a avançar para pegá-lo de surpresa. Isso era impensável no Barça de Guardiola. Mesmo vencendo por 1 a 0 aos 44 minutos do segundo tempo, o que eu quero e onde me sinto mais confortável é no campo adversário, com a bola, atacando”.

    Essa frase ecoou na cabeça do treinador por seis anos. Até que chegou o momento de sua revanche.

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  • 20230918 Luis Enrique(C)Getty Images

    "Eu, sem dúvida"

    15 de março de 2024. Na sede da Uefa em Nyon, o nigeriano John Obi Mikel sorteia seis bolinhas, definindo os três primeiros confrontos das quartas de final da Liga dos Campeões. No pote da mesa, restaram apenas duas bolinhas, e todos sabiam os nomes que elas carregavam: Paris Saint-Germain e Barcelona irão se enfrentar mais uma vez em um mata-mata.

    Dez anos após seu primeiro reencontro, Luis Enrique e Xavi se cruzariam novamente, agora como técnicos e adversários. Uma ocasião perfeita para o primeiro tentar quitar sua dívida com o segundo, que, alguns meses antes, havia anunciado que deixaria o Barça com argumentos muito parecidos aos que Luis Enrique usou em 2017.

    Chega o dia anterior ao primeiro jogo do confronto, e o técnico do PSG concede a coletiva de imprensa tradicional. As perguntas fluem até que o microfone chega a Alessandro Grandesso, jornalista de La Gazzetta dello Sport, que vive há mais de uma década na capital francesa e é próximo da diretoria que comanda o clube parisiense. "Quem dos dois representa melhor os valores futebolísticos catalães?", dispara o italiano. A pergunta não surpreende Luis Enrique: ele já sabia que seria feita.

    A resposta estava pronta: "Eu, sem dúvida. Não é uma opinião, é só olhar os números. Você pode ver as estatísticas de posse de bola, chances de gol, pressão alta, número de troféus e títulos. Eu sei que algumas pessoas pensam diferente, mas sem dúvida: sou eu".

  • Xavi evita polêmica e Luis insiste

    As declarações do treinador do PSG ecoam por toda a Catalunha, reabrindo um debate que parecia encerrado há tempos. Xavi, claro, é questionado pela imprensa e decide se distanciar: "É o Luis Enrique. Vocês conhecem ele. Tenho uma ótima relação pessoal e todo o respeito. Ele é um dos melhores técnicos do mundo e tem um time feito para ganhar a Liga dos Campeões."

    Tentando encerrar o debate, Xavi solta uma frase que contrasta com o que havia dito em 2018: "Nós dois buscamos a mesma coisa. Podemos nos orgulhar de que Luis Enrique, Pep Guardiola, Arteta e nós somos Barça. Quatro treinadores com o DNA do Barça nas quartas de final da Liga dos Campeões. Nós dois buscamos a mesma coisa, esse DNA Barça que nos identifica e nos enche de orgulho."

    Mas Luis não deixa passar. E antes do jogo de volta, após o time blaugrana ter conquistado uma surpreendente vitória por 3 a 2 no Parque dos Príncipes, ele se desmancha em elogios a Xavi, mas insiste na sua visão: "O PSG vai pressionar desde o primeiro minuto, e o Barcelona vai usar o jogo longo e o passe em profundidade para aproveitar os espaços. Acho que na ida Ter Stegen bateu o recorde com 24 bolas longas para superar a pressão."

  • E então?

    De acordo com vários relatos, a relação entre Luis Enrique e Xavi fora dos campos e longe dos microfones é boa. "Falei com ele há duas semanas, tenho a sorte de ter uma boa relação com ele, com toda a sua equipe, me correspondo com vários deles. Nada muda", disse Xavi naquele 9 de abril, quando Luis lançou a primeira provocação sobre o DNA blaugrana.

    No entanto, é difícil acreditar que essas novas declarações, que vieram à tona com o documentário do treinador do PSG, não tenham abalado Xavi de alguma forma. Ainda assim, a resposta provavelmente não virá tão cedo: Xavi costuma evitar polêmicas.

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