Como o Real Madrid poderá jogar com Kylian Mbappé, Endrick e Jude Bellingham no time titular?

A história recente nos mostra que não é tão fácil assim colocar o francês em uma equipe rodeada de craques, e a relação com Lionel Messi e Neymar evidenciou isso. O que era esperado por muitos como o possível melhor trio de ataque da história, se tornou um fiasco diante uma mistura de lesões, briga de egos e deficiências táticas.

Mbappé não foi o único problema nessa relação. Messi não queria estar em Paris, e Neymar, em meio a problemas no tornozelo e de comportamento, também não contribuiu. No entanto, o francês deveria ser o centro desse projeto, alguém que segurasse sempre a barra quando as coisas não andavam como o esperado para os ídolos.

É possível que tenha sido colocado mais expectativa acerca de Mbappé do que o necessário, em um momento que o jogador ainda tinha 20 e poucos anos. Mesmo assim, não conseguiu protagonizar grandes momentos pelo clube e ficou mais marcado por disputas de poder dentro e fora de campo.

Esta é uma preocupação para o Real Madrid. O elenco já tem seus craques, e Bellingham, Rodrygo e Vinicius Jr. cumprem bem esse papel. Mas, com a chegada de um jogador do mesmo nível ou superior, a toxicidade pode roubar a cena e causar problemas que não são comuns nos últimos anos madridistas, ainda mais com o perfil de Ancelotti como técnico.

Atualmente, o modelo de jogo do Real é totalmente favorável a Jude Bellingham. Ele não é nem um atacante e nem um meia ofensivo. O próprio Ancelotti o descreveu como um falso nove. No entanto, até essa definição é imprecisa. Geralmente, ele parte de um posicionamento mais recuado, subindo mais com bola no pé.

Como a maioria dos jogos de La Liga são contra equipes de blocos defensivos mais recuados, o Real Madrid se dá ao luxo de ter um craque que jogue nesse papel e com tanta liberdade de percorrer com a bola. Mas nem sempre é ou será assim. Embora faça muitos gols, não é um atacante e nem um meia ofensivo. Manter um estilo de jogo voltado a um jogador deste tipo pode se tornar uma complicação com a chegada de Mbappé, que também requer um papel fundamental em campo.

Utilizar Bellingham como um atacante pode ser uma simples maneira de encaixar o novo companheiro dentro dos conformes. Como ele prefere jogar pelo lado esquerdo, o inglês poderia bem ser o 9, e Vinicius não teria muitos problemas em jogar do outro lado do campo. Obviamente, é apenas uma hipótese. Provavelmente levaria tempo para o braileiro se adaptar na ponta direita, enquanto há a incerteza de que Bellingham, um meio campista de origem, atuaria bem como um atacante. Apesar de estar em uma ótima temporada, Rodrygo, neste caso, seria deixado de lado por Ancelotti.

Sabemos da versatilidade que Bellingham tem em campo. Inicialmente, no Birmingham City, ele utilizava a camisa número 22, já que poderia atuar como 4, 8 ou 10. Nos últimos meses de Borussia Dortmund e na seleção inglesa, jogou em um papel híbrido entre camisa 8 e 10, recuado ao trio de ataque. Dessa forma, ele joga como um criador principal da equipe e ainda tem que ajudar defensivamente quando possível.

Utilizá-lo desta maneira não é algo fora da realidade, e, provavelmente, é o que se esperava do atleta quando chegou à Madrid. Como um terceiro homem de meio campo, Rodrygo certamente teria mais espaço para ser titular da equipe e Vinicius poderia se manter na ponta esquerda. A aposta da vez seria Mbappé centralizado.

O craque francês já havia alfinetado Christophe Galtier, ex-técnico do PSG, em outubro de 2022 ao ser escalado para jogar como camisa 9. Ele utilizou o termo “PivotGang” de forma irônica em uma postagem nas redes sociais. Embora Mbappé possa assumir papéis de grandes goleadores centralizados da história do Real Madrid, como a recente história de Karim Benzema, é fato que não será a posição mais agradável.

Além de Mbappé, o Santiago Bernabéu terá mais um reforço para o ataque. Após conduzir o Palmeiras aos títulos do Brasileiro de 2023 e do Paulista de 2024, Endrick completará 18 anos neste meio do ano e, logo, estará de malas prontas para Madrid. A questão é: como Ancelotti utilizará a jóia?

Ele já atuou como centroavante, ponta, e até como camisa 10 no Brasil. Por ser jovem, sua adaptação pode ser demorada. Mas, caso faça uma pré-temporada que contrarie as expectativas - o que não é difícil, de acordo com sua formação na base e no profissional, ele pode se tornar mais um na fila de titular do treinador italiano.

Conforme o atacante for se adaptando, o mais seguro seria tê-lo como um 9, ao lado de Mbappé e Vinicius abertos. Caso o brasileiro atuasse como um camisa 10, poderia abrir espaço na escalação para Rodrygo e Bellingham, com o segundo mais recuado. Esta decisão impactaria no poder de fogo do inglês, mas seria um time com alto potencial de gols. Com certeza, encontrar o equilíbrio necessário para enfrentar os grandes clubes da Europa se tornaria um grande desafio.

Pensando bem, talvez o dilema não seja tão grande. O Real Madrid atuou muito bem nesta temporada e conquistou três títulos em 2023/204. O jogo dedicado a Bellingham em uma posição abaixo dos atacantes Vinicius e Rodrygo é uma tacada de experiência de Ancelotti, embora os brasileiros tenham tido problemas para se adaptar inicialmente, hoje já se encontraram.

Mbappé entrar no time titular no lugar de Rodrygo pode ser a melhor opção para extrair o melhor das super estrelas. Vinicius pode ter de se adaptar novamente, enquanto o outro brasileiro deverá trabalhar duro para reconquistar um espaço.

Ancelotti pode ser o homem perfeito para o trabalho. A renovação de seu contrato foi o ponto mais importante para a próxima temporada. Sendo assim, com a chegada de Mbappé, ele encontrará um ambiente propício e ajustado de acordo com um treinador vencedor e já experiente com diversos vestiários.

O italiano foi o responsável por gerir um Milan rodeado de craques, como Kaká, Andriy Shevchenko, Hernán Crespo e Andrea Pirlo. Transformou o ego do Chelsea no final dos anos 2000 em sede por títulos. Além de que, seu sucesso recente em Madrid também foi construído por conta da boa gestão de personalidades fortes. Como o único treinador na história a ser campeão das cinco grandes ligas da Europa, com certeza ele encontrará um caminho ideal para Mbappé, Vinicius, Bellingham, Rodrygo e Endrick desfilarem juntos no Santiago Bernabéu.