+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Lionel Mess, Javier Mescherano Inter MiamiImagn/GOAL

Como ajustes de Javier Mascherano fizeram Lionel Messi deslanchar pelo Inter Miami na temporada atual da MLS

Você até poderia achar que o Inter Miami fosse desandar depois do Mundial de Clubes. Isso não seria uma conclusão absurda, e o roteiro era fácil de prever: Messi e companhia até passaram da fase de grupos, mas foram atropelados por 4 a 0 nas oitavas de final pelo PSG, que acabaria vice-campeão.

No caminho, o time ainda sofreu com lesões e acabou virando um símbolo das dificuldades da MLS em competições internacionais. Entre os três representantes da liga no torneio, o Inter Miami foi o único que venceu uma partida, mas foi eliminado em casa (ou quase isso) pelos campeões da Europa.

Dava para imaginar o que viria depois: elenco desgastado, mais contusões e, quem sabe, até uma queda de rendimento do próprio Messi. Ninguém seria criticado por dizer que a derrota para o PSG poderia desencadear uma sequência pesada de meses ruins.

Mas esse roteiro durou pouco mais de duas semanas.

O Inter Miami não afundou. Pelo contrário, parece revigorado. A equipe renasceu após se tornar o primeiro clube da MLS a vencer um time europeu em um torneio oficial. E, como sempre, Messi está no centro dessa virada. O camisa 10 marcou dois gols em cada uma das últimas cinco partidas da liga, igualando o recorde da MLS de jogos consecutivos com dois ou mais gols. Se repetir a dose contra o Cincinnati, nesta quarta-feira, ele se tornará o recordista isolado.

Mas não é só ele. O Inter Miami, como equipe, está mais forte. O time está mais equilibrado, com uma estrutura bem definida e uma defesa mais confiável. Quando Messi está inspirado e o time ao redor dele funciona, é difícil segurar.

A GOAL analisou algumas das mudanças táticas que o técnico Javier Mascherano fez para evitar que o pós-Mundial virasse um pesadelo.

📱Veja a GOAL direto no Whatsapp, de graça! 🟢
  • Paris Saint-Germain v Inter Miami CF: Round Of 16 - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Antes do Mundial de Clubes...

    Vamos aos números: antes do Mundial, Messi já vinha fazendo coisas de Messi. Foram cinco gols nos três jogos anteriores à Data Fifa e ao início da competição. O Inter Miami venceu dois e empatou o outro, sendo um empate fora de casa contra o bom time do Philadelphia Union, que foi visto como um ponto positivo.

    Naquele momento, o craque argentino somava 10 gols e cinco assistências em 13 partidas da MLS pelos Herons. Nada absurdo para os padrões dele, mas números bem sólidos.

    O problema é que, naquela altura, o Miami não era exatamente um time bem ajustado. Messi até balançava as redes com frequência, mas o entorno desmoronava. O estilo “Mascherano ball” ainda estava em fase de construção, mais baseado no improviso de um time do Messi do que em princípios táticos claros. A ideia era manter a posse e recuperar a bola rapidamente, mas tudo isso ainda soava mais como teoria do que como uma fórmula realmente eficaz.

    E o elenco não parecia pronto para executar esse tipo de jogo. Sim, o Miami tinha mais posse que a maioria dos adversários, mas era péssimo na hora de pressionar e recuperar a bola, e por isso, fácil de ser atacado. No papel, é simples: para fazer uma pressão alta funcionar, é preciso combinar organização tática com jogadores fisicamente preparados em todas as áreas do campo.

    A defesa precisa ter coragem para jogar adiantada, mesmo com o risco de deixar espaço às costas. O ataque tem que cortar as linhas de passe, e o meio precisa estar pronto para desarmar quando a primeira linha for superada.

    Existem muitas variações disso. O PSG, por exemplo, força o adversário a sair jogando perto do próprio gol, porque sabe que recuperar a bola ali é o caminho mais rápido para criar chances. O Arsenal empurra o jogo para o centro do campo e conta com volantes atléticos para roubar a bola.

    O Inter Miami era mais simples: marcava homem a homem em alguns momentos e apostava que os rivais da MLS iriam se atrapalhar com a pressão. Não funcionou. O time tomava muitos gols e era extremamente vulnerável.

  • Publicidade
  • Inter Miami CF v FC Porto: Group A - FIFA Club World Cup 2025Getty Images Sport

    Impacto da Copa do Mundo de Clubes

    Mas o Mundial parece ter virado a chave. Desde o começo já havia uma contradição embutida: dentro da MLS, o Inter Miami costuma ser mais forte, jogador por jogador, do que seus adversários. E com Messi no elenco, entra como favorito em praticamente todos os jogos.

    Na Copa do Mundo de Clubes, esse cenário desapareceu. Esperava-se que o time pudesse vencer o Al Ahly (e não venceu), mas Porto e Palmeiras eram claramente superiores no papel. Isso forçou Mascherano a rever seus conceitos. Ele deixou de lado a ideia de pressão alta e linha defensiva avançada, e optou por um plano mais cauteloso: recuar as linhas, aguentar a pressão e confiar que Messi resolveria lá na frente.

    Deu certo. Especialmente contra o Porto. O Miami contou com uma pitada de sorte, ganhou disputas importantes e viu Messi brilhar com uma assistência e um gol. Não foi exatamente um show tático, mas sim um exemplo de flexibilidade: o time mostrou que podia mudar e ainda assim competir. Contra o PSG, não teve jeito, o nível era outro. Mas as lições do Mundial ficaram claras.

  • CF Montreal v Inter Miami CFGetty Images Sport

    Mudança nas laterais

    Desde então, o Inter Miami tem se mostrado mais confortável em não dominar tanto a posse de bola. Contra Nashville e New England Revolution, por exemplo, ainda teve mais a bola, mas em níveis abaixo da média da temporada. O New England, inclusive, finalizou mais (16 a 13) e acertou o dobro de chutes no gol. Ainda assim, em todos esses jogos, o time foi muito mais sólido defensivamente e difícil de ser vazado.

    Parte disso vem da nova estrutura, especialmente pelos lados do campo. Antes, os laterais do Miami subiam muito. Jordi Alba aparecia em todos os cantos. Marcelo Weigandt tinha liberdade para improvisar. A ideia era gerar caos e povoar o ataque.

    Agora, a proposta é diferente. Os laterais ficam mais abertos, mas também mais recuados. Resultado: um time muito mais equilibrado. Antes, quando perdia a bola, os laterais precisavam correr desesperadamente para cobrir os espaços. Agora, eles já estão posicionados, prontos tanto para ajudar na saída de bola quanto para defender.

    Os mapas de calor mostram isso com clareza: Alba e Weigandt têm, hoje, uma média de posicionamento no próprio campo, mais fixos em seus lados.

    Miami full backs heat mapWhoScored

    Isso foi bem diferente do que aconteceu, por exemplo, na derrota por 4 a 1 para o Minnesota antes do Mundial, quando os dois praticamente moraram no campo adversário.

    Miami full backs heat map MinnesotaWhoScored

    Essa mudança ajuda de duas formas: primeiro, o time tem mais gente para defender, o que sempre é bom. Segundo, dá ao Inter mais controle do jogo. Como não é um time particularmente veloz nem fisicamente dominante, ter laterais bem posicionados e participativos na armação deixa tudo mais fluido e organizado.

  • FBL-MLS-MIAMI-NASHVILLEAFP

    Intensidade no meio de campo

    O setor de meio-campo também passou por alguns ajustes. É importante dizer: Sergio Busquets é um craque, um jogador que ajudou a mudar a maneira como o futebol enxerga a função de primeiro volante. Mas, nesta temporada, tem sofrido bastante. Os problemas são, na verdade, uma repetição do que já acontecia nos seus últimos anos de Barcelona.

    Busquets é lento. E quando o time ao redor não consegue cobrir os espaços de um meio escancarado, ele vira uma peça vulnerável. Ele é o típico camisa 5 que precisa da bola no pé e da “malandragem” para recuperar a posse em zonas apertadas. Pode até atuar mais recuado, quase como um zagueiro, ou subir um pouco mais se necessário.

    Mas Busquets sempre foi um 1º volante puro. Nunca teve velocidade, e aprendeu a jogar sem ela. No ano passado, a solução do Inter foi escalar Yannick Bright, um volante com muito fôlego, para compensar o que o espanhol já não conseguia alcançar. A ideia funcionou bem, dado o dinamismo do companheiro. Só que Bright se machucou, e a ausência dele foi sentida. A saída, então, foi reduzir os espaços no meio.

    Quem ganhou destaque nesse novo desenho foi Benjamin Cremaschi. Apesar de ser, em tese, um meia ofensivo, ele passou a cumprir papel de “carregador de piano” no meio, indo de área a área, desarmando e equilibrando a equipe. Está mais para um Jordan Henderson do que para um Luka Modric.

    E tudo bem com isso. O que importa é que ele tem ajudado o time a ficar mais compacto e menos exposto.

  • Inter Miami CF v Nashville SCGetty Images Sport

    "Bola no Messi"

    E aqui chegamos ao nome que todos querem ouvir: Lionel Messi. Na temporada passada, o Inter Miami fez questão de dizer que o time não dependeria apenas dele. E esse discurso tem seu valor, por melhor que ele seja, Messi não é invencível. Aos 38 anos, já não dá para esperar que resolva tudo sozinho, o tempo inteiro. Como disse o próprio Mascherano à GOAL antes da temporada: “a única forma de treinar o Messi é dar algumas ideias... e sair do caminho”.

    É arriscado? Com certeza. Mas estamos falando do maior jogador da história. E enquanto o time foi se tornando mais sólido e Suárez reencontrou um pouco de gás, Messi seguiu flutuando em campo. Com uma estrutura mais bem montada ao redor, ele simplesmente voltou a ser brilhante.

    Tem golaços, como o que fez contra o Montreal, mas também há muita inteligência: aproveitamento de passes errados, leitura rápida de jogadas, antecipações, finalizações precisas e, claro, uma ou outra pintura de vez em quando.

    São gestos simples, mas que mostram um Messi em altíssimo nível.

  • Inter Miami CF v Nashville SCGetty Images Sport

    O que vem por aí?

    O que vem pela frente promete ser decisivo. O clube de David Beckham tem mais três jogos pela MLS antes de iniciar a Leagues Cup. E dois deles serão contra o Cincinnati, um dos principais concorrentes pelo topo da Conferência Leste. Enfrentam-se duas vezes no intervalo de 10 dias em um confronto que pode definir os rumos da temporada. Se vencer, o Miami se consolida como favorito. Se perder, o time pode perder moral.

    A Leagues Cup também traz novos desafios. Em 2023, o torneio marcou a estreia de Messi com um título. Desta vez, a competição foi encurtada, e o Inter só enfrentará times mexicanos na fase de grupos. Isso pode representar uma mudança de ritmo interessante, mas também um desafio técnico importante.

    As notícias sobre lesões são animadoras: Bright voltou a treinar, e Ian Fray, Noah Allen e o goleiro Drake Callender estão em fase final de recuperação. O elenco começa a ficar inteiro na hora certa.

    Fora de campo, o mercado de transferências também está agitado. Rodrigo De Paul, parceiro de Messi na seleção argentina, foi ligado a uma possível saída do Atlético de Madrid para a MLS. Seria um negócio complicado por conta das limitações salariais da liga, mas não é algo totalmente fora de alcance.

    No fim das contas, o plano do Inter Miami é simples: confiar no camisa 10 e seguir evoluindo com base nas lições do Mundial para tentar, com organização e talento, alcançar a tão esperada taça da MLS.