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Guardiola becoming MourinhoGetty/GOAL

Chilique contra o Liverpool põe Pep Guardiola no caminho de ser um novo José Mourinho

Antes do confronto contra o Liverpool, Pep Guardiola admitiu: "Os últimos nove anos estão mortos", reconhecendo que seu histórico vitorioso não o protegeria se o Manchester City continuasse em má fase. Então, por que, durante a quarta derrota consecutiva no Campeonato Inglês, ele levantou seis dedos para a torcida de Anfield?

Enquanto os torcedores do Liverpool cantavam "Você será demitido pela manhã", Guardiola mostrou um dedo para cada título da Premier League conquistado. Em vez de seguir a teoria de que "você é tão bom quanto seu último sucesso", ele recorreu às suas conquistas passadas como uma espécie de escudo em meio à crise.

"Tenho muito orgulho dos meus seis títulos da Premier League contra esse time e os anteriores", explicou Guardiola. Orgulho legítimo, sem dúvida. Mas, ao destacar suas glórias anteriores durante sua pior sequência em 17 anos como técnico, ele começa a lembrar outro técnico vencedor que também perdeu o rumo de forma inesperada: José Mourinho, seu antigo rival.

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  • Pep Guardiola Manchester City 2024Getty

    Os impérios de hoje, as cinzas de amanhã

    Guardiola não fez o gesto dos seis dedos apenas para provocar a torcida do Liverpool, mas também para os torcedores do City no fim do jogo, tentando animá-los após mais uma derrota amarga — a sexta em sete partidas.

    Muitos torcedores do City nem eram nascidos na última vez que o clube perdeu quatro jogos seguidos no Campeonato Inglês, em 2008, pouco após a aquisição pelo grupo de Abu Dhabi. Mas eles podem se lembrar de outro império ruindo: Mourinho.

    Em 2015, o português venceu sua terceira terceira Premier League, o Campeonato inglês, com o Chelsea, mas depois comandou uma das piores defesas de título da história. Após a quarta derrota em oito jogos, ele avisou a diretoria: "Se me demitirem, estarão demitindo o melhor técnico que este clube já teve." Dois meses depois, após mais uma derrota, foi dispensado com nove derrotas em 16 jogos.

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  • Man Utd Jose Mourinho 2017Getty

    Provocações

    Nos últimos dias de Mourinho no Chelsea, ele evitava gestos com as mãos, mas no Manchester United, apontar o dedo virou uma marca de seu turbulento reinado. Após conquistar a Europa League, ele destacou o sucesso triplo, incluindo a Copa da Liga Inglesa e a Supercopa da Inglaterra, pedindo aos jogadores que levantassem três dedos durante a celebração.

    Embora quisesse ressaltar suas conquistas, insistir que a vitória sobre o Leicester na Supercopa era algo grande mostrava seu distanciamento gradual do topo do futebol mundial. Ele ficou cada vez mais impetuoso nas entrevistas, falando sobre "herança do futebol" após a eliminação na Champions League e pedindo "respeito" após a derrota para o Tottenham em casa.

    Mais tarde, ao enfrentar o Chelsea, ele levantou três dedos novamente, tentando relembrar os bons tempos, mas parecia desespero. O United estava em crise, com poucas vitórias na liga nacional. Dois meses depois, Mourinho foi demitido. Hoje, no Fenerbahçe, ele está fora da disputa pelo título e é mais conhecido por suas atitudes excêntricas.

  • Jose Mourinho Pep GuardiolaGetty

    Rivalidade entre Mourinho e Guardiola

    Gestos e coletivas marcantes são a marca de Mourinho, mas esperamos mais de Guardiola, que sempre preferiu que suas equipes falassem em campo.

    A rivalidade entre Mourinho e Guardiola começou na última década, quando ambos estavam no Barcelona, comandados Sir Bobby Robson, e se davam bem. No entanto, Mourinho irritou Guardiola durante a semifinal da Champions League de 2010, quando a Inter eliminou o Barça, e a rivalidade se intensificou na temporada seguinte, graças à quatro clássicos entre o Real Madrid de Mourinho e o Barça de Guardiola.

    Antes de uma semifinal de Liga dos Campeões entre Real e Barça, Mourinho tentou pressionar Guardiola, acusando-o de reclamar demais da arbitragem em um El Clásico pela Copa do Rei. Guardiola, irritado com a atitude e a derrota de sua equipe no campo, respondeu: "Nesta sala, ele é o chefe, o mestre. Eu não quero competir com ele fora de campo, mas isso é futebol."

    Na partida seguinte, o Barça venceu o Madrid por 2 a 0 e conquistou a Liga dos Campeões. No ano seguinte, o Real Madrid de Mourinho tirou o título de La Liga, o Campeonato Espanhol, do Barça, mas, em 2016, quando se enfrentaram em Manchester, a rivalidade foi quase inexistente, já que o City de Guardiola terminou 19 pontos à frente do United de Mourinho. Curiosamente, Mourinho declarou que terminar em segundo foi uma de suas maiores conquistas.

  • Manchester City v Feyenoord - UEFA Champions League 2024/25 League Phase MD5Getty Images Sport

    Cobranças individuais e públicas

    Mourinho costumava se gabar de suas conquistas, tanto nos bons quanto nos maus momentos, enquanto Guardiola sempre elogiou seus jogadores. No entanto, agora que enfrenta dificuldades, o catalão tem demonstrado comportamentos semelhantes aos de Mourinho. Por enquanto, faz isso com um sorriso, sem recorrer a atitudes polêmicas como o português.

    Não foi só em Anfield que Guardiola se mostrou reativo. Antes do jogo contra o Tottenham, ele se desculpou várias vezes, dizendo: "Desculpem, pessoal, eu ganhei seis títulos da Premier League." Ele também criticou seus jogadores, algo raro para ele.

    Ao contrário de Mourinho, que adorava ter um culpado, Guardiola tem falado sobre problemas coletivos. Após a goleada de 4 a 1 contra o Sporting, disse que os jogadores "não estavam emocionalmente estáveis", e depois da derrota por 4 a 0 para o Tottenham, falou que a equipe estava "frágil". Será que ele começará a apontar culpados individuais a partir de agora?

    Há duas temporadas, Guardiola criticou Kalvin Phillips e questionou a inteligência tática de Kyle Walker. Phillips nunca se recuperou da crítica, mas, como o City venceu a Tríplice Coroa, isso passou despercebido. Já as críticas a Walker resultaram em uma melhora do jogador, que foi eleito capitão do time. Agora, Walker parece em declínio. Estaria Guardiola seguindo o mesmo caminho?

  • Liverpool FC v Manchester City FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Sinais de frustração

    Nunca é boa ideia subestimar Guardiola. Após uma estreia sem títulos no City, ele conquistou o Campeonato Inglês alcançando os 100 pontos. Depois de perder o título para o Liverpool em 2020, ele levou a equipe a quatro títulos consecutivos, algo inédito em 135 anos do futebol inglês.

    Guardiola sabe como motivar seus jogadores. Suas palestras intensas, capturadas pelos documentários que contam as conquistas recentes do clube, costumam ter o efeito desejado. Mas agora, parece que suas atitudes estão começando a ter o efeito oposto.

    Quando o Feyenoord fez seu primeiro gol em uma reação impressionante para empatar em 3 a 3, Guardiola colocou as mãos na cabeça e ficou assim por 10 segundos. Após o segundo gol dos holandeses, ele começou a aplaudir sarcasticamente os jogadores. Depois do jogo, ele disse: "A primeira vez que algo aconteceu, tivemos problemas." Será que seu comportamento frustrado está prejudicando a confiança da equipe?

  • FBL-EUR-C1-SPORTING-MANCHESTER CITYAFP

    Hora de olhar para frente, não para trás

    Às vezes, métodos que antes funcionavam bem já não têm o mesmo efeito. Isso aconteceu com Mourinho. Sua filosofia de vencer a todo custo garantiu a lealdade de muitos jogadores no Chelsea e na Inter, mas também afastou outros, como no Real Madrid, onde os jogadores, que haviam acabado de conquistar a Copa do Mundo com a Espanha, não se adaptaram. O mesmo ocorreu na segunda passagem pelo Chelsea e no Manchester United, onde suas táticas defensivas desmotivaram a equipe.

    Um sinal de que Guardiola está se assemelhando a Mourinho pode ser visto em sua escalação contra o Liverpool. Ele optou por uma formação defensiva incomum, com Matheus Nunes e Nathan Aké no lugar de Savinho e Josko Gvardiol. Só no final do segundo tempo ele colocou Kevin De Bruyne, Savinho e Jeremy Doku. Mesmo sem dois volantes importantes, Rodri e Mateo Kovacic, e enfrentando o time mais forte da Europa, sua escalação parecia mais uma tentativa de minimizar danos do que uma busca por uma grande vitória.

    Nos últimos dois anos, Guardiola tem adotado uma postura mais cautelosa, utilizando zagueiros nas laterais e jogadores como Akanji, Gvardiol, Aké e John Stones fora de suas posições habituais. Walker raramente avança para o ataque, enquanto Haaland, apesar de dificuldades para marcar contra grandes adversários, é sempre usado como homem de referência. Esse papel de centroavante fixo está cada vez mais raro no futebol moderno, especialmente considerando que Guardiola foi um dos primeiros a jogar sem um atacante central.

    As inovações táticas de Guardiola foram fundamentais para o sucesso do City, incluindo a conquista da Champions League e a hegemonia na Premier League. Porém, agora que o domínio dele está ameaçado, será necessário mais uma revolução na equipe. Para o futuro, Guardiola precisa evitar os erros de Mourinho e olhar para frente, não se apoiar em um passado que já está se apagando.

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