Antes tarde do que nunca, mas Manchester United gastou tempo e dinheiro ao demitir Erik ten Hag somente agora

O vacilo do United já lhes custou uma quantia considerável em compensação extra a Ten Hag em comparação com se tivessem se desvinculado dele na janela do meio do ano. Foi relatado em maio que demitir o holandês, que tinha um ano restante em seu contrato na época, teria custado cerca de 10 milhões de libras (R$74 milhões). Acionar a extensão de um ano e dar a ele um contrato até junho de 2026, portanto, provavelmente elevou esse valor para cerca de 17 milhões de libras (R$ 126 milhões). E isso é antes de considerar o valor que custará para contratar um novo treinador, especialmente um que já esteja empregado em outro lugar.

O United efetivamente jogou fora 7 milhões de libras (R$ 52 milhões) ao postergar por quatro meses uma decisão que deveriam ter tomado durante em junho. Isso pode não parecer muito, dado que o United gerou 662 milhões de libras (R$ 4,9 bilhões) em receita, de acordo com suas últimas contas, mas é uma quantia considerável no contexto do regime de cortes de custos que Ratcliffe implementou desde que assumiu o controle da operação de futebol do clube.

O bilionário fez 250 membros da equipe serem dispensados e até cortou laços com Sir Alex Ferguson, o maior treinador do clube de todos os tempos e a razão pela qual o clube é o gigante que é hoje. Os mais de 50 milhões de reais gastos ao dar a Ten Hag aquele contrato de curta duração poderiam ter pago os salários de dezenas de funcionários. Isso também consome uma parte considerável dos 30 milhões de libras (R$ 222 milhões) que o clube disse que economizaria em dois anos fazendo essas dispensas.

No entanto, os R$ 52 milhões são apenas uma gota no oceano em comparação com a quantia que o time de Manchester gastou na janela passada em jogadores que Ten Hag fez questão em trazer. O clube desembolsou £178 milhões (R$ 1,3 bilhão) na última janela de transferências em cinco novos jogadores, e embora Manuel Ugarte e Leny Yoro pareçam ter sido escolhidos pelo diretor esportivo Dan Ashworth, entende-se que o treinador pediu para ter Noussair Mazraoui e Matthjis de Ligt, ambos que jogaram sob seu comando no Ajax, assim como seu outro holandês: Joshua Zirkzee. O trio custou um total de 95 milhões de libras (R$ 704 milhões).

Zirkzee marcou apenas um gol desde sua transferência de 36 milhões de libras (R$ 267 milhões) vindo do Bologna, e embora tenha contribuído com a assistência para o gol de Casemiro contra o West Ham no domingo, muitas vezes ele pareceu desajeitado e lento quando jogou. De Ligt e Mazraoui têm sido inconsistentes, e é difícil imaginar que teriam sido contratados se um treinador diferente estivesse no comando durante o início da temporada.

A chegada dos ex-Ajax significou que o United gastou 250 milhões de libras (R$ 1,8 bilhão) em jogadores com os quais Ten Hag havia trabalhado anteriormente em Amsterdã. Apenas Andre Onana (admitidamente após um início muito difícil) e Lisandro Martinez tiveram sucesso, com Antony parecendo uma das piores contratações na história da Premier League.

A indecisão do United em relação a Ten Hag também os deixou com menos sucessores possíveis do que se tivessem tomado uma decisão em junho. Mauricio Pochettino, que era muito admirado por Ferguson e foi o principal rival de Ten Hag pelo comando de Old Trafford em 2022, agora é o treinador dos Estados Unidos. Tuchel, que teve conversas avançadas com o clube durante a janela, agora é o treinador da Inglaterra. Roberto De Zerbi estava no mercado, mas desde então assumiu o comando do Marseille.

Julian Nagelsmann também está fora de questão após renovar seu contrato com a Alemanha em abril, quando o United deveria estar elaborando planos para o sucessor do holandês. Xavi se descartou da disputa pelo cargo, pois não quer assumir um novo papel até a próxima temporada. Gareth Southgate também disse recentemente que quer fazer uma pausa após deixar o cargo da Inglaterra.

Graham Potter e Edin Terzic lideram uma lista agora pouco inspiradora de treinadores que estão sem trabalho e poderiam conseguir o cargo. Conquistar um treinador altamente valorizado que está empregado, como Ruben Amorim ou Thomas Frank, será muito mais difícil nesse estágio da temporada, uma vez que seus clubes teriam muita dificuldade em encontrar um substituto e, portanto, cobrariam muito mais em compensação.

Demitir Ten Hag quatro meses após o início da temporada, em vez de fazê-lo em junho, parece ainda mais notável, dado que o United fez nomeações executivas de grande destaque apenas algumas semanas depois de decidir manter o treinador. Omar Berrada começou a trabalhar como o novo diretor executivo do clube em julho, na mesma época em que Ashworth iniciou como diretor esportivo.

Ashworth e Berrada buscaram se distanciar da decisão de manter Ten Hag quando falaram com a mídia antes do jogo contra o Liverpool em setembro, uma vez que ainda estavam em licença de seus papéis anteriores no Manchester City e no Newcastle, respectivamente. Berrada disse: "Em termos de contrato, essa foi uma decisão tomada antes da chegada de ambos. Mas estamos muito felizes com essa decisão. Erik tem nosso total apoio e trabalhamos muito juntos nesta janela de transferências. Vamos continuar trabalhando muito de perto com ele para ajudá-lo a obter os melhores resultados da equipe."

As palavras da dupla soam vazias agora depois de escolherem demitir Ten Hag, e o momento incomum de sua chegada levanta a questão: por que Ratcliffe e Sir Dave Brailsford, diretor da INEOS, não puderam adiar a decisão sobre o ex-técnico do Ajax até começarem a trabalhar? E por que acharam necessário prorrogar seu contrato quando ele ainda tinha mais um ano vigente?

O United queria enfatizar que havia mostrado paciência com Ten Hag e acreditaram que ele poderia fazer o time voltar a funcionar dentro da nova estrutura do clube. Uma fonte disse: "Esta foi uma decisão difícil e equilibrada, mas coletiva e unânime. Queríamos dar a Erik a oportunidade de trabalhar dentro de uma nova estrutura esportiva, mas, em última análise, nem os resultados nem as atuações foram bons o suficiente na última temporada e nesta. Queríamos ter continuidade em um momento de mudança significativa, mas não estamos vendo o ímpeto e o progresso para acreditar que estamos no caminho certo."

Era evidente que o United não estava no caminho certo na temporada passada, já que perdeu 19 jogos em todas as competições. O técnico sempre culpou os resultados e desempenhos dos Red Devils pela crise de lesões da equipe, e quando o United renovou seu contrato, fontes do clube disseram que o número incomum de jogadores no departamento médico era uma das várias circunstâncias que levaram a lhe conceder o benefício da dúvida.

Mas houve pouco indício de que sua permanência no comando iria melhorar a sorte da equipe com problemas de condicionamento físico. De fato, é preciso perguntar se a relutância de Ten Hag em rodar seu elenco foi um fator na onda de lesões que a equipe sofreu nas últimas duas temporadas. O treinador recorreu a essa desculpa cansativa antes do jogo contra o West Ham e depois gritou "injustiça" sobre o pênalti tardio e controverso concedido contra seu time. No entanto, não houve desculpa para sua equipe não aproveitar as chances iniciais no London Stadium e sua ineficiência diante do gol falava de uma crise de confiança entre o elenco. Berrada e Ashworth evidentemente chegaram à mesma conclusão.

"Em última análise, não há desculpas para o nosso desempenho atual. Colocamos tudo que pudemos em prática para desenvolver e não estamos vendo nenhuma melhoria," acrescentou a fonte. "Pela segunda temporada seguida, tivemos um começo ruim na liga e falhamos em vencer nossos primeiros três jogos da Europa League a partir de posições de vitória."

Nenhum comentarista ou torcedor estará criticando a diretoria do clube por se livrar de Ten Hag, e os números falam por si mesmos. O United venceu apenas quatro dos 14 jogos em todas as competições nesta temporada, com uma diferença-3 de saldo de gols no Campeonato Inglês. Eles conquistaram apenas 1,2 ponto por jogo na liga e um por jogo na Europa League, ficando em 14º na primeira e 21º na segunda. O time está muito longe do ritmo para terminar entre os quatro primeiros na Premier League e voltar à Champions League. E, com a forma atual, eles terão dificuldades até para alcançar os playoffs da Europa League.

Se na temporada passada, além da vitória na FA Cup, foi um desastre, então esta campanha está se transformando em uma catástrofe. Ratcliffe e Brailsford, que falam em criar uma cultura de "melhor da classe", realmente deveriam ter percebido isso. Afinal, o United conquistou 1,6 ponto por jogo na temporada passada e terminou com um saldo de gols negativo.

Agora, as mentes pensantes da INEOS e seus novos executivos altamente renomados devem acertar sua próxima decisão e contratar um treinador capaz de transformar o United de um motivo de risada em uma força a ser reconhecida. E sempre que começarem a ter a impressão de que a nova contratação não está funcionando, devem aprender com esse erro caro e agir rapidamente antes que seja tarde demais.