Os alvinegros estiveram muito perto do título brasileiro em 2023. No final das contas, acabaram protagonizando uma das maiores derrocadas na história dos torneios por pontos corridos. E ali ficou difícil evitar o rótulo de “time pipoqueiro”, embora a queda de 2023 seja explicada por inúmeras razões – como dizem, afinal de contas, um avião não cai apenas por um motivo.
O tema 2023 foi abordado ao longo de todo 2024, mesmo quando já desnecessário. Os debates sobre o aspecto mental do jogo, algo importante e válido, foram retorcidos exageradamente para encaixar dentro de uma narrativa criada e alimentada de maneira preguiçosa e/ou maldosa. Vários comentaristas e cronistas se encontraram, de repente, vestindo o uniforme do “Capitão Retrospectiva” (personagem jornalístico do desenho “South Park” que nunca erra em seus comentários pois só comenta o que já aconteceu) avaliando questões psicológicas com a profundidade de uma poça de água em um asfalto liso.
Quis o destino que o maior título da história do Botafogo tenha vindo para acabar com qualquer dúvida sobre aspecto mental ou pipocada. Gregore, um dos melhores meio-campistas da temporada, foi expulso com menos de 30 segundos de jogo na final contra o Atlético-MG, no estádio Mâs Monumental, em Buenos Aires. O favorito para o título da Libertadores mudava de lado naquele momento.
Jogando com menos um por 97 minutos, o Botafogo não apenas evitou que o Atlético-MG de Hulk e Paulinho ganhasse. O Botafogo ganhou por 3 a 1. O resultado, claro, não passa a tensão e a epopeia que foi a partida. A equipe de Artur Jorge abriu 2 a 0 no primeiro tempo, quando Luiz Henrique botou a bola debaixo do braço para marcar um gol e sofrer o pênalti convertido por Alex Telles. Mas logo nos primeiros minutos da segunda etapa, em bobeada rara da defesa, o Galo diminuiu através de uma cabeçada de Eduardo Vargas – que do alto de seus 1,74 metros nem precisou sair do chão.
O gol de empate atleticano parecia questão de tempo, estando em campo com um homem a mais. A virada poderia ser o caminho natural após este eventual 2 a 2. E mesmo que isso não acontecesse, uma eventual disputa de pênaltis teria do lado botafoguense uma equipe com as pernas absolutamente cansadas pela desvantagem numérica – e isso também costuma levar batedores ao erro na marca da cal.
Se o Botafogo levasse o empate, a virada ou perdesse nos pênaltis, não configuraria uma “pipocada” -- do outro lado, afinal de contas, estava o Atlético-MG e o contexto do jogo foi de extrema dificuldade e superação. Mas sabemos como funcionam as narrativas fáceis em tempos de desespero por atenção. De qualquer forma, o Botafogo resistiu até o fim. O mental, o psicológico, a habilidade e a coragem ainda premiaram o time de Artur Jorge com um terceiro gol, marcado por Júnior Santos, nos segundos que antecederam o tão esperado apito final.