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Quem não tem Carlo Ancelotti caça a Copa América com Dorival Júnior: a semelhança do técnico do Brasil com o italiano do Real Madrid

Durante a metade final de 2023, o Brasil se preparou para ter Carlo Ancelotti como técnico da seleção nacional. Seria o retorno de um estrangeiro ao comando da amarelinha após quase 60 anos. Seria. A espera foi em vão. Em dezembro daquele ano, Ancelotti renovou seu contrato com o Real Madrid – onde viria a conquistar mais um Campeonato Espanhol e outra Champions League para a sua coleção – até 2026.

É verdade que, quando o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, revelou o acerto com o italiano, havia muito motivo para desconfiança. De tão confiante, o mandatário mostrou estar completamente perdido ao apontar Fernando Diniz, um dos técnicos mais autorais do futebol brasileiro, como interino enquanto a seleção esperaria tranquilamente por Ancelotti. No estalar dos dedos, o Brasil havia passado um ano inteiro sem ter um treinador efetivo. Bizarro.

Sem o italiano, e pressionado por uma coleção de erros e um caos político na CBF, Ednaldo deve ter pensado, como se estivesse fazendo compras e visse um item lhe ser negado: “me vê o mais parecido, então?” – as aspas aqui são pura licença poética, claro, mas não deve ter sido tão diferente da realidade. Dorival Júnior, que pouco antes havia levado o São Paulo ao seu primeiro título de Copa do Brasil, foi anunciado como técnico da seleção brasileira em 11 de janeiro de 2024. E é com ele que a seleção vai em busca de seu décimo título de Copa América.

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  • Dorival Junior BrazilGetty

    Plano B? Plano C? Não importa...

    “A gente vê o presidente [da CBF] falar aí, não sei se ele entende muito de futebol, mas a gente vê ele falar que ele quer um cara igual o Ancelotti. Paizão, mais sossegado, que ajeita direitinho o lugar, o time e tudo mais. Isso que ele está pensando. Quem é o cara parecido com o Ancelotti aqui no Brasil? Dorival, pô”.

    As aspas acima são de Muricy Ramalho, em entrevista ao podcast Ticaracaticast, ainda na metade de 2023. O então coordenador técnico do São Paulo já imaginava o que poderia acontecer, e não queria nem pensar em perder o treinador do seu time para a seleção brasileira.

    Ao contrário do que o próprio Muricy fez em 2010, quando negou proposta da CBF para seguir em seu clube (naquele caso, o Fluminense), Dorival não conseguiu dizer não. Pouco importava se era visto como Plano A ou Plano B ou Plano C.

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  • Dorival Júnior Flamengo taça Libertadores 2022Getty Images

    Capacidade comprovada

    Longe de ser demérito para Dorival. Se Ancelotti é um dos maiores técnicos da história do futebol, o paulista de Araraquara é um dos melhores do futebol brasileiro nos anos mais recentes. O intenso período no Santos de um então jovem Neymar, em 2010, mas especialmente as temporadas mais recentes com Flamengo e São Paulo – onde conquistou Libertadores e duas Copas do Brasil – são grandes testemunhos de sua capacidade na beira do campo.

  • Dorival Júnior Brasil 2024Rafael Ribeiro / CBF

    Liderança tranquila

    Dizer que o sucesso de Ancelotti é simplesmente baseado em um eventual estilo “Paizão”, apaziguador de egos em um vestiário, é errar feio. O futebol de alto nível vai muito além, pede altas doses de competências, e o italiano tem uma longa lista de decisões táticas para embasar o seu enorme conhecimento de futebol – desde a montagem do meio-campo em diamante no Milan com Pirlo, Seedorf, Gattuso e Kaká até os feitos mais recentes pelo Real Madrid.

    Com Dorival, a situação não é tão diferente assim. Mas também é verdade que ambos possuem um estilo parecido no lado humano, de relacionamento profissional: o perfil sereno, avessos às grandes polêmicas e, sim, também a capacidade para conseguir transitar bem entre as personalidades mais fortes de um vestiário estrelado. Quem não acha isso importante, também erra feio.

    Acima de tudo, são treinadores mais afeitos a se moldarem ao que o elenco lhes oferece do que obcecados por impor um estilo majoritariamente autoral. Um simples exercício: leia as respostas abaixo e adivinhe quem as disse, Ancelotti ou Dorival.

    “São os jogadores que decidem, você pode falar a estratégia que deseja ver eles seguindo, mas eles precisam estar convencidos de que podem seguir este plano. E aí, coisas como qualidade, atitude e comprometimento entram em jogo. O que um técnico pode fazer, é garantir que os jogadores entendam completamente como trabalhar em equipe. Todo time tem sua qualidade, a diferença está onde você aplica esta qualidade, tem que deixar disponível para o time e não para você mesmo”.

    “Em todas as equipes, eu me adaptei à equipe. Nunca chego com sistema pré-estabelecido. Prefiro identificar o tenho à mão e depois empregar um sistema. Números para mim são relativos: 3-5-2, 4-3-3 (...) Quero defender com maior número possível e defender com o maior número possível de jogadores (...) Primamos por ter um futebol vistoso, bem jogado, mas acima de tudo efetivo”.

    Parecido, não? A primeira fala é de Ancelotti e a segunda é de Dorival, mas no exemplo acima dá para imaginar, tranquilamente, um dizendo o que o outro havia dito. O perfil é parecido e o título da biografia oficial de Ancelotti resume bem: liderança tranquila.

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  • ancelotti rodrygoGetty Images

    Um pouco de Ancelotti na Copa América

    No final das contas, mesmo sem Ancelotti o Brasil terá um dedo do técnico italiano na seleção. Ele comanda o Real Madrid e trabalha quase que diariamente com três figuras centrais da equipe canarinho: Eder Militão, Rodrygo e Vinícius Júnior. A ascensão destes três jogadores sob o seu comando, em especial os atacantes, é notável e entra para a longa lista de brasileiros que jogaram o seu melhor sob o comando do italiano – estamos falando de nomes que chegam até Ronaldo Fenômeno e, especialmente, Kaká.

    O ataque do Real Madrid, campeão atual da Champions League, teve Rodrygo e Vinícius Júnior em trocas constantes de posição entre a ponta-esquerda e o papel mais avançado no ataque. Dorival vem utilizando o mesmo funcionamento neste início com a seleção brasileira e tudo indica que esta será a tônica na Copa América de 2024.

    Entre semelhanças e diferenças, não há nada de errado em ser parecido com Ancelotti. Pelo contrário. E se Dorival Júnior tiver sucesso ao longo de seu contrato como técnico do Brasil, no final das contas é o seu nome que ficará na história. Qualidade para isso, no banco e no campo, não falta.

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