Marco Reus, o craque mais azarado da Europa, merecia um final de conto de fadas com o Borussia Dortmund na Champions League

Quando se trata de Marco Reus, há uma tentação compreensível de focar nos aspectos trágicos. Seu nome se tornou sinônimo de adversidade. Para alguns, ele é o grande talento sem sucesso de sua geração, um jogador fantástico impedido de alcançar todo o seu potencial por uma série de reveses.

Há uma década, poucos meias-atacantes eram mais talentosos no futebol mundial. Durante a caminhada do Dortmund até a final da Champions League em 2013, onde ganhou um pênalti na derrota por 2 a 1 para o Bayern de Munique, Reus esteve diretamente envolvido em oito gols, marcando 19 no total em todas as competições. Ele se mostrou ainda mais produtivo na temporada seguinte, marcando 23 tentos em 44 jogos, além de dar mais assistências do que qualquer outro jogador da Bundesliga. Simplificando, não havia melhor jogador na Alemanha naquela época.

"Tenho ele em grande consideração", disse o lendário Franz Beckenbauer no início de 2014. "Ele será a próxima estrela do futebol, essa é a minha opinião. É muito divertido vê-lo jogar futebol."

A Copa do Mundo de 2014 deveria ter sido o torneio definitivo na carreira de Marco Reus. Aos 24 anos, ele estava no auge de suas forças por um dos times mais fortes do futebol internacional. No entanto, enquanto Mario Gotze, seu grande amigo e ex-companheiro de Dortmund, marcou o gol da vitória na final do Maracanã, Reus sequer viajou para o Brasil após sofrer uma lesão no tornozelo no último jogo de preparação da Alemanha.

Devastado, Reus declarou: "Um sonho foi destruído de um momento para o outro." E não seria a última vez.

Apenas dois anos após a amarga decepção de ter perdido a Copa no Brasil, em 2014, Reus ficou de fora da seleção alemã para a Euro 2016, após não se recuperar a tempo de uma lesão na virilha. O técnico Joachim Low lamentou: "Marco tem sérios problemas físicos."

Isso sempre pareceu ser o tema permanente da carreira de Reus, que certa vez admitiu: "Desistiria de todo o meu dinheiro para ter saúde o suficiente para fazer meu trabalho."

Reus participou da Copa do Mundo de 2018 na Rússia e até marcou na vitória sobre a Suécia, mas decidiu desistir da Euro 2020.

“Depois de uma temporada complicada, desgastante, no final, graças a Deus, decidi, juntamente com Joachim Low, não ir à Euro”, escreveu no Instagram. “Essa decisão foi muito difícil para mim porque sempre fico orgulhoso quando posso jogar pelo meu país. Mas depois de um ano muito intenso pessoalmente e de atingir meus objetivos no BVB, tomei a decisão de dar tempo ao meu corpo para se recuperar!”

Infelizmente, mesmo uma abordagem tão sensata para cuidar de si não resolveu seus problemas físicos, pois Reus foi excluído da Copa do Mundo de 2022 devido a outra lesão no tornozelo.

Quando consideramos que Reus tem apenas duas medalhas de campeão da Copa da Alemanha em sua carreira, é difícil não pensar que talvez teria sido melhor jogar em outro time, assim como muitos de seus ex-companheiros de equipe, como Pierre-Emerick Aubameyang, Erling Haaland e Jude Bellingham.

Marco Reus, no entanto, não vê as coisas dessa forma. Para ele, a vergonha não é ter ficado, mas que tantos outros grandes jogadores tenham saído.

“Sempre disse que cada um é responsável pela própria carreira. O tempo voa e você não tem muito dele,” destacou. “Tivemos muitos jogadores aqui com quem poderíamos ter construído uma equipe fantástica, mas, infelizmente, eles fizeram escolhas diferentes e seguiram outros caminhos de carreira."

“Para um jogador como eu, que sempre quer disputar títulos, dói ver os melhores jogadores deixarem o clube porque, infelizmente, não veem que seriam capazes de dar o próximo grande passo aqui. Eu nunca senti que deveria seguir esse caminho só porque outros o fizeram. Eu estava sempre pronto para construir algo novo e enviar uma mensagem às pessoas: 'Vou ficar aqui, não importa o que aconteça!'”

Porém, todas as coisas boas chegam ao fim, e Reus deixará o Dortmund neste verão europeu. Num mundo ideal, ele teria terminado a carreira no clube que torce desde criança, mas, verdade seja dita, provavelmente não fazia sentido para nenhuma das partes nesta fase.

Seu papel sob o comando de Edin Terzic diminuiu bastante nos últimos 18 meses. Reus começou os últimos oito jogos da disputa pelo título da temporada passada no banco, antes de perder a braçadeira de capitão para Emre Can. Nesta temporada, ele só foi titular em uma partida, nas oitavas de final da Champions League ainda em fevereiro.

Houve momentos em que sua frustração apareceu. Afinal, tudo o que ele sempre quis fazer foi jogar. Mas ele se repreendeu publicamente por ficar irritado, lidou com sua decepção e seguiu em frente, como sempre fez.

Quando o Dortmund derrotou o PSG para chegar à final da Champions, ninguém ficou mais feliz do que Reus. Ele entrou como reserva no segundo tempo no Parque dos Príncipes, mas depois comemorou loucamente com os torcedores.

Reus também foi titular nos últimos três jogos do Dortmund na Bundesliga e recebeu a despedida "perfeita" no Signal Iduna Park, marcando e dando assistência em seu último ato diante da Muralha Amarela, depois de comprar cerveja para todos os presentes no estádio.

Tal gesto é típico de um homem conhecido pelo seu trabalho de caridade. Reus doou 500 mil euros para ajudar pequenas empresas em Dortmund a lidarem com o impacto financeiro da pandemia, vale sempre lembrar.

“Ele é um cara incrível, uma lenda viva”, disse o companheiro de equipe Julian Brandt, entusiasmado. “Ele sempre será um dos jogadores que admirei em minha carreira”.

Terzic, por sua vez, ecoou a afirmação de Jürgen Klopp de que não é importante o que as pessoas pensam quando você chega, mas quando você sai, destacando que "a história que dura para sempre é: como você sai? Bem, Marco deixa uma história incomparável para trás."

A história de amor de Reus com o Dortmund chegou ao fim. A final da Champions League 2023/24 foi a oportunidade do camisa 11 enfim conseguir um conto de fadas particular - não que ele queria o foco em si. Ele teria adorado ficar no Dortmund por mais uma temporada, mas já está imensamente grato pela forma como se despediu da Muralha Amarela.

“Estou completamente ciente das decisões que foram tomadas, de que tinha que ser assim”, disse ele.

Apesar da derrota em Wembley, Reus deixa o Dortmund sem arrependimentos. "Não havia razão para fazer as coisas de forma diferente ou para não ser leal ao clube", disse ele. "Valeu a pena fazer todos os sacrifícios. Superar, persistir, nunca desistir e sempre permanecer positivo."

Esse talvez seja o seu legado: o exemplo que deu aos outros. A maioria das carreiras não corre como esperado. Apenas alguns ganham Copas do Mundo e Bolas de Ouro. Para a maioria, o esporte é uma luta constante.

Embora Reus possa não ter alcançado tudo o que se esperava dele após sua primeira aparição pelo Dortmund na final da Champions League de 2013, também em Wembley, o fato de ele ter voltado 11 anos depois diz tudo sobre seu talento e força mental.

Como Matthias Sammer disse uma vez: "Se considerarmos (Lionel) Messi ou Cristiano Ronaldo, que quase não sofreram lesões e jogam futebol a um nível quase dado por Deus há décadas, é maravilhoso, e tenho muito respeito por eles. Mas acredito que as situações pelas quais Marco passou são uma escola para a vida. Nesse sentido, ele é um modelo para muitas pessoas, sempre em frente, sobrevivendo a momentos difíceis, continuando a viver com muita estabilidade e sempre demonstrando grande motivação para o trabalho - esse é Marco Reus."

É precisamente por isso que sua carreira no Dortmund não será definida apenas pelos contratempos que sofreu, mas pelos contratempos que superou.

Marco Reus merecia um final de conto de fadas com o Borussia Dortmund.